quinta-feira, 30 de abril de 2009
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O que disseram antes de morrer
No mítico filme "Citizen Kane" ("O Mundo a Seus Pés", 1941) de Orson Welles, estes lábios de Charles Foster Kane (interpretado pelo próprio Welles), diziam a última palavra antes de morrer: "Rosebud". Palavra enigmática que abre a primeira obra de Orson Welles e que seria a chave para toda a história do filme. Esta última palavra de Charles Foster antes de morrer fez-me lembrar outras frases famosas de personalidades que, momentos antes da morte, proferiram determinadas frases ou palavras que ficaram para a posteridade. Eis alguns exemplos:
"Aplaudam, amigos, a comédia acabou"
Ludwig van Beethoven
"Eu nunca deveria ter trocado de Scotch para Martini"
Humphrey Bogart
"Estou chateado com tudo isso"
Winston Churchill
"Raios! Nem se atreva a rezar a Deus por mim"
Joan Crawford (para a empregada)
"Levem estas freiras idiotas para longe de mim."
Norman Douglas
"Eu vejo uma luz negra!"
Victor Hugo
"Quando a música acabar, apaguem as luzes"
Adolf Hitler
"Bebam a mim!"
Pablo Picasso
"Morrer é facíl, comédia é difícil"
George Bernard Shaw
"Harmonia"
Arnold Schoenberg
Terry Gilliam e os vírus
A ficção científica e o cinema já destruíram - ou ameaçaram destruir - dezenas de vezes a humanidade através de epidemias e vírus mortais à escala planetária. Um desses filmes é "12 Macacos" (1995) de Terry Gilliam, tenebrosa visão de um futuro negro e devastador. Gilliam mostra a Terra depois de um letal vírus ter vitimado cinco biliões de pessoas. Em "12 Macacos", Bruce Willis e Brad Pitt tentavam sobreviver num mundo praticamente dizimado pelo turbilhão viral. À época do lançamento do filme, em 1995, a referência imediata e óbcia era o vírus HIV. E agora com o medo instalado com o vírus h1n1 ("gripe suína" ou "mexicana"), que filme faria hoje Terry Gilliam?...
A luz instantânea de Tarkovski
E volto a Andrei Tarkovski.
Desta vez, para dar conta de uma exposição na Corunha - na Fundación Luis Seoane - dedicada ao trabalho fotográfico do realizador (a imagem diz respeito à entrada da galeria de arte). Consta que o cineasta russo se fazia acompanhar, para onde quer quer fosse (mesmo durante as filmagens), de uma máquina fotográfica Polaroid. Está publicado um livro com a maior parte das suas fotografias, mas esta exposição pretende ser mais abrangente, uma vez que contempla 80 imagens captadas por Tarkovski durante a primeira metade dos anos 80 (morreu em 1986).
A exposição, patente ao público até final 31 de Maio, tem como título "Luz Instantânea", e é complementada com uma instalação audiovisual sobre o realiador de "Stalker". Quem conhece o cinema de Tarkovski sabe que a fotografia e a luz eram elementos fundamentais da sua linguagem artística. E é curioso verificar nestas simples polaroids, a sensibilidade visual do cineasta, em conformidade com a qualidade plástica dos seus filmes.
Mais informação sobre a exposição aqui.
Mais informação sobre a exposição aqui.
terça-feira, 28 de abril de 2009
29 anos sem Hitchcock e o livro que falta editar
No dia 29 de Abril de 1980 morria Alfred Hitchcock. Há 29 anos...
O realizador de "O Homem Que Sabia Demasiado" e de tantas outras obras geniais, foi um dos mais singulares e coerentes cineastas de sempre e a sua herança artística manifesta-se, ainda hoje, em inúmeros filmes e realizadores. Ainda ouviremos falar muito de Hitchcock este ano, quando se comemorar, no próximo dia 13 de Agosto, o centésimo aniversário do seu nascimento. E ainda aguardo, pacientemente, que seja editado no mercado português o livro das entrevistas que o realizador francês François Truffaut fez a Hitchcock nos anos 60.
