quarta-feira, 31 de março de 2010

Auto-retratos de Warhol



Quando era adolescente comprava tudo o que encontrava de Andy Warhol: postais, biografias, livros de pintura e até filmes realizados pelo próprio.
Fascinava-me a sua personalidade, a sua obra artística única que marcou a arte pop, a sua Factory nova-iorquina, pela qual passaram tantos artistas de tantas áreas, assim como a sua ligação à música (via The Velvet Underground).
Uma das características mais marcantes no trabalho de Andy Warhol foi o auto-retrato. E ao longo da sua carreira há inúmeros exemplos de serigrafias, fotografias e pinturas cujo objecto é o próprio artista. Julgava que já conhecia todos esses exemplos. Enganei-me.
Ou, pelo menos, não me recordo de ter visto esta série de auto-retratos intitulada "Self-Portrait in Drag" (Polaroid), de 1980 (a primeira imagem) e 1981 (a segunda imagem), e que faz parte do espólio do The Andy Warhol Museum de Pittsburgh.

terça-feira, 30 de março de 2010

Perguntas indiscretas - 26

Se fossem um actor ou uma actriz de qualquer época ou género, e apenas vos fosse possível interpretar um papel num filme, qual seria esse papel e esse filme?
Começo eu: teria sido Travis Bickle (Rober De Niro) em "Taxi Driver".

Animusic

A Animusic é uma empresa americana especializada em animação 3D digital e criação de música MIDI. Até aqui nada de novo, uma vez que há centenas de empresas do ramo a trabalhar nesta área de investigação/criação. O que torna a Animusic única é o resultado do seu trabalho: criações visuais e musicais surpreendentes, de grande refinamento estético e nas quais a música desempenha (ao contrário do habitual) o papel principal.
Ou seja, as animações digitais da Animusic exigem um elaboradíssimo e moroso trabalho de concepção visual, montagem, pré-produção e produção, de forma a que o resultado seja desafiante para os sentidos. O imaginário criado, os ambientes virtuais, os instrumentos bizarros que produzem sons, os músicos robotizados e a sincronia perfeita entre música e imagens, torna os trabalhos da Animusic únicos no panorama audiovisual contemporâneo.
Esta empresa editou até à data dois DVD contendo compilações dos melhores momentos (eu tenho o primeiro, lançado em 2004, e podem ser adquiridos na Amazon).
Veja-se este exemplo de criatividade:
No Youtube encontram-se outros exemplos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Bresson, Tarkovski e Welles juntos

Esta sequência é uma preciosidade histórica e um momento raríssimo. No Festival de Cannes de 1983, três génios do cinema encontram-se no mesmo palco: Orson Welles (como apresentador), o francês Robert Bresson e o russo Andrei Tarkovski. Repare-se na forma como Welles apresenta o prémio para o último filme de Bresson ("L'Argent"). Não só não o cumprimenta como nem sequer olha para ele. E a reacção do público? Uma indescritível mistura de palmas e... assobios. Depois, entra Tarkovski a receber um prémio pelo magnífico filme "Nostalgia". Orson Welles já cumprimenta o realizador russo. Teria o cineasta de "Citizen Kane" mais admiração por Tarkovski do que por Bresson?
Tarkovski dirige-se ao microfone apenas para dizer um seco "Merci Beaucoup" (fazendo lembrar o também seco "thank you" de Hitchcock quando recebeu o seu único Óscar).
Bresson e Tarkovski nutriam grande admiração mútua e, ao que consta, foi a única vez que estiveram juntos. O realizador de "Stalker" morreria apenas 3 anos depois deste evento, logo após ter terminado o filme-testamento "O Sacrifício". O cineasta francês viveria até 1999, mas nunca mais conseguiu realizar nenhum filme. No fim, ao saírem do palco, Bresson puxa pelo braço de Tarkovski, numa manifestação clara de companheirismo e respeito.

