Todos os cinéfilos conhecem o site
The Internet Movie Database, porventura o melhor site sobre cinema de toda o espaço virtual (há o
allmovie.com, mas não tem informação tão detalhada e abrangente). Ora, no imdb.com podemos consultar várias listagens dos melhores filmes em várias categorias - por géneros, por décadas, por realizadores, etc.
A lista dos
250 melhores filmes de sempre - votada pelos cibernautas - revela algumas curiosidades: em primeiro lugar do top está o filme
"Os Condenados de Shawshank" e, logo de seguida,
"O Padrinho" de
Francis F. Coppola. O filme de
Frank Darabont é um bom filme, mas merecerá o primeiro lugar da lista dos melhores filmes de sempre? Claro que não (pelo menos na minha óptica). Isto quando constatamos que existem muitas obras-primas listadas para lá do centésimo lugar. Basta constatar que o magistral
"Eduardo Mãos de Tesoura" de
Tim Burton figura no... último lugar da tabela (250ª posição)!
Para cada filme existe uma votação que vai de
1 valor (péssimo) a
10 valores (excelente). Se analisarmos com atenção estas votações, não deixa de causar perplexidade alguns dados. Pegando no exemplo do filme que está em primeiro lugar do top, com uma média de valores
9,1, vemos que há
286 mil cibernautas que votaram na nota máxima (10), mas também houve
16 mil que votaram na nota mínima (1).
Para pegarmos no filme supostamente mais consensual da história do cinema - "Citizen Kane" de Orson Welles (classificado num modesto 33º lugar): há pelo menos 4,578 cinéfilos que detestaram o filme cilindrando-o com nota 1. O mesmo acontece com o "Pulp Fiction" de Tarantino (5ª posição), película que regista 10,250 detractores que atribuíram a pior nota possível (isto se não contarmos com os que atribuem nota 2, 3...).
Estas votações não têm, obviamente, validade científica e rigorosa, vão flutuando ao longo do tempo e do sabor das modas. São classificações feitas pelos espectadores, de todas as idades e formações, muitas das vezes até, aleatoriamente. Mas não deixam de ser sinais interessantes sobre a forma como se interpreta um filme.
Conclusão apressada: mesmo perante supostas obras-primas irrefutáveis da 7ª arte há sempre quem as considere obras medíocres, seja por que motivos for. Percebemos que em arte não existem consensos e unanimismos totais e absolutos. O que prevalece é a subjectividade do olhar, a diferenciação de fruir um dado objecto artístico. O que gera estas discrepâncias críticas relativas a um mesmo fenómeno artístico (seja cinema, pintura ou literatura)? A formação cultural do espectador? As suas referências no mundo da arte? A sua capacidade de análise e de discernimento?
Creio que Georges Braque resume esta problemática quando refere: "Na arte só uma coisa importa: aquilo que não se pode explicar."