Hitchcock era visto - sobretudo nos Estados Unidos - como um cineasta mediano e comercial. No entanto, para Truffaut e para os jovens realizadores e críticos franceses da revista "Cahiers du Cinéma", Hitchcock era considerado como um dos maiores cineastas de todos os tempos, ao lado de nomes como Jean Renoir, Federico Fellini, Ingmar Bergman e Luís Buñuel. Com o objectivo de modificar a opinião dos críticos americanos, Truffaut propôs ao cineasta inglês que respondesse a quinhentas perguntas sobre a sua obra e carreira. Nesta extensa conversa, Hitchcock comenta detalhadamente os seus métodos de criação, falando sobre a concepção de cada obra, a elaboração do argumento, as inovações e os problemas técnicos, a relação atribulada com os actores. Uma verdadeira lição de cinema, portanto.
Lançado originalmente em 1967, a edição do livro "Hitchcock/Truffaut: Entrevistas" contemplava a produção de Hitchcock até ao filme "Cortina Rasgada" (1966). Para a edição definitiva, de 1983, Truffaut acrescentou um capítulo com os últimos anos e filmes do cineasta - feito com base na correspondência trocada entre eles. Para quando a edição imperiosa desta obra em Portugal?
"A minha sorte na vida foi ter sido uma pessoa realmente assustada. Eu sou um sortudo por ser um medroso, ter um baixo limiar de medo, porque um herói não pode fazer um bom filme de suspense."
Alfred Hitchcock
Os Boyle
Vida de Susan Boyle pode transformar-se em filme. E que tal o realizador Danny Boyle para realizador? O apelido de ambos é igual e a história de vida da cantora-agora-estrela-planetária era matéria que o realizador de "Slumdog Millionaire" não desdenharia...
segunda-feira, 27 de abril de 2009
O remake impensável
Escreva-se: heresia! Há objectos intocáveis. Um dos filmes de culto mais amado pelos cinéfilos é o notável "Videodrome" de David Cronenberg. Ora, acontece que a Universal pretende fazer um "remake" deste filme protagonizado por James Woods em 1983 (na imagem). A informação divulgada conta que "a readaptação do filme vem modernizar o conceito, havendo a possibilidade da nanotecnologia, transformando-o num thriller de ficção científica." Já imagino um filme de acção cheio de efeitos especiais e muita tecnologia cibernética à "Matrix", desvirtuando a essência da obra-prima de Cronenberg de forma a aproximá-lo do grande público das pipocas. O que estranha é o interesse de uma grande produtora comercial de filmes como a Universal numa obra tão radical como "Videodrome" de Cronenberg...
Na verdade, nada que não espante, tal como já tinha referido neste post no qual abordada a febre dos "remakes" de Hollywood.
O novo filme e o jornal pela manhã
Eu fico deprimido quando leio o jornal pela manhã. Há uns anos, ao falar com Ingmar Bergman, disse-me que nunca lia o jornal logo de manhã, porque isso arruinava-lhe o resto do dia inteiro. E realmente, quando te levantas de manhã e lês todas aquelas histórias terríveis, uma atrás da outra... Tu tens que estar nalgum sítio em meia hora, os teus filhos berram e tens que os levar à escola, quando depois de ler o que leste o teu corpo te pede para apanhar o primeiro avião para o Darfur no intuito de mudar alguma coisa. Por isso fico deprimido e aborrecido o dia todo.
Woody Allen
O resto da entrevista, a propósito do seu novo filme, aqui.
Béla Tarr - O cinema ainda é uma arte
Bastam estes 2 minutos e 32 segundos para confirmar a imensa criatividade estética do realizador húngaro Béla Tarr, quanto a mim, um dos maiores cineastas vivos em actividade. No seu último filme, "O Homem de Londres", extraordinária reflexão existencial tendo como base uma história policial de Geroge Simenon, Béla Tarr encena uma inesquecível viagem à alma de uma homem perturbado por dúvidas morais.