Da passerelle ao palco de Shakespeare

Sempre me meteu confusão o facto de modelos sem qualquer formação ou experiência teatral passarem para a profissão de actrizes com uma facilidade inaudita. Parece que o único critério para os realizadores ou encenadores é a beleza das modelos e a sua capacidade de atrair público. Nem vale a pena dar exemplos, porque os há aos pontapés.
Neste capítulo, a novidade é que Kate Moss, a supermodelo dos anos 90, vai passar para o palco das grandes produções teatrais e logo para interpretar um papel na peça clássica "A Tempestade" de William Shakespeare. A notícia foi avançada pela edição digital do "Daily Mirror" que também informa que o convite partiu directamente do actor Kevin Spacey, encenador da pela teatral. Kate Moss terá aceite porque, confessa, "quer abrir os seus horizontes, esperando que esta primeira experiência como actriz seja o início de uma nova carreira", pelo que já começou a receber (à pressa, calcula-se) aulas de interpretação para o efeito.
Aposto que Woody Allen já tem debaixo de olho a actuação de Kate, para uma eventual participação num futuro filme seu.

domingo, 28 de março de 2010

Lavagem a seco


"Psycho" (1960) foi filmado a preto e branco porque Alfred Hitchcock temia que a cena do brutal assassinato no chuveiro se tornasse demasiado chocante com o vermelho do sangue (agora pode parecer quase inofensivo aos olhos do espectador actual, mas em 1960...). Mesmo assim, as reacções a esta cena geraram controvérsia. Consta-se que, na altura da estreia nos EUA, Hitchcock recebeu uma carta de um pai enfurecido, dizendo que a sua filha, apavorada, se recusava a entrar no chuveiro, após ver o filme. Acusava o realizador de ser o culpado. Hitchcock respondeu sugerindo ao pai que levasse a filha a fazer uma lavagem a seco. Humor negro, tipicamente hitchcockiano.

A morte de Pasolini, 35 anos depois


O realizador italiano Pier Paolo Pasolini foi barbaramente assassinado (por espancamento) há 35 anos em circunstâncias nunca esclarecidas. Há explicações contraditórias: as autoridades dizem que o autor do crime foi um jovem que tinha como motivo assaltar o realizador, outras fontes sugerem ter-se tratado de um homicídio premeditado com motivações políticas. Devido a estas incertezas e num afã de descobrir a verdade dos factos, passadas três décadas e meia, o Ministro da Justiça italiano veio a público manifestar o seu desejo que o caso da morte de Pasolini seja reaberto e investigado.
Pasolini foi um dos realizadores (e intelectuais) europeus mais controversos e provocadores, com os seus filmes esteticamente desafiadores das normas e com as críticas à religião, à política e à burguesia. Morreu de forma brutal e inesperada, sem que tivesse havido uma investigação aprofundada e esclarecedora. Pode ser que agora se consiga saber a verdade sobre a morte misteriosa do autor de "Édipo Rei".

Momentos e Imagens - 61


William S. Burroughs e Joe Strummer

sábado, 27 de março de 2010

As votações do Imdb.com


Todos os cinéfilos conhecem o site The Internet Movie Database, porventura o melhor site sobre cinema de toda o espaço virtual (há o allmovie.com, mas não tem informação tão detalhada e abrangente). Ora, no imdb.com podemos consultar várias listagens dos melhores filmes em várias categorias - por géneros, por décadas, por realizadores, etc.
A lista dos 250 melhores filmes de sempre - votada pelos cibernautas - revela algumas curiosidades: em primeiro lugar do top está o filme "Os Condenados de Shawshank" e, logo de seguida, "O Padrinho" de Francis F. Coppola. O filme de Frank Darabont é um bom filme, mas merecerá o primeiro lugar da lista dos melhores filmes de sempre? Claro que não (pelo menos na minha óptica). Isto quando constatamos que existem muitas obras-primas listadas para lá do centésimo lugar. Basta constatar que o magistral "Eduardo Mãos de Tesoura" de Tim Burton figura no... último lugar da tabela (250ª posição)!
Para cada filme existe uma votação que vai de 1 valor (péssimo) a 10 valores (excelente). Se analisarmos com atenção estas votações, não deixa de causar perplexidade alguns dados. Pegando no exemplo do filme que está em primeiro lugar do top, com uma média de valores 9,1, vemos que há 286 mil cibernautas que votaram na nota máxima (10), mas também houve 16 mil que votaram na nota mínima (1).
Para pegarmos no filme supostamente mais consensual da história do cinema - "Citizen Kane" de Orson Welles (classificado num modesto 33º lugar): há pelo menos 4,578 cinéfilos que detestaram o filme cilindrando-o com nota 1. O mesmo acontece com o "Pulp Fiction" de Tarantino (5ª posição), película que regista 10,250 detractores que atribuíram a pior nota possível (isto se não contarmos com os que atribuem nota 2, 3...).
Estas votações não têm, obviamente, validade científica e rigorosa, vão flutuando ao longo do tempo e do sabor das modas. São classificações feitas pelos espectadores, de todas as idades e formações, muitas das vezes até, aleatoriamente. Mas não deixam de ser sinais interessantes sobre a forma como se interpreta um filme.
Conclusão apressada: mesmo perante supostas obras-primas irrefutáveis da 7ª arte há sempre quem as considere obras medíocres, seja por que motivos for. Percebemos que em arte não existem consensos e unanimismos totais e absolutos. O que prevalece é a subjectividade do olhar, a diferenciação de fruir um dado objecto artístico. O que gera estas discrepâncias críticas relativas a um mesmo fenómeno artístico (seja cinema, pintura ou literatura)? A formação cultural do espectador? As suas referências no mundo da arte? A sua capacidade de análise e de discernimento?
Creio que Georges Braque resume esta problemática quando refere: "Na arte só uma coisa importa: aquilo que não se pode explicar."

