terça-feira, 31 de março de 2015

Squarepusher: na vanguarda electrónica do século XXI



Squarepusher é o nome artístico de Tom Jenkinson, artista que há 20 anos tem dado cartas na evolução da música electrónica (a par de Aphex Twin e Amon Tobin). Squarepuser é um baixista de jazz virtuoso (na esteira do mítico Jaco Pastorius) que espantou o mundo quando em 1996 lançou o disco de estreia "Feed Me Weird Things", um misto de jazz frenético com drum'n'bass.
Há um ano este músico visionário editou um disco intitulado "Music For Robots" de que dei conta neste post. Um disco no qual verdadeiros robots faziam música a mando de Squarepusher. Um ano depois o músico regressa com um novo conceito visual e tecnológico (a componente visual sempre teve muita importância no seu trabalho), que irá acompanhar um novo álbum pela prestigiada editora Warp.

Sem grandes exageros, depois de ver o vídeo pode-se afirmar que a criatividade musical e visual de Squarepusher está para o século XXI como os Kraftwerk estiveram para as décadas de 1970/80. Ou seja, na vanguarda da música electrónica. Squarepusher desenvolveu um conceito estético e audiovisual caleidoscópico no qual os estímulos sonoros provocam uma reacção visual num ritmo estonteante para os sentidos. Não é música pop fácil para as massas, nem música para satisfazer todas as sensibilidades. Mas é música desafiante, original, provocadora, que rompe convenções e aponta pistas para o futuro. É música como se milhentos sons tecnológicos fossem centrifugados numa trituradora a alta velocidade e depois reorganizados segundo uma lógica própria.
Nota: A componente visual não é aconselhável para pessoas propensas à epilepsia ou a estímulos visuais fortes.
Quem quiser conhecer o "making of" deste vídeo e as explicações do músico, abrir aqui.

O que acontecerá?

- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em ver um filme clássico?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em ouvir um disco novo?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em ler um livro?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em entrar numa livraria ou biblioteca?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em partilhar com os amigos os meus prazeres?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer em escrever neste blogue?
- O que acontecerá quando deixar de ter prazer... no prazer?
(...)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Quando Lynch contratou Dennis



"Não importa quão maravilhoso seja um actor; quando se está a fazer um casting, tem de se escolher a pessoa que casa com aquele papel, que consegue fazer aquele papel. Para o papel de Frank Booth, protagonista de 'Veludo Azul', sempre pensei em Dennis Hopper, mas toda a gente dizia: 'Não, não podes trabalhar com o Dennis. Ele está mesmo em má forma e só te causará problemas'. Mas eu continuei a insistir.
Até que um dia, o agente de Dennis Hopper me telefonou e disse que o Dennis estava sóbrio e já tinha feito outro filme e que eu podia falar com aquele realizador para o confirmar. Depois, o Dennis telefonou e assegurou-me: 'Eu tenho de fazer o papel de Frank porque eu sou o Frank'. Isso entusiasmou-me e assustou-me."

David Lynch

sábado, 28 de março de 2015

Uma fotografia cheia de artistas

Houve um tempo em que era possível reunir numa só fotografia grandes génios das artes e da cultura. Sobretudo nas décadas de 1920/30, em Paris, cidade onde se reunia a nata dos artistas de vanguarda (surrealismo futurismo, literatura, artes plásticas e cinema).
Senão, vejamos quem faz parte desta fotografia (datada de 1930).

Em cima: Paul Eluard, Jean Arp, Yves Tanguy e Rene Crevel
Em baixo: Tristan Tzara, Andre Breton, Salvador Dali, Max Ernst e Man Ray.

Ou seja, nesta imagem histórica estão reunidos quase todos os principais artistas de vanguarda da época. Para completar e enriquecer a fotografia só falta o realizador Luis Buñuel, que nesta altura já tinha realizado a curta-metragem surrealista "Un Chien Andalou" (1929) com Salvador Dali e era amigo de quase todos estes visionários.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Simplesmente... Joe



No mundo do cinema contemporâneo de autor nem sempre é fácil ter boa memória dos realizadores e respectivos filmes. Sobretudo se estivermos a falar de cineastas oriundos de países do leste europeu, do Médio Oriente e da Ásia. Alguns nomes destes realizadores são tão difíceis de pronunciar e de memorizar que se torna ingrato citá-los.
Não admira depois que determinados realizadores sejam conhecidos não pelo seu difícil nome próprio mas sim por alcunhas. É o caso do premiado cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul, mais conhecido no meio cinematográfico simplesmente por... Joe.