O rigor asceta dos movimentos de câmara, a mise en scène depurada, a belíssima fotografia a preto e branco e os longos planos-sequência a que nos habituou Béla Tarr, faz-nos acreditar que o cinema ainda não perdeu a aura de linguagem artística. Para além de um magnífico realizador, Tarr sempre deu especial atenção à música nos seus filmes. E nesta sequência percebemos a excelência formal do seu trabalho. Sabemos que quando a música participa da narrativa da película e faz parte do universo dos personagens, é considerada "música diegética" (como quando um personagem, numa cena, toca piano, ou está a ouvir música).
A música "não-diegética", por seu lado, é aquela que é dirigida ao público, ou seja, não faz parte da cena, o personagem não a ouve nem reage à ela, porque é apenas dirigida ao espectador (a banda sonora por si mesma). Ora, o que Béla Tarr faz nesta sequência (que começa uns minutos antes do que aqui vemos) é surpreender totalmente o espectador. Para perceber o que digo é preciso ver a sequência na íntegra e ouvir em alto volume: os personagem estão ao balcão de um bar e ouve-se música (acordeão).
Julgamos que se trata de música da banda sonora do próprio filme, mas não é assim. Béla Tarr joga com os sentidos do espectador. A câmara move-se suavemente - sem cortes de montagem - até ao casal que está na outra parte do balcão, para depois centrar-se, num plano fixo, numa acordeonista que estava a tocar no bar! Esta parte final é incrivelmente surreal, com os velhos a dançar com a cadeira na cabeça ao som do acordeão melancólico da tocadora. Pura magia em imagens e sons numa espantosa manifestação de cinema.
Paranóia massificada à escala global
Depois da paranóia da doença das vacas loucas – que ia dizimar o planeta; depois da paranóia da gripe das aves – que ia dizimar o planeta (dizia-se que em Portugal a estimativa de mortes seria de 10 mil); depois da pneumonia atípica - que ia dizimar o planeta, chegou agora a gripe suína que, provavelmente, vai dizimar o planeta. O panorama é assustador: morreram algumas dezenas de pessoas no México, há umas dez infectadas nos EUA e mais 20 ou 30 suspeitas de infecção em dois ou três países. Ah, e há já uma pessoa em Espanha infectada – será por causa dela que quatro hospitais centrais do pais estão em alerta permanente. Estes fenómenos ameaçadores para a saúde mundial são mais do que suficientes para que a comunicação social dar o alarme (é esta a palavra certa) ao mundo inteiro para o caos e a tragédia que se vão abater sobre a Humanidade. Durante os próximos dias continuaremos a ouvir a comunicação social a debitar o seu terrível discurso apocalíptico (encoberto, sim, mas apocalíptico).
Tal como a paranóia global que se abateu com a gripe das aves, continuaremos a ser manipulados pela informação exagerada e levada aos extremo do sensacionalismo. É certo que irão morrer algumas pessoas com a doença (tal como se morre - e muito - de gripe “normal”) mas a epidemia (ou pandemia, ou lá que é) que as autoridades e a televisão ameaçam ser credível e que vai matar milhões, não vai acontecer, e daqui a algumas semanas já ninguém se lembrará do que foi isto da gripe “dos porcos”. Mas a paranóia global e o medo opressor, à boa maneira da visão apocalíptica de Aldous Huxley ou H.G Ballard, estão já instalados no seio das sociedades de todo o mundo. Como diria Marlon Brando no final de “Apocalipse Now”: “O horror, o horror…”.
domingo, 26 de abril de 2009
Música Laroca
Óptimo disco.
Laroca é o nome do projecto de um duo de músicos ingleses (um pianista e um flautista), com dois álbuns já editados (este é o terceiro). Que música fazem? Não conheço os dois trabalhos anteriores, mas este "Valley of The Bears" é uma estimulante mistura de sonoridades globais: jazz, flamenco, ritmos de funk, hip hop, chill out, afro-beat, tango, bossa nova, blues, drum'n'bass e electrónica. Sim, esta fusão de estilos já não é propriamente original, mas ainda assim, os Laroca têm atributos que não devem ser menosprezados. Excelente banda sonora para os dias de crise que se vivem. Para descarregar o disco, aqui.