Aguenta-te, Dennis


É uma imagem comovente: segundo os últimos relatos, o actor de culto Dennis Hopper encontra-se em estado terminal devido ao cancro da próstata de que padece há vários meses. Esta fotografia mostra o actor de "Veludo Azul", de 73 anos, com a sua filha Galen de 6 anos, na homenagem no "Passeio da Fama" em Hollywood. Um Dennis Hopper extremamente fraco, magro e convalescente. Que consiga recuperar e voltar às suas actuações memoráveis no cinema é o que se deseja.
Sobre este actor rebelde foi publicada uma biografia da qual escrevi aqui.

quinta-feira, 25 de março de 2010

56 segundos de poesia visual

Há quem diga que esta é a melhor sequência alguma vez filmada em cinema (plano-sequência, para ser exacto). Faz parte do filme "O Espelho" (1975) de Andrei Tarkovski. E não é que eu estou tentado a concordar? Se não é a melhor cena filmada da história do cinema, poderá ser, pelo menos, da riquíssima filmografia do realizador russo.
Basicamente passa-se isto: a câmara desliza por entre a habitação, sorrateiramente, captando os mais subtis movimentos de objectos e crianças, pára e move-se em situações cirúrgicas da cena, até se centrar no belíssimo plano fixo do incêndio. Luz, cor, sombras e sons compõem uma sequência única. E tudo filmado em apenas 56 segundos de mestria visual absoluta.

O fotógrafo X-Ray


Não é um fotógrafo convencional. Também não é um artista plástico ou um cineasta. Nick Veasey é um pouco de tudo isso. E faz fotografias ímpares a partir de radiografias, porque revela um lado da imagem que não estamos habituados a ver. É o próprio que diz: “Vivemos num mundo obcecado com imagens. Qual é a nossa aparência, como são as nossas roupas, casas, carros… Gostaria de contrariar essa obsessão pelo superficial tirando as camadas e mostrando o que está por baixo da superfície.”
É assim que o fotógrafo britânico se descreve, no trabalho que realiza com radiografias.
Nick Veasey começou a fazer fotografias "X-Ray" por brincadeira, mas rapidamente se dedicou com grande seriedade e rigor profissional. Isto porque, para este tipo de fotografias existe uma grande dose de complexidade, dado que as radiações são perigosas, as dificuldades técnicas imensas, a logística complexa, a investigação constante, e as experiências falhadas também são muitas.
Ainda assim, o trabalho persistente deste fotógrafo que expõe o que está "por baixo da superfície" das coisas mais banais do quotidiano (pessoas e objectos) revela uma percepção do mundo que, de outra forma, nunca poderíamos visualizar.

