terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Stephen Sondheim - a alma de Sweeney Todd


Confirma-se: "Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street", última obra de Tim Burton, é um portentoso objecto cinematográfico. A todos os níveis. Obra gótica (como tão bem nos habituou Burton) repleta de lirismo deliciosamente negro, e muito, muito sangrenta. A fotografia é espantosa, fazendo parecer Londres de finais do século com Gotham City de Batman. O arrojo formal do filme é apuradíssimo, e as interpretações são nada menos do que perfeitas. Claro que, tratando-se de um musical (género em quase total desuso hoje em dia), irá provocar resistência por parte do público menos acostumado. Mas é precisamente na vertente musical que "Sweeney Todd" cumpre todas as expectativas: Stephen Sondheim, o veterano e consagrado compositor do teatro musical americano, revela ser, como muito bem referiu Nuno Markl no seu blogue, o anti-Andrew Lloyd Webber (e dizer isto é atribuir elogios a Sondheim). E isso só significa que Sondheim é um compositor muitíssimo mais original e ousado, que foge como do Diabo da cruz das convenções e regras ortodoxas da composição para teatro. Não é por acaso que um dos melhores colaboradores de Tim Burton, o músico Danny Elfman, reclama como uma das suas principais influências o compositor de Sweeney Todd. Mas não é apenas com este filme que Sondheim se tem afirmado ao longo dos anos - compôs para filmes como "Reds", "Dick Tracy", entre muitas obras musicais apra teatro (e não esqueçamos que Sweeney Todd é baseado numa peça de teatro musical da Broadway).
Johnny Depp e Helena Bonham Carter, os protagonistas do filme de Burton, são actores-cantores que absorvem toda a energia musical de Sondheim e a transplantam para o grande ecrã com uma desenvoltura desarmante. Há momentos absolutamente deliciosos, de puro encantamento musical - mas também visual - com as orquestrações e arranjos de Sondheim a ecoarem pelas ruas escuras de Londres ou na medonha barbearia de Sweeney Todd. Como disse o veterano crítico de cinema do Expresso, Manuel Cintra Ferreira, "Sweeney Todd" é uma obra-prima para ver e rever."
Nota: E pensar que este filme esteve quase a ser encomendado a Sam Mendes (realizador) e a Russell Crowe (actor)!...

2 comentários:

Juom disse...

Infelizmente, não sou capaz de concordar. Digo infelizmente porque sou grande fã da obra de Burton, mas embora lhe reconheça no filme muitas das suas marcas de autor, elas parecem-me menos inspiradas e demasiado presas ao musical original. E toda a trama que envolve Johanna e o marinheiro Anthony passou-me completamente ao lado, em emoção ou qualquer outro interesse dramático. É uma obra que tem vindo a dividir opiniões, e nesse aspecto, percebo perfeitamente porquê.

Cumprimentos cinéfilos.

Gonçalo Trindade disse...

Não esperava que dividisse opiniões por cá... enfim, sou um enorme admirador de Burton, e o teu post ajuda-me a manter as expectativas lá no topo (então com essa comparação de Londres a Gotham City...).