30 anos de "Manhattan"
E no dia 25 de Abril de 1979, há precisamente 30 anos, o mundo conhecia essa obra-prima de Woody Allen, "Manhattan". Uma belíssima homenagem a Nova Iorque, com uma sublime fotografia a preto e branco (de Gordon Willis) e com a música eterna e esplendorosa de George Gershwin a pontuar os cenários da grande cidade.
Nomeado para dois Óscares da Academia em 1979, e considerado um dos mais perfeitos trabalhos de Woody Allen, "Manhattan" é um retrato tocante e fiel das relações modernas tendo como cenário a alienação urbana. Com diálogos memoráveis e um argumento extremamente bem delineado, este filme de Allen mantém-se, ainda hoje, como um incontornável fresco sobre a cidade que ama e sobre a imprevisibilidade das relações humanas. Inesquecível.
Nomeado para dois Óscares da Academia em 1979, e considerado um dos mais perfeitos trabalhos de Woody Allen, "Manhattan" é um retrato tocante e fiel das relações modernas tendo como cenário a alienação urbana. Com diálogos memoráveis e um argumento extremamente bem delineado, este filme de Allen mantém-se, ainda hoje, como um incontornável fresco sobre a cidade que ama e sobre a imprevisibilidade das relações humanas. Inesquecível.
sábado, 25 de abril de 2009
Um outro 25 de Abril - um hino inspirador
No dia 25 de Abril de 1792, o oficial militar e compositor Claude-Joseph Rouget de Lisle, escrevia a letra e a música do hino nacional francês. "A Marselhesa", título pelo qual ficou conhecido o hino da pátria gaulesa, é uma dos mais belas e patrióticas composições em louvor da liberdade, da igualdade e da fraternidade (como ficou conhecida a trilogia de valores da Revolução Francesa).
Exactamente 182 anos mais tarde da criação do hino francês, num país periférico, fechado sobre si mesmo, oprimido e amargurado, decorria a Revolução dos Cravos, auspiciosa no derrube do regime Salazarista. Por certo que os militares que decidiram destronar a ditadura, não tiveram em linha de conta a coincidência da data com a data da criação da "Marselhesa". Mas hoje acaba por ser uma coincidência feliz e simbólica constatar que os princípios que nortearam a Revolução do 25 de Abril em Portugal, tenham tido muito a ver com a defesa dos valores da democracia e da liberdade constantes, quase duzentos anos antes, numa letra e numa música mais inspiradora do que muitos tratados políticos ou filosóficos.
Na imagem: Claude-Joseph Rouget a cantar em casa do presidente da câmara de Estrasburso, no dia 26 de Abril de 1972. Pintura de Isidore Alexandre Augustin Pils.
Tarkovski em forma de festival
Andrei Tarkovski (1932 - 1986), cineasta particularmente apreciado e abordado por aqui, é um dos mais estudados e analisados realizadores de sempre. Basta efectuar uma rápida pesquisa na internet para perceber isso mesmo. Sobre o autor de "Stalker" organizam-se conferências em todo o mundo e são publicados centenas de livros, biografias, ensaios e dissertações (não apenas no campo da estética cinematográfica, mas também no campo da análise religiosa, filosófica, artística e literária). Tarkovski será, também, um dos poucos realizadores mundiais que tem um festival de cinema só dedicado à sua obra. É na sua Rússia natal (Ivanovo), e vai já na terceira edição. O nome deste festival de cinema é o título de um dos mais belos filmes de Tarkovski, "Zerkalo" ("O Espelho", 1976): Internactional Film Festival "Zerkalo", cujo site pode ser acedido aqui. O III festival de cinema "Zerkalo" vai acontecer nos dias 28, 29 e 30 de Maio, e contará com especialistas mundiais na obra do realizador russo, bem como inúmeras outras iniciativas para homenagear a arte do cineasta.