Discos que mudam uma vida - 100


Kubik - "Metamorphosia" (2005)
(o disco nº 100 tinha de ser especial)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Genealogia do rosto feminino no cinema


Sobre os rostos no cinema haveria muito a dizer. Rostos femininos e masculinos. Desde que Carl Dreyer, no final do período mudo, filmou o rosto expressivo de Maria Falconetti (na foto) em grandes planos no filme "A Paixão de Joana D'Arc" (1928) que a imagem da mulher na Sétima Arte nunca mais voltou a ser a mesma.
A seguir a Falconetti, muitas outras actrizes contribuíram para o glamour da sétima arte, as tais divas que falava uns posts mais abaixo: De Greta Garbo a Marlene Dietrich, de Katherine Hepburn a Ingrid Bergman, de Sofia Loren a Charlize Theron, de Brigitte Bardot a Nicole Kidman.
Na sequência que se segue, maravilhosamente montada com a técnica "morphing", surgem dezenas de rostos de actrizes famosas pelo talento, mas também pela incrível fotogenia e beleza plástica. São imagens de mulheres que fizeram a história do cinema desde o período mudo até aos nossos dias.
Curiosamente, esse sofrido e expressivo rosto de Maria Falconetti não surge contemplado nesta montagem. Falha grave.

Perguntas indiscretas - 26

Corresponde à verdade a ideia segundo a qual o animal de estimação preferido dos artistas (escritores, músicos, actores...) é o gato?

Edward Albee

Sophie Kerr

Peter Lorre

John Cassavetes


John Cage


Raymond Chandler


Truman Capote
Jack Kerouac

terça-feira, 23 de março de 2010

Joy Division, 18 de Dezembro 1979

No próximo dia 18 de Maio assinalam-se 30 anos da morte de Ian Curtis, o cantor, poeta e alma atormentada dos Joy Division. Foram poucos os concertos fora de Manchester que os JD deram. Como se sabe, o grande salto para o esperado estrelato seria dado no dia 19 de Maio de 1980, quando a banda se preparava para fazer uma digressão pela América. Porem, Ian Curtis interrompeu esse sonho...
Ora, exactamente 5 meses antes do fatídico acto de Ian Curtis (18 de Dezembro de 1979), os Joy Division tocaram ao vivo em Paris. Esse registo foi gravado e agora revelado aos fãs - pelo menos eu só agora tive acesso a esta gravação (já conhecia outras ao vivo da banda, mesmo quando ainda se chamavam Warsaw). É um registo de concerto rude, cru, austero, com um alinhamento onde encontramos quase todos os grandes temas da banda de Manchester. Nalguns temas a voz de Curtis parece que se esvai e enfraquece, noutros parece que explode de raiva incontida, à beira do precipício.
Seja como for, "Les Bains Douches" é um documento precioso para fãs dos Joy Division. Descarregar aqui.

Akira 'Google' Kurosawa


Bela homenagem feita pela Google no centenário do nascimento do realziaor nipónico Akira Kurosawa.

Dvdgo.com - A falência lenta


A crise manifesta-se, cada vez mais, no mercado de DVD. Depois do fecho da gigante Blockbuster, é a vez das lojas online começarem a fazerem promoções para combater a fraca procura. Refiro-me, especificamente, à loja de venda online dvdgo.com, porventura uma das grandes lojas de venda de DVD europeia (pelos menos ibérica é de certeza). Houve tempos (há uns anos) em que comprava muitos filmes nesta loja, sobretudo edições clássicas raras e de autor, que não existiam no mercado português (tem uma boa e e diversificada secção de cinema clássico).
No tempo áureo, nos anos 2001 a 2004, raramente havia promoções de preços ou outras. No Natal havia um dia de envio grátis (ou seja, portes de correio grátis, que habitualmente são €6,30). Há uns meses, a dvdgo.com começou a fazer promoções de dois dias de envio grátis. E eis que, ontem mesmo, recebi um mail a informar que esta semana toda (uma semana inteira!) o cliente não paga os portes. Coisa impensável há 4 ou 5 anos atrás. Sinal de que há menos procura e a empresa é forçada a fazer campanhas de promoção para aumentar as vendas.
A qualidade das edições também não tem sido nada de especial, visto que a aposta tem sido quase só centrada nos títulos comerciais. Temo que, por estas e outras razões, mais mês menos mês, mais ano menos ano, a dvdgo.com (como outras lojas similares) acabem por seguir o destino da Blockbuster: encerramento de portas, puro e duro.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mike Patton de regresso!


