domingo, 3 de fevereiro de 2008

The Jesus & Mary Chain - a herança de um disco


João Lisboa conta no último Expresso que Stephen Merritt, músico, compositor e cantor em distintos projectos - Magnetic Fields, Gothic Archies ou The 6ths - diz o seguinte a propósito do disco "Psychocandy" (1986) dos The Jesus & Mary Chain: "Na minha opinião, desde 1986, não se passou mais nada, as coisas não progrediram, não foi dado qualquer passo em frente. Tudo o que daí em diante aconteceu tinha já acontecido em 1986."
Há um evidente exagero nas palavras de Merritt. Mas há, de igual modo, um fundo de verdade. Passaram 20 anos e não houve assim tantos discos absolutamente originais, a quebrar barreiras na linguagem rock, como este primeiro espantoso álbum dos irmãos escoceses Jim e William Reid. Claro que "Psychocandy" absorveu a estética devedora dos Velvet Underground e de Glenn Branca, com os riffs noise das guitarras e o feedback sujo dos amplificadores. Mas a originalidade do som dos Jesus and Mary Chain advem sobretudo da fusão entre a melodia doce com as batidas minimais e o ruído sónico. Uma pulsão libertária que estilhaçou o conceito vulgar de canção rock e deitou por terra a linha ténue entre o que é ruído e o que é melodia de textuta pop. Os Mary Chain fizeram parte da geração de ouro das bandas de guitarras dos anos 80: Dinaussaur Jr, Rapemen, My Bloody Valentine, Fugazi, Jane's Addiction, Pixies, Sonic Youth, Husker Du, entre outras.
Sobre este disco tenho uma história curiosa. Lembro-me de ter o vinil a tocar no meu quarto e estar um amigo meu pouco conhecedor do rock alternativo em geral e dos Jesus ans Mary Chain em particular. As canções de "Psychocandy" tocavam alto, ruidosas e num frémito de pura energia sónica. De repente, reparo no meu amigo a mexer no equalizador da aparelhagem de som. Perguntei-lhe o que estava a fazer. Respondeu-me: "este disco parece estar estragado, estou a tentar diminuir o ruído". Verídico.
Última curiosidade para dizer que um tema de "Psychocandy" - a belíssima canção "Just Like Honey" - surge no final do filme "Lost in Translation" de Sofia Coppola. na verdade, Sofia Coppola acertou na mouche para documentar, musicalmente, aquele final de filme.

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