segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Que tal uma língua bifurcada?

Há algun dias, a comunicação social fez alarido com a notícia sobre a proibição de tatuagens imposta pelo clube Real Madrid aos seus jogadores. A justificação para este acto de censura prende-se, alegadamente, por questões higiénicas e de saúde. Dias depois, li na imprensa nacional uma reportagem sobre o fenómeno (há quem classifique de moda) cada vez mais crescente de tatuagens nos jogadores a actuarem no campeonato português. Só no FC Porto, há diversos jogadores que ostentam no corpo múltiplas tatuagens das mais diversas índoles, cores e formas. Como a tatuagem está ligada à cultura tribal e guerreira, não me espanta que os desportistas adiram à modificação corporal através da tatuagem. Basta ver que é muito difícil de identificar um jogador de basquetebol da NBA que não tenha diversas tatuagens no corpo (o ícone maior é o jogador Dennis Rodman). A tatuagem representa uma iconografia própria, uma imagem estética que gera identidade, afirmação e uma certa irreverência visual.
Se há uns anos era quase uma ousadia sem remissão um jogador de futebol ostentar tatuagens no corpo, agora é já uma moda instituída (como era o uso do cabelo comprido nos anos 80) que ninguém contesta. Mais do que a cultura da tatuagem que já se introduziu em muitos campos da actividade profissional (isto é, passou de uma cultura underground para uma cultura massificada), o que ainda se torna um assunto tabu, nos dias de hoje, são as modificações corporais dos chamados “modernos primitivos”. De tempos a tempos, surgem novas formas engenhosas e surpreendentes de modificação de uma determinada zona corporal, não sem raro causar choque e estupefacção. Mas não foi por causa disso que não foi criada nos EUA uma Igreja da Modificação Corporal. Implantes ou amputações, alterações radicais da fisionomia (dentes, língua, rosto, pele), suspensão do corpo com ganchos, piercings radicais, são algumas das formas mais recentes de radicalização extrema do corpo, indo até aos limites do conceito de humano e de identidade corporal. Um dos últimos fenómenos de moda de modificação corporal – mais ainda restrito a uma pequena minoria de corajosos – é a bifurcação da língua (bífida), tal e qual uma serpente, ou a implantação de objectos de silicone por baixo da pele.
Os especialistas referem que o corte da língua em duas pontas (só através de cirurgia) é consideravelmente doloroso e requer uma longa recuperação. Já a inserção de formas de silicone debaixo da pele é um procedimento menos complicado, mas não menos impressionante no resultado final. Qual a ideia de quem faz este tipo de modificação corporal? A ideia é produzir efeitos dramáticos e inusitados aos olhos de quem vê. É criar uma identidade alternativa, única e diferente do comum dos mortais. É criar uma nova "espécie de humanos" (como alguns defendem), uns seres híbridos e bizarros, que destronem as convenções da fisionomia natural. E isto já para não falar da fusão entre o humano/biológico e o tecnológico/cibernético, que dá azo a uma maior discussão. Manifestações de cultura urbana contemporânea que vão buscar inspiração a rituais de tribos ancestrais.
Voltando ao tema inicial deste post, agora é só esperar para ver quanto tempo demora a chegar aos jogadores de futebol esta nova tendência de modificação corporal.
Já estou a imaginar o Raul Meireles ou o Ricardo Quaresma, dois adeptos de tatuagens, com uns implantes subcutâneos ou a exibição da língua bifurcada!


7 comentários:

Sérgio Currais disse...

O recurso à cirurgia para fins de estética fútil ou modificação corporal, de índole artística ou para mera afirmação social, é algo que me repugna. Mas isto é a mim, que sou um gajo antiquado…

::Andre:: disse...

"A ideia é produzir efeitos dramáticos e inusitados aos olhos de quem vê."
Não concordo nada. Sou a favor de qualquer alteração desde que a mesma seja para melhorar a nossa auto-estima. Não me imagino com a língua bifurcada, nunca tive vontade de fazer uma tatuagem ou alterar fosse o que fosse, mas a ideia não me repugna.

Unknown disse...

André: também nunca afirmei que a ideia me repugna. Cada um é livre de fazer o que quiser. Apenas constatei os factos desta realidade. Mas que provoca estranheza a quem vê, lá isso provoca...

Anónimo disse...

Só de pensar em beijar este cara arrepio-me....Odeio serpentes e qualquer forma réptil.
Que horror!!!
Aproveito para relembrar Fernando Pessoa.
O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928`
Sem mas,
Cris do Rio

Anónimo disse...

As pessoas transforma a modificação do corpo em um tabu, depois disso ainda tem o preconceito.E uma pessoa que modifica o seu corpo que faz por exemplo bifurcação na língua ela não tem ideia de produzir efeito dramático e nem inusitado.As pessoas que vê assim e as criticam...
Sou a favor da modificação do corpo e sou contra ao preconceito.
Modificação no corpo é até a onde a sua imaginação levar, é até a onde o seu corpo aguentar.

Carlos Mateus disse...

acredito que os implantes seriam um problema para os jogadores de futebol, pois eles podem cair a qualquer momento, e poderia machucar o local do implante facilmente!

Unknown disse...

Onde dá para fazer em portugal?