Fiquei a saber através da página de fãs do Facebook do Mike Patton, que o músico dos Faith No More - mas também dos Tomahawk, Fantômas ou Mr. Bungle... - vai lançar no dia 4 de Maio o disco "Mondo Cane" (pela habitual Ipecac Recordings), um projecto híbrido rock orquestrado à mistura com canções italianas pop e românticas das décadas de 50 e 60.
Gravado numa série de concertos europeus, incluindo um concerto ao ar livre numa praça no norte da Itália, o álbum auto-intitulado revela as tais músicas pop italianas bem como uma releitura de “Deep Down” de Ennio Morricone (desde sempre uma referência para Patton). Mike Patton trabalhou com uma orquestra de trinta instrumentos e um coro para criar a sonoridade única de Mondo Cane (nome retirado do controverso filme italiano homónimo de 1962 realizador por Paolo Cavara). Um projecto que foge à habitual experimentação rock do músico, mas que nem por isso deixa de ser interessante.
O engraçado é que eu já falei deste projecto há um ano e meio, aqui, desejando que fosse editado o disco do espectáculo, o que vai acabar por acontecer.
Capa do disco:

Sombras

Se há matéria plástica que me interessa no cinema, essa matéria é a sombra. O Expressionismo Alemão foi o movimento estético, por excelência, que explorou as capacidades expressivas e dramáticas das sombras, através de uma fotografia depurada. Mas ao longo da história do cinema muitos outros realizadores e filmes souberam impressionar o espectador com o mistério, quase sempre inquietante, que a sombra acarreta. Eis apenas alguns exemplos (outros existem, como no cinema negro, mas não consegui as respectivas imagens):

"The Third Man" (1949) - Carol Reed

"Shadow of a Doubt" (1943) - Afred Hitchcock

"I Confess" (1953) - Alfred Hitchcock

"Vampyr" (1932) - Carl Dreyer

"O Gabinete do Dr. Caligari" (1920) - Robert Wiene

"M - Matou" (1931) - Fritz Lang

"Nosferatu" (1922) - F.W. Murnau

"Shadows and Fog" (1992) - Woody Allen

Dia Mundial da Água

domingo, 21 de março de 2010

Um Tim Burton apenas mediano


Este fim-de-semana vi o filme de Tim Burton. Gostei, mas só moderadamente. E dizer isto de um filme do autor de "Big Fish", na verdade, não é ser muito abonatório. "Alice no País das Maravilhas" vale sobretudo pela reconfiguração visual e estética do universo de Lewis Carrol, a interpretação de Helena Bohnam Carter e pouco mais. Seria difícil, sendo um projecto da Disney, que este filme de Burton ostentasse a negritude imagética e o carácter narrativo mais irreverente com que habitualmente conotamos a criatividade de Tim Burton.
Mesmo Johnny Depp tem uma actuação pouco inspirada, parecendo uma variação do registo de Willy Wonka, experimentado em "Charlie e a Fábrica de Chocolate".
Visualmente a película é de uma imaginação irrepreensível, recorrendo a grandes contrates cromáticos (o reino da rainha vermelha e a branca, a floresta, os personagens, o castelo...), mas no final fica-se com uma sensação de pouco entusiasmo, de escassa ousadia formal, tratando-se de Tim Burton. "Alice" resume-se a um divertimento sofisticado mas que não irá marcar a carreira de Tim Burton.
De referir, por último, que o 3D funciona muito pouco como catalisador da história e de envolvimento do espectador e até a música original de Danny Elfman desilude de tão previsível.

Entrada da Primavera

Sobre Divas do cinema

O que é hoje uma diva do cinema? Reformulando: ainda há divas no cinema de hoje? Divas que personifiquem a fusão de um imenso talento artístico, com grandes doses de magnetismo, carisma, poder de sedução e beleza? Será Angelina Jolie uma diva? Uma Scarlett Johansson? Uma Charlize Theron? Uma Kate Winslet? Um Nicole Kidman? Quanto a mim, a resposta é claramanete negativa. As actrizes citadas, como tantas outras, não são comparáveis às actrizes da era de ouro de Hollywood (anos 30 a 50).
Uma Marlene Dietrich, uma Bette Davis, uma Greta Garbo, uma Rita Wayworth eram mulheres-paradigma de uma época, com forte carisma, personalidade e talento. Femmes fatales, se quisermos, conceito que hoje praticamente já não existe.
Eis alguns exemplos:
Veronica Lake

Louise Brooks

Maureen O'Hara

Lana Turner

Joan Crawford
Uma lista com 45 actrizes do período clássico de Hollywood.

sábado, 20 de março de 2010

Aventuras animadas numa cama

O filme sério:

E a paródia:
PS - Ambos são bons filmes de animação.