Há muitos sites dedicados a este grandioso esteta das imagens, mas o mais completo e actualizado, que eu conheça, é o site espanhol andreitarkovski.org.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
A Alice na visão de Tim Burton
Primeira imagem divulgada do novo filme de Tim Burton, "Alice no País das Maravilhas". a jovem actriz Mia Wasikowska , de 18 anos, interpreta Alice, nesta prometedora adaptação cinematográfica da obra de Lewis Carroll. Uma adaptação que, nas mãos visionárias e criativas do realizador de "Big Fish", poderá revolucionar a já complexa e surreal obra do escritor inglês.
A angústia
Ontem, num debate sobre o livro e a leitura (no âmbito da comemoração do Dia Mundial do Livro), um orador disse que a maior angústia de um leitor apaixonado é a de ter consciência de que, por mais anos que viva, jamais conseguirá ler todos os bons livros que gostaria de ler. Esta sensação é tanto mais verdadeira quanto entramos numa grande livraria (em dimensão e qualidade) e nos deparamos com dezenas (centenas, milhares) de bons livros que ansiávamos ler mas que, por factores económicos e de falta de tempo, nunca conseguiremos ler. Se acontece isto com os livros, acontece comigo, exactamente na mesma proporção, com a música e o cinema. Entrar no site da Criterion é uma angústia porque perante tamanha qualidade da oferta de filmes em DVD, dificilmente conseguirei adquirir todos os que gostaria.
O mesmo quando entro na Fnac e me deparo com o suculento escaparate de DVDs clássicos e de autor. No campo da música, apesar do facilitismo de acesso à informação na Internet, a angústia prevalece porque não há tempo para ouvir tudo o que gostaria de ouvir e conhecer (tenho largas dezenas de discos à espera de lhes por os ouvidos em cima). Em suma: se quiséssemos ter satisfação plena em relação às coisas da fruição do espírito, teríamos de viver muitas vidas. E mesmo assim, ficariam milhares de livros por ler, milhares de discos por ouvir, milhares de filmes para ver. Aprendamos a viver com angústia, portanto.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Dia do livro (queimado)
"Fahrenheit 451" (1966) - François Truffaut.
Baseado numa obra de Ray Bradbury, este filme é sobre um sinistro comando de bombeiros que, numa futura sociedade totalitária, se dedica apenas a destruir (pelo fogo, pois claro) todos os livros existentes no mundo. Aterradora metáfora política e social sobre o aniquilamento do conhecimento, do espírito crítico e da liberdade humana.
O filme de Truffaut pode ser visto aqui.
Kutiman - dar outra vida ao YouTube
No mundo digital da internet, a criatividade pode surgir dos sítios mais inesperados. A cultura da colagem e da montagem de fragmentos sonoros é já uma prática comum no mundo da música electrónica. Mas houve alguém que, pegando neste conceito de “corta-e-cola”, teve uma ideia luminosa (ainda que não seja totalmente original): vasculhar o interminável arquivo de vídeo do YouTube para reconstruir a seu bel-prazer esse mesmo arquivo (o projecto chama-se “ThruYou”). Ou seja, o tipo, que se diz chamar Kutiman, remistura pedaços (samples) de vídeos musicais caseiros (desde donas de casa a cantar a crianças a tocar djambés) e remonta-os para criar algo de novo, uma música nova. O interessante é que Kutiman explora um duplo trabalho criativo: a montagem de vídeo e a montagem de música, tudo num rigoroso complexo de sincronia entre imagem e som.
Daí que a sua máxima seja “What you see is what you ear”. Nem mais. O resultado visual e musical é deveras fantástico e dá para imaginar o trabalho hercúleo de Kutiman para encontrar, no meio de milhões de vídeos do YouTube, os pedaços que devem encaixar uns nos outros, como num puzzle gigantesco. É, pois, um trabalho de pura relojoaria sonora e visual. E para quem quiser saber de onde sacou Kutiman os vídeos originais, no final de cada vídeo, surge a lista “Credits” (às vezes com 20 ou 30 origens diferentes!) com o link do vídeo completo do YouTube de onde o artista retirou o sample. O site de Kutiman pode ser visto aqui, com mais exemplos de trabalhos da sua autoria. Eis, então, dois exemplos da criatividade de Kutiman:
"ThruYou" é um projecto inspirado, por exemplo, neste pioneiro e fantástico trabalho de Holger Hiller.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
No Dia Mundial do Livro
Este dia 23 comemora-se o Dia Mundial do Livro. E que voltas que o livro está a dar!
