sábado, 31 de maio de 2008

Cidades criativas


O último suplemento Ípsilon do Público (sexta-feira) traz como assunto principal uma reportagem (da autoria do cada vez mais ecléctico jornalista Vítor Belanciano) que deveria ser lida por todos os políticos e agentes económicos de qualquer cidade: a reportagem divulgava a nova teoria da "Era da Criatividade" associada às cidades, defendida pelo investigador Richard Florida, e que está patente nalgumas das mais evoluídas cidades do mundo. Ou seja, o que este ensaísta defende é que, hoje em dia, os critérios para aferir da qualidade e dimensão de uma cidade já não têm tanto a ver com os índices económicos, turísticos ou mesmo culturais. As cidades mais atractivas para os jovens de todo o mundo, aquelas que lideram na dinâmica social e artística, são aquelas que apresentam soluções criativas mais profícuas para a dinâmica social urbana. E não estamos apenas a falar de dinâmica artística realizada em instituições como teatros, óperas ou centros culturais. Estamos a falar dos diversos espaços físicos (interiores e exteriores) da própria cidade, aproveitados como pólos de desenvolvimento de agitação, de iniciativas. Como as ruas, por exemplo. Se em Lisboa existe o exemplo do Bairro Alto e do Chiado como pólos de atracção turística e cultural, em Nova Iorque existe o Soho, em Paris o bairro Marais, em Londres o Brick Lane, em Berlim o Mitte, e por aí fora.
Na reportagem são referidas outras cidades nas quais a dinâmica cultural e artística representam novas formas de identidade urbana: Glasgow, Manchester, Chicago, Estocolmo, Bilbau, Barcelona, Amesterdão. À semelhança do que acontece há uns anos nestas cidades de referência mundial, seria fundamental que os políticos portugueses olhassem para as indústrias culturais como pólos sustentáveis de desenvolvimento do espaço urbano. Ideias criativas de dinamização social e cultural atraem turismo e investimento, rejuvenescendo a vida citadina de bairros, de ruas, de zonas urbanas inteiras. Como refere o arquitecto Tomé Alves: "Durante mais de um século aquilo que distinguia as cidades e lhe atribuía prestígio era uma orquestra sinfónica, museus, uma ópera, uma companhia de ballet. Hoje é preciso muito mais. Uma cidade fervilhante e dinâmica tem que ter espaços alternativos, ao lado de zonas e estruturas culturais de maior visibilidade."

1 comentário:

José Magalhães disse...

Acho interessante essa questão das zonas urbanas criativas. O problema, eu acho, é que esse tipo de espaços não são bem espaços físicos mas sim ambiências, atmosfera, com tudo o que tem de volátil e nebuloso. São normalmente as pessoas dessas zonas que lhes dão essas características.

Contudo, alguém saberá explicar o ajuntamento de pessoas criativas num determinado local, na criação de ambiências e espaços criativos? A verdade é que este tipo de espaços não pode ser provocado de uma forma programática. Tratam-se de fenómenos que são difíceis de definir. Para já é extremamente difícil definir a criatividade de uma única pessoa, quanto mais a de um grupo de pessoas. E mesmo que saibamos que tais pessoas são criativas, o facto de as colocarmos juntas num determinado espaço, não garante o aparecimento de uma tal zona urbana.

São fenómenos efémeros que se geram de forma espontânea, e qualquer tentativa de os controlar e definir, anula-os. Abordar estes espaços de uma forma política centralizada é inútil. O que não significa que estes movimentos não tenham carga política, muito pelo contrário. Se calhar é lá que está a verdadeira política. Talvez a política que interessa esteja exactamente nessas atmosferas nebulosas e difusas que são as relações sociais humanas.

O que a política comum que conhecemos faz,é fazer das nuvens uma pedras contáveis

Para retirar algo desses espaços urbanos, há que respirar o seu ambiente, a sua música, a sua arte, de uma forma directa e participada.

Ah, como Portugal não é só Lisboa, aqui no Porto é de referir a rua do almada ou a rua miguel bombarda ou como exemplos de espaços urbanos alternativos.