Uma musa de Woody Allen imaginária

A revista Exame Informática, na secção "Olha Quem Tecla", revela ao mundo (pelo menos aos portugueses) que a musa de Woody Allen não é, afinal, Scarlett Johansson, mas sim Jessica Alba. Reza assim: "Jessica Alba, aquela que é musa de Woody Allen já mostrou que sabe mexer-se bem na internet. Agora, em directo na televisão, tira fotografias e partilha-as através do Twitter e tudo". O Twitter da actriz é este.
A verdade é que Jessica Alba nunca participou em nenhum filme de Woody Allen, quanto mais ser a sua musa. Mas pensando bem, para quem não acompanhe muito as novidades do cinema, não será difícil confundir Scarlett e Jessica. Isto porque são ambas jovens (quase da mesma idade), louras (com algumas parecenças físicas) e bonitas.
Se Jessica Alba nunca foi musa de Woody Allen no passado, também não terá grandes chances de o ser brevemente, uma vez que esse lugar já está ocupado no próximo projecto do realizador nova-iorquino: a francesa Marion Cotillard está confirmada para ser a actriz principal do novo filme de Allen. Azar para Jessica (e para o jornalista da Exame Informática).

A (necessária) vida embriagada

"Devemos andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar. Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com virtude, a teu gosto."
Charles Baudelaire - in "Spleen de Paris"

Dois novos projectos de Tim Burton


Tim Burton não pára. Depois do sucesso de "Alice no País das Maravilhas" em 3D, o realizador anunciou mais dois projectos particularmente aliciantes:
1) A versão da "Família Addams" em animação "spot-motion"... em 3D.
2) A transformação, em longa-metragem, da curta "Frankenweenie" (que projectou Burton para a ribalta em 1984).
Sobre a "Família Adams", Burton anunciou que pouco terá a ver com a versão para cinema realizada por Barry Sonnenfeld em 1991, visto que irá basear-se na BD original criada por Charles Addams (na imagem) em 1936.
Quanto à versão para longa-metragem do filme "Frankenweenie", é um projecto que também suscita muita expectativa.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A arte de roubar livros


Sabia que há pessoas que se disfarçam de padres para roubar livros num forro falso da batina? Sabia que a livraria portuense Lello regista por ano uma centena de livros roubados? E que José Pinho, da Ler Devagar, aponta para 20 livros roubados por mês? Ou que a famosa Bertrand do Chiado só num fim-de-semana viu desaparecer 18 exemplares do mesmo livro?
E que nem as mais de mil páginas do volumoso livro "2666" de Roberto Bolaño escapa aos larápios? E que é muito comum apanhar figuras públicas a roubas nas livraras (e o mais vergonhoso ainda é o que roubam: até os livros de anedotas do Herman, segundo conta o livreiro Jaime Bulhosa)?
Tudo isto e mais na incrível reportagem sobre "Como se Roubam Livros em Portugal".

Perguntas indiscretas - 25

Li algures que o próximo filme da saga "Crepúsculo" ("Twilight") vai ser realizado por um dos seguintes realizadores: Gus Van Sant ou Sofia Coppola. Eu sei, custa a acreditar. Mas a ser verdade, qual destes cineastas teria melhor perfil para fazer um filme sobre vampiros deveras original e ousado?

Uma canção

Que grande canção: "She's Gone" de Gonjasufi. Desesperante grito por um amor despedaçado com base num instrumental irresistível. Quase parece um Tom Waits em dia de ressaca da fase "Swordfishtrombones".

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um novo Cristo em filme?


O controverso realizador Peter Greenaway anunciou que vai iniciar as filmagens de uma longa-metragem sobre a vida de Jesus Cristo, inspirado pela filha de sete anos, que lhe perguntou "porque é que Jesus teve dois pais".
O cineasta de "Os Livros de Próspero" ficou pensativo e, num repente, sentou-se a escrever o guião para um filme sobre a dúvida suscitada pela filha. Mais: o filme sobre Cristo será um filme cru e denso e dirigido ao público adulto, pelo que a filha não o vai poder ver. Para quem conhece o estilo visual barroco e excessivo de Peter Greenaway, já pode imaginar - ou talvez não - como será a abordagem religiosa do filme. O Vaticano já deve estar nervoso com esta notícia.
Agora imagine-se se a filha tivesse perguntado ao pai: "porque é que a Virgem Maria deu à luz Jesus se ela era virgem?". Gostaria de ver o resultado em filme deste insondável enigma metafísico à luz da visão de Greenaway.