Já lá vai o tempo em que era preciso um editor e um distribuidor para conseguir vender livros. desde há um ano, o portal de auto-edição online espanhol, Bubok.es, permite aos autores editarem, gratuitamente, em formato físico e electrónico, as suas obras e vendê-las online. Seja literatura, investigação, ensaio, livros técnicos, tudo o que se queira. Sem censura nem condicionalismos. O Bubok.es é um caso sério de sucesso que está a começar a abalar e a redefinir as regras do mercado do livro em Espanha (e não só).
Neste primeiro ano de funcionamento, registaram-se 16 mil utilizadores, foram publicados 8 mil livros, vendidos 24 mil títulos em papel e o dobro em formato electrónico. Nos EUA já existia um portal similar (mais abrangente que o Bubok): Lulu.
Resumindo: paralelamente às novas formas de edição e distribuição potenciadas pela Internet, novos desafios se impõem nos hábitos de leitura do consumidor, e novos formatos (e-book) vão vingar no mercado. Revolução à vista, portanto.
Woody Allen: o regresso a Nova Iorque
Hoje estreou, no festival de cinema Tribeca de Nova Iorque (criado pelo actor Robert De Niro), o novo filme de Woody Allen, "Whatever Works" (na imagem, Allen com o humorista e actor Larry David). Era o desejo de muitos fãs do realizador: o regresso de Woody Allen à sua cidade de sempre (após um périplo de cinco anos na Europa): Nova Iorque e o bairro de Manhattan. Os jornalistas que já visionaram o novo filme de Woody Allen garantem que se trata do regresso à boa forma no registo de comédia do realizador, e que explora um novo olhar sobre a cidade que o consagrou como cineasta e actor. Pena que ainda tenhamos que esperar alguns meses até poder ver "Whatever Works" numa sala de cinema portuguesa.
Os pobres dos esqueletos escorraçados
A exposição "Bodies", mundialmente conhecida e vista já por milhões de pessoas em todo o mundo, que mostra cadáveres dissecados em actividades desportivas dos "vivos" (e que passou há algum tempo por Lisboa), foi obrigada a fechar por ordem de um tribunal francês (país onde estava em exposição actualmente). Ao que consta, por terras do sr. Sarkozy existe uma nova lei que regula o modo de actuação com cadáveres e esqueletos, o que vai obrigar muitos museus a retirar esqueletos em exposição pública. Parece mentira, mas não é. O juiz afirma que a exposição representa uma falta de respeito pelos mortos e que "Bodies" não é uma exposição de arte, mas sim uma exposição anatómica educativa. Pergunto eu: assim a modos como o quadro "A Origem do Mundo" de Gustave Courbet?
terça-feira, 21 de abril de 2009
Três cores - três grandes filmes
Trilogia das Cores (da bandeira francesa) - "Azul", "Branco" e "Vermelho"
Realização de Krzysztof Kieslowski.
Três cores, três conceitos, três filmes e três (grandes) actrizes francesas.
1 - "Azul" (1993), cor da Liberdade: é um filme sobre a perda, dor, distância, austeridade. Juliette Binoche é uma mulher que perde o marido e a filha num brutal acidente de automóvel.
2 - "Branco" (1994), cor da Igualdade: uma tragicomédia sensível e com vinganças inesperadas pelo meio. A actriz Julie Delpy é uma jovem insatisfeita que se divorcia do marido com resultados insuspeitos...
3 - "Vermelho" (1994), cor da Fraternidade: é um filme sobre a importância da amizade, da tolerância, da vida como viagem errática. Vemos a notável actriz Irène Jacob confusa e desorientada após o atropelamento de um cão na estrada...
