sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Dissecando "Control"

Os extras de um filme em DVD são sempre muito úteis para quem quiser compreender melhor as múltiplas vertentes da concepção de um filme: entrevistas aos actores e realizador, "making of", cenas cortadas, finais alternativos, e comentário áudio são as principais características dos extras. Há quem não tenha paciência para ver um comentário áudio porque implica visionar de novo o filme para ouvir as explicações do realizador sobre a feitura do filme. Não é o meu caso. Vejo sempre o comentário áudio do realizador porque ajuda a perceber determinados pormenores, curiosidades e opções estéticas do realizador.
Ontem vi os extras do filme "Control" de Anton Corbijn (pronuncia-se "Ánton Corbaine"). E no meio de muitos outros pormenores e curiosidades, fiquei a saber o seguinte:

- Sam Riley
(que interpreta Ian Curtis) passou várias noites em clínicas de cura de epilepsia para melhor compreender os sintomas e detalhes da doença.
- A cena final de Deborah Curtis (a actriz Samantha Morton) a gritar desesperadamente na rua quando se apercebe do suicídio de Ian, foi uma das primeiras cenas a ser filmadas. Corbijn revela que Samantha Morton revelou grande domínio emocional para interpretar esta difícil cena logo no início das filmagens.
- A maior parte dos figurantes que constituem a assistência dos concertos dos Joy Division são verdadeiros fãs actuais do grupo, recrutados pelo realizador em vários sites de devoção à banda de Ian Curtis. Este facto tornou mais exigente a interpretação de Sam Riley, uma vez que os figurantes eram verdadeiros fãs do grupo e não meros figurantes.
- Numa das cenas finais de um concerto dos Joy Division (quando interpretam a canção "DeadSouls"), vê-se na primeira fila do público a filha de Ian Curtis, Natalie Curtis, vestida de punk, numa simbólica homenagem ao pai.
- O filme foi filmado em película a cores e só depois transferido para preto e branco em formato 35m, uma vez que o preto e branco inicial tornava-se demasiado granulado.
- Devido à formação de fotógrafo de Anton Corbijn, o próprio assume que o filme parece mais como uma sequência de fotografias do que propriamente uma montagem de planos em movimento (há de facto uma grande predominância de planos fixos).
- As cenas do interior da casa de Ian e Deborah foram filmados em estúdio devido à exiguidade da verdadeira casa, na Barton Street de Macclesfielfd.
- Os actores que interpretam os vários elementos da banda aprenderam a tocar os instrumentos em apenas 2 meses (só o actor Joe Henderson sabia tocar guitarra, mas ainda assim teve de aprender a tocar baixo para encarnar Peter Hook).
- A guitarra eléctrica branca que Sam Riley segura aquando da filmagem do videoclip "Love Will Tear Us Apart" é a mesma guitarra que Ian Curtis tocou no videoclip original.
- As letras do genérico do filme piscam (como uma lâmpada fraca a ascender aos soluços). A ideia foi criar uma analogia com os sintomas da epilepsia.
- Não se vê no filme (sente-se, porém), mas Ian Curtis teve um ataque de choro compulsivo logo após o nascimento da sua filha Natalie - acontecimento que viria a agravar a sua depressão.
- A namorada de Tony Wilson que surge no filme é Gillian Gilbert, mais tarde teclista dos New Order. No filme é interpretada pela gerente da empresa de Anton Corbijn.
- Anton Corbijn assistiu na realidade a um dos ataques de epilepsia de Ian Curtis e foi o fotógrafo que documentou o videoclip "Love Will Tear us Apart".
- O realizador refere que foi ele quem escolheu as canções dos Joy Division no filme. A mítica canção "Love Will Tear us Apart" ouve-se em "Control" quando surgem os primeiros sinais de ruptura entre Ian e Deborah. Corbijn menciona que é uma canção óbvia para essa situação, mas também o seria para qualquer outra, uma vez que o filme aborda, essencialmente, o tema do amor e da sua degenerescência (pessoalmente concordo com a opção).
- Os três músicos dos actuais New Order (Hook, Moris, Summer) praticamente não contribuíram em nada para o filme e nem se encontraram com os actores que os interpretam. No entanto, gostaram muito do resultado final.
- Apesar de ser moda no final dos ano 70 a colocação de posters e cartazes nas paredes dos quartos, a dado momento, Ian Curtis tirou todos os posters dos seus ídolos (Jim Morrison, Iggy Pop) e pintou as paredes com um azul celeste.
- O fumo negro a sair da chaminé do crematório do cemitério foi colocado digitalmente.
- O argumentista de "Control" encontrou-se durante um dia com a amante de Curtis, a belga Annick Honoré, para recolher informação para o filme.
- Grande parte das filmagens foram realizadas na cidade de Nottingham, uma vez que se parece mais com a Manchester do final dos anos 70 do que a Manchester actual.
- As actrizes Samantha Morton (Deborah Curtis) e Alexandra Maria Lara (Annick Honoré) foram as únicas actrizes que nunca se encontraram nas filmagens.
- Segundo Corbijn, Ian Curtis nunca revelou claramente para onde pendia a sua relação amorosa. Na verdade, quer Deborah quer Honoré, ambas reclamam a paixão que Ian nutria por elas.
- Apesar de Ian Curtis ter mantido uma relação amorosa com Annick Honoré, esta afirmou ao argumentista do filme que nunca tiveram relações sexuais.
- Apesar de ter sido um filme com baixo orçamento e sobre um músico que se suicida de um grupo como os Joy Division, Anton Corbijn revela que nunca imaginou que "Control" viria a ser um sucesso de público e de crítica.
(...)

