Um dos géneros musicais mais radicais e revolucionários da segunda metade do século XX foi o industrial (que muito me marcou na adolescência). A música industrial correspondia ao espírito mais insurrecto e alternativo dos músicos pouco satisfeitos com o rumo político e social da sociedade, muito ligada à arte, literatura e filosofia mais subversivas: desde Marquês de Sade a Nietzsche e Lautréamont, de William S. Burroughs a Philip K. Dick, do Surrealismo ao Futurismo. Nascida nos finais dos anos 1970, a música industrial conciliou uma grande fusão de tendências e estilos. Desde a música electrónica mais experimental e vanguardista (música concreta e electro-acústica), ao noise-rock, à energia da No-Wave e do Krautrock (rock vanguardista alemão).
Um dado novo veio revolucionar a cena musical: a música industrial socorre-se da parafernália mecânica e tecnológica das fábricas decadentes, própria das sociedades modernas. Ou seja, usa as ferramentas dessas fábricas como instrumentos musicais para fazer música: bidões metálicos, martelos pneumáticos, serras eléctricas, utensílios fabris diversos com efeitos sonoros originais, etc. A música industrial era ideologicamente pessimista, crítica da sociedade actual, avessa à fama e ao dinheiro. A sonoridade era compatível com estas características, com uns grupos mais radicais e extremos do que outros, mas todos com vontade de subverter as normas convencionais da música com muito ruído à mistura. Os músicos e bandas deste estilo preocupavam-se com a criação de sonoridades abrasivas, com efeito de choque sonoro imediato, de grande e extrema amplitude estética.
Grupos como Throbbing Gristle (na imagem), Cabaret Voltaire, SPK, Test Dept, Click Click, NON / Boyd Rice, Clock DVA, Z'EV, In The Nursery ou Klinik definiram um género de culto que só teria decréscimo criativo a partir da segunda metade dos anos 90. Um grupo alemão irrompeu em força no panorama industrial nos anos 80: Einstürzende Neubauten, colectivo de músicos radicais liderados pelo carismático Blixa Bargeld. Tive a oportunidade de os ver ao vivo em Lisboa há 22 anos e foi uma experiência arrepiante (voltam agora para o próximo festival NOS Primavera Sound).
Tudo para dizer que agora surgiu, finalmente, um documentário que tenta explicar o nascimento e evolução deste peculiaríssimo e alternativo género de culto: "Industrial Soundtrack For The Urban Decay", no qual muitos dos nomes citados são entrevistados.
Eis o trailer.
E eis uma brevíssima e concisa explicação do que é a música industrial.
2 comentários:
Grande Victor! Concordo em tudo com este post e revejo me bastante nele....excepto no que diz respeito aos Clock DVA e aos Klinik, esses não eram industriais mas sim um misto de electrónica e EBM...
abraços melómanos!
Olá João Paulo.
Também concordo com os Clock DVA e Klinik, mas a verdade é que eu só os citei porque estão incluídos no documentário.
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