2 - "Branco" (1994), cor da Igualdade: uma tragicomédia sensível e com vinganças inesperadas pelo meio. A actriz Julie Delpy é uma jovem insatisfeita que se divorcia do marido com resultados insuspeitos...
3 - "Vermelho" (1994), cor da Fraternidade: é um filme sobre a importância da amizade, da tolerância, da vida como viagem errática. Vemos a notável actriz Irène Jacob confusa e desorientada após o atropelamento de um cão na estrada...
Magistral.
A capa
A imagem mística
Que imagem é esta? Um mero postal místico de teor "new age"? Uma imagem de uma corrente espiritualista ou religiosa qualquer? Não. Trata-se, simplesmente, da primeira imagem tornada pública referente ao próximo filme do realizador Peter Jackson, que só terá estreia em Portugal no início de 2010. O filme tem por título "The Lovely Bones" e sobre ele já falei, há quatro meses, neste post (suscitou-me a curiosidade uma vez que a música é do Brian Eno e o argumento é uma adaptação do livro homónimo da escritora Alice Sebold).
Henry - Retrato de um Assassino
É um filme de uma visceralidade invulgar e incontida. Um filme frio (gélido), cerebral, meticuloso, feroz, amoral. A violência é mostrada como um acto tão comum e simples como comer. A morte e a violação são instrumentos tenebrosos de satisfação sexual de Henry (impressionante Michael Rooker, na imagem), personagem baseada no real e sinistro assassino em série Henry Lee Lucas. Um filme que provoca repulsa e fascínio em doses iguais.
“Henry - Retrato de um Assassino” (1986), do então debutante realizador John MacNaughton, é um dos mais perturbadores filmes sobre serial killers jamais feitos. E por ter sido um filme com baixo orçamento, realizado com actores inexperientes e censurado devido à sua violência gráfica e ao argumento sem concessões sentimentalistas, este filme tornou-se num verdadeiro fenómeno de culto a nível mundial.
Conta-se que no final da estreia do filme, na qual estava presente o realizador, um espectador profundamente perturbado com o que tinha visto, foi ter com John McNaughton insurgindo-se contra a violência do filme dizendo: “o senhor não pode fazer isto: deixar um assassino em série escapar desta maneira, sem punição, sem resolução moral, sem castigo!”. Ao que o realizador respondeu: “bem, pois foi o que fiz”. E é esta frieza absoluta perante o mal que incomoda tantos espectadores, tanto mais que os acontecimentos perturbantes do filme são baseados em factos reais. É que são raros os filmes nos quais o crime povoe todo o filme e não haja o respectivo castigo, tão habitual em produções de hollywood (mesmo em filmes de terror mais alternativos). Neste filme, castigo é uma palavra proibida. É a banalização do mal absoluto que se mostra, o instinto mais animalesco e macabro, tal como ocorre na vida real. Uma verdadeira viagem aos confins negros e violentos da mente humana.
Para quem ainda não viu e quer atrever-se a ver, pode descarregar o filme neste sítio.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
O meteorito
Afinal a televisão ainda gera fenómenos interessantes. A escocesa Susan Boyle, apesar de não ter a aparência jovial e snob de uma Ana Free (cuja popularidade foi obtida no YouTube e só depois passou para a televisão), a cantora desconcertou meio mundo e criou um verdadeiro fenómeno a nível planetário em poucos dias. E agora, qual meteorito que passou da televisão para a internet, é vista por milhões de pessoas no YouTube, numa sofreguidão louca.
A sua pose desleixada e longe dos cânones de beleza actuais contrastou, dramaticamente, com a sua possante e exímia capacidade vocal. Em dois ou três dias a comunicação social explorou o acontecimento e provou que o talento de artista não se pode medir pela aparência e humildade (o contrário é o que existe mais: cantores com muito bom aspecto, jovens e presunçosos, com qualidades artísticas iguais a zero). Só que o exagero mediático dado a este caso pode produzir efeitos nefastos para a própria Susan Boyle, que até já tem uma entrada na Wikipedia mais extensa do que muitos artistas... consagrados. É obra.
