terça-feira, 25 de maio de 2010

Um clube de vídeo e um quiosque


Ao passear pelo centro da minha cidade apercebi-me da quantidade de lojas comerciais fechadas. Espaços e mais espaços que outrora eram comércio vivo, agora estão votados ao abandono, tornando a cidade mais moribunda e menos dinâmica.
De todas as lojas fechadas, houve duas que me sensibilizaram particularmente: um quiosque de jornais e um clube de vídeo. Ambos já existiam há muitos anos (mais de 20), e foram, para muita gente, fonte de conhecimento, saber e informação.
Era o meu caso. Naquele clube de vídeo aluguei grandes filmes (ainda em formato VHS), depois em DVD, guardando muitas memórias cinéfilas gratificantes. Apesar de já quase não o visitar, foi com alguma consternação que me deparei com o seu encerramento. O encerramento daquele clube de vídeo representa, para mim e de forma simbólica, o fim de uma era de fruição cinéfila.
Já o fecho do quiosque representa algo semelhante: por lá gastei pequenas fortunas em revistas portuguesas e estrangeiras, jornais e colecções. Por lá comprei as primeiras edições do semanário Blitz, do Independente, da revista Kapa, do Se7e, do Expresso, Melody Maker, do New Musical Express, da Premiere, da Cahiers du Cinéma, entre muitas outras publicações que ajudaram à consolidação da minha formação cultural ao longo dos anos. É também um pedaço de vida que morre com o fecho deste quiosque. Parece simples: um clube de vídeo e um quiosque. Coisa pouca nos tempos que correm, mas que tanto significado tiveram para mim.
E eu bem sei que daqui a uns anos, clubes de vídeo serão coisa do passado, e quiosques terão cada vez menos atractivos para as novas gerações. Alguém falou em Internet? Sim, mas ela não explica tudo...
PS - Já escrevi aqui sobre o fim previsível dos clubes de vídeo (neste caso, da cadeia Blockbuster).

10 comentários:

Rui Resende disse...

Lá está, tu próprio o disseste, que já não visitavas o video clube, a não ser raramente. Realmente o mundo mudou para nos dar outras ferramentas. Como em todas as mudanças, há coisas que se ganham e coisas q se perdem. Aqui, o que me parece que se perde (o que se ganha é óbvio) é o contacto físico com as coisas. a magia de pegar num filme, de caminhares ao longo do videoclube para procurares o filme, em vez de teres o mundo na ponta dos dedos como a internet. o mundo esta cheio dessas trocas:

a livrariazinha vs a Fnac
a mercearia vs o supermercado
o videoclube vs o Emule :P
...

eu acredito e espero que sempre haja um pequenino espaço para a mercearia, e o vclube e a livraria. Por exemplo, em Espinho onde vivo frequento regularmente um videoclube bastante completo que parece resistir com sucesso aos tempos modernos.
..lembra-me isto uma frase com que o Orson Welles uma vez terminou um discurso de agradecimento de um prémio:

"...remains not only your obedient servant, but also in this age of supermarkets your friendly neighborhood grocery store."

que sempre haja merceeiros!

Hugo disse...

Tenho o mesmo sentimento que você... aqui no Brasil a maioria da videolocadoras fecharam, inclusive a Blockbuster já saiu da do país e vendeu suas lojas para uma grande rede chamada Lojas Americanas.

Os quiosques por aqui são as bancas de jornais, que ainda sobrevivem mas precisam vender diversos outras coisas além de revistas e jornais.

É uma pena, a internet é ótima, mas não se compara a ler um revista ou escolher um filme no meio de centenas. São prazeres para nós e coisas do passado para os mais jovens.

Abraço

Anónimo disse...

Johnny:
Malta o problema é mais grave do que pensamos, isto de fechar os clubes de video é apenas uma maneira de controlar o "conhecimento do individuo", cada vez mais assistimos a filmes sem pés nem cabeça, o ultimo k me lembro foi o AVATAR, que deu um lucro do caraças logo no primeiro dia, eu vi o filme e comparo-o aos filmes do steven seagal ou do rambo... filmes sem nexo que só passam nas tardes da TVI...
E cada vez mais ha pirataria, e vendem-se pacotes com internet de trafego ilimitado, para sacarmos cada vez mais, e acabar deste modo com os realizadores que pouco ou nenhum apoio têm, como por exemplo Coppola....
Mas felizmente nem tudo é mau, ainda há blogues como este, que nos permitem debater ideias sobre verdadeiros filmes.
e também este http://myonethousandmovies.blogspot.com/ onde podemos vê-los...

desculpem kklr coisa...

Back Room disse...

É um fenómeno que se verifica um pouco por toda a parte. Deixa-nos a perguntar, que futuro?

Erzsébet disse...

Tenho boas lembranças quanto a isso yambém... Lembro-me de ficar às tardes em um video clube apenas olhando os títulos e as imagens que ilustravam as capas. Conhecia pessoas nesse vai e vém entre os setores; fazia-se muitos amigos assim. Hoje em dia quase não vejo um,o mesmo para as lojas de disco. Perto de minha casa agora só há uma, pequena e bem alternativa. Tenho que recorrer às livrarias que temo que acabem também...

Ricardo disse...

São sinais dos tempos. Hoje em dia, vai-se buscar a cultura a outros sítios.

Antigamente não era tanto um mar de rosas como dizes - lembro-me em como, há coisa de uma década, antes do advento do DVD, estava a ter uma data de dificuldades em arranjar filmes do Hitchcock - mesmo em VHS.

PortoMaravilha disse...

Isso é problemático, mas não um drama.

Não existe um espaço público que ofereça o mesmo , contra uma assinatura anual ( por exemplo ? ).

A biblioteca da minha cidadezinha esta alargando os leques de oferta , quer em jornais, cds ( dvs vão chegar ), para fazer frente ao desaparecimento desses pequenos mercados.

É complexo e não há soluções milagrosas. Porque há que pensar o contexto e pedido no âmbito desse mesmo contexto

Nuno

Unknown disse...

ola vitor
tive a mesma sensação de pesar quando soube do encerramento do clube de video,eu ainda lá ia regularmente,fazia parte!
lembro-me muito bem quando o meu pai me comprou o video sanyo vhs...alugar um filme era algo mágico,especialmente numa cidade pequenina,pequenina onde quase nada acontecia!quando o filme rattle and hum dos u2,lá chegou,eu aluguei-o por um mês!obrigado vitor por teres partilhado!
tila hewson

Luis Baptista disse...

É o desenrolar dos tempos, acabam muitas coisas boas, boas livrarias, boas discotecas, bons clubes de video, a internet, tem culpa, tbe, todos nós tbem e por aí adiante, alguem frisou num comentario anterior, os maus filmes que se fazem, eu diria que prefiro um rambo que já é mau a um Avatar, que é do pior que já vi.Acho que em muitos sentidos a raça humana está em período de Involução.

PortoMaravilha disse...

Avatar um mau filme ? Lol!

Já entrou nos estágios de cultura e aprendizagem cinematografica Francesa. E quando se sabe a aversão que os profs de cinema fr e a critica fr tem pelo cinema americano ( exceptuando W Allen ) é dizer.

Avatar é já mitologia.

E sem querer ser mau , Avatar pela simbólica, pela síntese, quer da história do cinema quer da evolução e do questionamento actual da humanidade, que apresenta, já há muito ultrapassou o seu criador.

Nuno