6 comentários:

Anónimo disse...

O mobbing dos remediados

Tenho dado conta, pelos comentários que tem deixado nestas páginas, da presença assídua de um aficionado da prática do blog hopping. O termo refere-se precisamente à navegação compulsiva de uns blogues para outros, com o único propósito de ler e/ou deixar comentários. Neste caso, o/a autor/a utiliza uma linguagem do tipo demencial, apresentando notórias deficiências ao nível da sintaxe e da ortografia. Além disso, assina sempre com nomes diferentes. Porém, o tipo de linguagem denuncia uma origem unipessoal e esquizóide. Trata-se de uma espécie de mobbing muito comum nas caixas de comentários. Promovido por pessoas a necessitarem urgentemente de cuidados ao nível da saúde mental. Ou então, podiam usar um dístico na testa, como uma vez observei numa t shirt: "estivemos um bocado mal, mas agora estamos todos curados. obrigado." Seja como for, neste blogue ficarão à porta.

Anónimo disse...

Vi e gostei do "Control". Fiquei a conhecer algo mais dos Joy Division/Ian Curtis.
Tenho pena de não ter conseguido ver o documentário/filme do Grant Gee.
Chegou a ver? Se sim, o que achou?

Unknown disse...

Não, por acaso ainda não vi o documentário do Grant Gee.
VA

Unknown disse...

Ok

Anónimo disse...

Eu acredito que o Gil era o melhor Poeta que conheci. E que não deixe de o ser. A vida é cheia de instâncias e de estâncias. Os nossos melhores poetas esconderam quase sempre a sua face. Hoje, às 7da manhã, à Igreja escorrendo humidade onde vou todos os dias, cumprimentei um vagabundo e ele respondeu-me com cortesia, a cortesia que não se vê nas pessoas com emprego. Foi este mendigo que um dia me disse quando lhe ia a dar uma esmola" Obrigado. Hoje não preciso". Com isto quero dizer que aquilo de que a História falará, os jornais e a Televisão, nem fazem a mínima ideia.

Maria disse...

A cena da Deborah a gritar na rua é das mais arrebatadoras do filme, e com aquele 'Atmosphere', é o absoluto.

Por outro lado, a cena em que o Ian escreve a letra do 'Love will tear us apart' acho que particularizou demasiado a música. Achei na altura, algo prevesível.

E tem piada que as actrizes nunca se tenham cruzado nas gravações ahah.