The Velvet Undergound em dose dupla
Uma das bandas mais influentes de sempre, constituída em 1965, continua a suscitar interesse, hoje em dia, por parte do público e dos jornalistas. The Velvet Underground, a banda mítica de John Cale e Lou Reed, apadrinhada por Andy Warhol e pela sua "Factory", revolucionou o rock letárgico da década de 60, com uma visão vanguardista do som e da palavra.
Já se editaram muitos livros sobre os Velvet Underground, mas nunca são demais as novas obras que se publiquem e tentem explicar todo o fenómeno artístico e musical do grupo. Estas são as capas dos dois próximos livros de referências sobre a banda: "The Velvet Underground: An Illustrated History of a Walk on the Wild Side" e "The Velvet Underground" (este último com o contributo do ex-presidente da República Checa, Vaclav Havel). Ambos vão ser editados apenas em Setembro e Outubro de 2009, mas já há muita gente a fazer a pré-reserva de compra. Compreende-se a urgência.
Duas notas sobre este dia
Nota 1: 20 de Abril de 1999. Há dez anos ocorria o massacre do Liceu Columbine. Dois jovens, de 17 e 18 anos, Eric Harris e Dylan Klebold, entraram pela escola munidos de armas de fogo automáticas, bombas e facas. De forma aleatória e durante uns infernais 49 minutos de ataque feroz, foram assassinados 12 estudantes. Partindo deste massacre, Michael Moore viria a realizar um documentário polémico sobre a violência e o mercado liberalizado de armas nos EUA, “Bowling for Columbine” (2002), e Gus Van Sant o magnífico "Elephant" (2003).
Nota 2: Há 120 anos, também no no dia 20 de Abril de 1889, nascia Adolf Hitler. Existem indícios de que os dois jovens que perpetraram o massacre de Columbine escolheram o dia 20 de Abril para assinalar o nascimento do líder nazi (em 1999, passavam 110 anos). E hoje mesmo – não será mera coincidência - os serviços portugueses de segurança alertam para o crescimento do Partido Nacional Renovador (conotado com a extrema-direita) e o movimento neo-nazi em Portugal (sobretudo do grupo extremista e violento “Hammerskin”).
Nota 2: Há 120 anos, também no no dia 20 de Abril de 1889, nascia Adolf Hitler. Existem indícios de que os dois jovens que perpetraram o massacre de Columbine escolheram o dia 20 de Abril para assinalar o nascimento do líder nazi (em 1999, passavam 110 anos). E hoje mesmo – não será mera coincidência - os serviços portugueses de segurança alertam para o crescimento do Partido Nacional Renovador (conotado com a extrema-direita) e o movimento neo-nazi em Portugal (sobretudo do grupo extremista e violento “Hammerskin”).
domingo, 19 de abril de 2009
Morreu o "retratista da psicologia do futuro"
Morreu hoje, aos 78 anos, o escritor James Graham Ballard, mais conhecido apenas como J.G. Ballard. Apesar de toda a vida ter mantido uma postura distante face ao mundo literário e social, Ballard ficou mundialmente célebre pelos livros "O Império do Sol" (1984), adaptado ao cinema, em 1987, por Steven Spielberg e "Crash" (1973), levado ao grande ecrã pela mão de David Cronenberg em 1996. Recusava dizer que os seus livros eram livros de ficção científica, preferindo dizer que eram um "retrato da psicologia do futuro".
Nunca li nenhum livro de Ballard, mas como cinéfilo, o seu nome ficou-me para sempre na memória devido a essas duas magníficas obras cinematográficas com base em livros do escritor: "O Império do Sol", protagonizado por um Christian Bale ainda criança, sobre os dramas da segunda Guerra Mundial, e sobretudo, "Crash", esse pungente, controverso e inclassificável thriller sobre a relação entre o erotismo extremo e os acidentes de automóvel.
Subscrever:
Mensagens (Atom)