Os clichés do cinema


Mesmo quem não seja cinéfilo e apenas espectador regular de cinema sabe que os clichés são recorrentes nos filmes. Parece mesmo que, sem eles, os argumentistas não podiam viver (bem, nem todos). Por exemplo: quantas vezes não vimos já a típica cena de alguém que entra num carro porque vai a fugir de outro alguém e... o carro não pega? Ou a cena em que o assassino parece que já morreu baleado com 23 tiros mas volta a levantar-se para aterrorizar a vítima (uma vez mais)? Ou o personagem bom que quer matar o mau e fica sem balas nesse preciso momento? Como estes, há milhares de outros clichés que fizeram - e continuam a fazer - a história do cinema - para o bem e para o mal.
O site que está em baixo é um manual impressionante de lugares-comuns e chavões no cinema, vistos e revistos, gastos e recorrentes. Clichés da história, clichés visuais, de interpretação, de realização, enfim, para todos os gostos. Alguém teve a paciência de os compilar por temas. Claramente um site para qualquer aspirante a argumentista de cinema saber evitar (ou reformular, quem sabe) os clichés da história.
Entrar no mundo dos clichés dos filmes.

terça-feira, 16 de março de 2010

Discos que mudam uma vida - 99


The Smashing Pumkins - "Mellon Collie and the Infinite Sadness" (1995)

Momentos e Imagens - 60


Jerry Lewis e Emir Kusturica

Jerry Lewis e o realizador Robert Siodmak

Jane Birkin recebe um flor de Jerry Lewis num espectáculo em Paris (1973)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Cronenberg, Viggo & Freud


Há algum tempo atrás que se sabia que o actor austríaco, recentemente galardoado com um Óscar, Christoph Waltz, tinha sido o escolhido para interpretar o exigente papel de Sigmund Freud no próximo - e muito aguardado filme "The Talking Cure" - de David Cronenberg.
Acontece que Waltz preteriu encarnar o pai da psicanálise em favor de um papel, num filme chamado "Água Para Elefantes", de um sádico personagem (na linha do que fez em "Inglorious Basterds").
Do mal o menos. Quem ficou a ganhar foi Viggo Mortensen, que já aceitou interpretar Freud às ordens de Cronenberg. O filme contará a história de um triângulo amoroso entre Freud, o seu discípulo Carl Jung e uma jovem com problemas psicológicos que será interpretada pela actriz Keira Knightley.

Sound & Vision e Sound Art


Dois livros, duas obras fascinantes para compreender toda a complexidade do fenómeno musical contemporâneo, sobretudo ligado às vanguardas estéticas. São livros editados no mercado internacional (na Fnac só por importação) e estão disponíveis através de venda directa na Amazon inglesa.
"Sound & Vision", escrito a meias pelos italianos Luca Beatrice e Alberto Campo, renova a análise às tendências actuais da cultura audiovisual, fazendo o cruzamento entre as artes visuais e as manifestações sonoras (o livro tanto aborda Keith Haring como Mathew Barney, Chris Cunningham - a imagem da capa é retirada do videocplip "Come to Daddy" -, Aphex Twin ou Björk.
Quanto ao segundo livro, com o sugestivo título "Sound Art - Beyond Music, Between Categories", do músico e escritor Alan Licht, propõe uma séria e aprofundada reflexão sobre o som enquanto arte, numa perspectiva histórica evolutiva. Partindo do Futurismo de Marinetti e Russolo, até ao minimalismo de LaMonte Young, às diabruras noise da No-Wave, dos Sonic Youth ou ao malabarismo de discos de Christian Marclay, "Sound Art" é um livro essencial para os melómanos e curiosos na história das artes audiovisuais do Século XX e XXI. Além disso, esta obra conta ainda com um prefácio do músico Jim O'Rourke. Dois livros que se complementam para um melhor entendimento das estéticas e tendências artísticas audiovisuais contemporâneas.