domingo, 22 de março de 2015

REP de volta

É sempre um regozijo anunciar um novo livro de Rui Eduardo Paes (REP). Aliás, um não, mas sim dois livros num só: "Bestiário Ilustríssimo II" e "Bala". Em 2012 REP lançou o livro "Bestiário Ilustríssimo" de que dei conta neste post. O trabalho desenvolvido ao longo das últimas três décadas deste crítico e teórico da música é insubstituível. Tem sido um trajecto ímpar na divulgação daquelas músicas ditas mais criativas e inovadoras de todos os quadrantes: rock, jazz, improvisação, erudita contemporânea, electro-acústica, electrónica, pós-rock, etc. Aliás, se o caro leitor tiver curiosidade em conhecer que músicas o REP gosta, basta aceder aqui à lista dos 100 discos da sua preferência.

Com esta edição Rui Eduardo Paes conta já oito livros editados nos últimos 15 anos (o nono chegará antes do final do ano), dando sempre destaque às músicas menos convencionais e àquelas que os jornais habitualmente não falam. O seu vastíssimo conhecimento não se limita à história da música (da clássica às múltiplas vanguardas), mas estende-se também à história da arte em geral, ao cinema, e às teorias sociais, culturais e políticas que servem para contextualizar e explicar fenómenos estéticos determinados. REP escreve com fervor emergente de um jovem que retira enorme prazer pela descoberta de um novo disco entusiasmante, de um novo grupo ou músico que merece destaque. O seu enfoque é sempre o de um teórico que disserta sobre a música como expressão artística, seja em que terreno musical for. Daí que possamos ler nos seus livros referências que podem ir da rebuscada cena de música noise japonesa como das últimas tendências da electrónica cut'n'paste ou das jovens promessas do jazz nacional.

Mesmo que não conheçamos um artista que REP aborda (e há fortes probabilidades de tal acontecer), pela forma entusiasta como o ensaísta escreve, somos levados a googlar para ouvir do que se trata. No meu entendimento, há muito poucos jornalistas musicais nacionais que me conseguem provocar este impulso de querer saber, de querer conhecer, de querer ouvir. Mas a qualidade da sua escrita vai para além da mera recensão de um disco ou de um objecto estético. O seu estilo de escrita é por si altamente estimulante, revelando um notável domínio sobre a língua portuguesa que raia as características da boa literatura. Um estilo que Rui Eduardo Paes cultiva como uma arma contra o habitual cinzentismo e comodismo da crítica de arte em Portugal.
  
Por conseguinte, o valor da sua escrita - mais a mais porque é um "cavaleiro solitário" nesta área - é amplamente reconhecido e fruto de um laborioso trabalho de investigação de anos e anos. O livro que agora edita - dedicado à ideia de "tempo" na arte - continua a desafiar categorizações (é uma "anti-enciclopédia") e a reformular a especificidade formal da crítica musical. Destaque para o "Bestiário Ilustríssimo II" com as suas múltiplas, curtas e diversificadas críticas e discos, artistas, instrumentos musicais, bandas e movimentos (como o grande destaque dado ao Stoner Rock). Já o livro siamês "Bala", com as belas ilustrações de David de Campos, serve de complemento ao outro, num formato mais pequeno mas não menos interessante de reflexão sobre as manifestações artísticas mais interessantes do século XX e XXI.

A edição deste livro "dois-em-um" é da Chili Com Carne e pode ser encomendada aqui.




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