terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Blitz: a nostalgia online



Era assim o antigo Blitz, antes de se ter transformado na actual revista Blitz (desde há três anos). Foi lançado em Novembro de 1984 e o último número saiu para venda em Abril de 2006. Durante mais de vinte anos, o Blitz foi praticamente o único jornal regular sobre música, cinema e espectáculos (existiram também o Sete, o Êxito e o LP, mas extinguiram-se). Comecei a ler, religiosamente, o Blitz a partir de 1986. Todas as terças-feiras eram quase sagradas para quem, como eu e outros amigos adolescentes, estava sedento de novidades musicais. Habituei-me a ler as entrevistas, as reportagens sobre o movimento rock português (acompanhei o surgimento dos Mão Morta e o auge do Rock Rendez-Vous), as críticas de discos de música alternativa (o top do mítico programa radiofónico "Som da Frente" de António Sérgio), as listas de editoras independentes internacionais, as reportagens sobre os concertos raros para o então panorama português, etc. Habituei-me a ler e a respeitar a escrita jornalística de uma notável geração de jornalistas e críticos musicais: Rui Monteiro, António Sérgio, Manuel Falcão, Luís Maio, Luís Peixoto, Fernando Magalhães, Fred Somsen, entre outros.
Nessa altura, comprava-se o Blitz e de seguida compravam-se os discos referenciados nas distribuidoras Contraverso, Symbiose e Ananana. Era também o tempo - já que Internet ainda era uma miragem - dos célebres "Pregões e Declarações" e de anúncios para troca de música (através de gravações em cassetes áudio). No fundo, os primeiros 10 anos de existência do Blitz, para mim os mais decisivos, foram uma época de verdadeiro culto e de militância, de verdadeira causa à música. Apesar do semanário musical ter passado por altos e baixos (mais baixos que altos nos últimos anos de sobreviência), considero que foi uma ferramenta decisiva e influente para a minha formação musical e para o desenvolvimento do meu próprio gosto ao nível cultural.
A novidade é que, desde há uns tempos, alguém com a nostalgia deste Blitz antigo, resolveu dar-se ao trabalho de digitalizar os primeiros números do jornal e colocar as respectivas páginas online. O projecto designa-se, apropriadamente, "O Velho Blitz", e revela como era o jornal há 20 anos atrás. Se o objectivo é colocar online todas as edições, invejo a hercúlea ambição e paciência ao autor do blogue. Seja como for, mesmo que não passe dos primeiros números, será sempre um serviço público ancorado numa certa sensação de nostalgia por tudo o que representou o Blitz para uma geração.
O velho Blitz.

4 comentários:

Bruce disse...

Ah o jornal Blitz... que recordações que isto me traz...

Ainda me lembro de há uns anos, quando ainda andava no liceu, ir à biblioteca ler as novidades da música.

Isto faz-me lembrar os amigos que nem sempre vejo tanto como gostaria, mas que naqueles dias eram sempre companheiros de leituras rockeiras...

Anónimo disse...

Desde muito nova, não passava sem ler religiosamente o Sete e o Musicalíssimo. O Blitz veio mais tarde. Ouvia sempre o Rock em Stock, programa fundamental para a formação musical e cultual da minha geração. E, claro, o Som da Frente emitido pela Rádio Comercial da autoria de António Sérgio e, nunca esquecendo, 5 Minutos de Jazz do José Duarte, homem de sabedoria imensa e de múltiplas iniciativas.

Rolando Almeida disse...

Xiça, o Blitz faz mesmo parte da minha personalidade, da minha formação e sei lá mais do quê. Realmente era um pequeno luxo, tão precioso de tão raro. As terças feiras eram realmente dias diferentes por causa do Blitz. Confesso que hoje em dia sinto mais conforto com a capacidade que temos de aceder à informação, mas jamais me passará a indelével experiência do Blitz. Creio que ainda devo ter a colecção quase toda na garagem em casa dos meus pais.

Jorge Silva disse...

Recordo-me de fazer autênticas maratonas atravessando a cidade de ponta a ponta, de quiosque em quiosque à procura de um que não o tivesse esgotado.

Recordo-me tambem do carácter alternativo/experimental onde, não raras vezes, surgiam textos/rubricas/entrevistas/críticas a albums e artistas industriais, experimentais e obscuros muito pela escrita do Fred Somsom.

Bela sensação de regresso ao passado que tive ao ler este post...