Eis alguns exemplos:

- Apichatpong Weerasethakul (na imagem)

- Andrey Khrzhanovskiy
- Hou Hsiao-Hsien
- Kim Jho Gwang-soo
- Samira Makhmalbaf
- Srdjan Dragojevic
- Bong Joon-ho Dariush
- Mehrjui Rakhshan
- Bani-Etemad Mahmoud
- Shoolizadeh Varuzh
- Karim-Masihi
- Andrey Zvyagintsev
- Park Chan-wook
- Timur Bekmambetov
- Fyodor Bondarchuk
- Zeki Demirkubuz
- Semih Kaplanoglu
- Yesim Ustaoglu
- Remzi Aydın
- Jöntürk Dadasaheb Phalke
- Lee Kang-sheng
- Tsai Ming-liang
- Wu Chien-lien
- Lin Feng-chiao

segunda-feira, 23 de março de 2015

Cartaz repetitivo

Os cartazes do festival de Cannes tem sido nos últimos anos minimalistas: nome do festival, ano de edição e uma fotografia icónica da história do cinema (actores ou actrizes). Ora, se há uns anos esta linguagem visual funcionava pela simplicidade e simbolismo, ao fim deste tempo tornou-se repetitiva e previsível. 
Este é o cartaz oficial da edição deste ano. Desta vez com o rosto de Ingrid Bergman. É um cartaz pouco ambicioso e nada imaginativo. A fórmula está gasta e um festival da importância e dimensão do de Cannes merecia um trabalho gráfico mais original. 

domingo, 22 de março de 2015

REP de volta

É sempre um regozijo anunciar um novo livro de Rui Eduardo Paes (REP). Aliás, um não, mas sim dois livros num só: "Bestiário Ilustríssimo II" e "Bala". Em 2012 REP lançou o livro "Bestiário Ilustríssimo" de que dei conta neste post. O trabalho desenvolvido ao longo das últimas três décadas deste crítico e teórico da música é insubstituível. Tem sido um trajecto ímpar na divulgação daquelas músicas ditas mais criativas e inovadoras de todos os quadrantes: rock, jazz, improvisação, erudita contemporânea, electro-acústica, electrónica, pós-rock, etc. Aliás, se o caro leitor tiver curiosidade em conhecer que músicas o REP gosta, basta aceder aqui à lista dos 100 discos da sua preferência.

Com esta edição Rui Eduardo Paes conta já oito livros editados nos últimos 15 anos (o nono chegará antes do final do ano), dando sempre destaque às músicas menos convencionais e àquelas que os jornais habitualmente não falam. O seu vastíssimo conhecimento não se limita à história da música (da clássica às múltiplas vanguardas), mas estende-se também à história da arte em geral, ao cinema, e às teorias sociais, culturais e políticas que servem para contextualizar e explicar fenómenos estéticos determinados. REP escreve com fervor emergente de um jovem que retira enorme prazer pela descoberta de um novo disco entusiasmante, de um novo grupo ou músico que merece destaque. O seu enfoque é sempre o de um teórico que disserta sobre a música como expressão artística, seja em que terreno musical for. Daí que possamos ler nos seus livros referências que podem ir da rebuscada cena de música noise japonesa como das últimas tendências da electrónica cut'n'paste ou das jovens promessas do jazz nacional.

Mesmo que não conheçamos um artista que REP aborda (e há fortes probabilidades de tal acontecer), pela forma entusiasta como o ensaísta escreve, somos levados a googlar para ouvir do que se trata. No meu entendimento, há muito poucos jornalistas musicais nacionais que me conseguem provocar este impulso de querer saber, de querer conhecer, de querer ouvir. Mas a qualidade da sua escrita vai para além da mera recensão de um disco ou de um objecto estético. O seu estilo de escrita é por si altamente estimulante, revelando um notável domínio sobre a língua portuguesa que raia as características da boa literatura. Um estilo que Rui Eduardo Paes cultiva como uma arma contra o habitual cinzentismo e comodismo da crítica de arte em Portugal.
  
Por conseguinte, o valor da sua escrita - mais a mais porque é um "cavaleiro solitário" nesta área - é amplamente reconhecido e fruto de um laborioso trabalho de investigação de anos e anos. O livro que agora edita - dedicado à ideia de "tempo" na arte - continua a desafiar categorizações (é uma "anti-enciclopédia") e a reformular a especificidade formal da crítica musical. Destaque para o "Bestiário Ilustríssimo II" com as suas múltiplas, curtas e diversificadas críticas e discos, artistas, instrumentos musicais, bandas e movimentos (como o grande destaque dado ao Stoner Rock). Já o livro siamês "Bala", com as belas ilustrações de David de Campos, serve de complemento ao outro, num formato mais pequeno mas não menos interessante de reflexão sobre as manifestações artísticas mais interessantes do século XX e XXI.

A edição deste livro "dois-em-um" é da Chili Com Carne e pode ser encomendada aqui.




sexta-feira, 20 de março de 2015

Os (verdadeiros) primeiros filmes

Toda a gente sabe nomear um bom filme das filmografias de realizadores como Pedro Almodóvar, David Lynch, Sofia Coppola, Lars Von Trier, Martin Scorsese, Godard ou Roman Polanski. Mas poucos saberão dizer quais foram os seus primeiros filmes. E não me refiro às longas-metragens, mas sim às primeiras experiências cinematográficas no formato de curta-metragem. Por exemplo, quando falamos no primeiro filme de David Lynch julgamos que falamos do clássico de culto "Eraserhead" (1977) mas nada mais errado. O seu primeiro filme, no formato de curta é um desconcertante e surrealista filme chamado "The Alphabet" (na imagem em baixo).

É verdade que algumas dessas primeiras obras de cinema até foram bastante marcantes na vida de alguns realizadores. Por exemplo, "Un Chien Andalou" (1929) de Luis Buñuel ou "The Steam Roller and the Violin" de Andrei Tarkovski. No entanto, muitas das curtas-metragens de início de carreira de grandes cineastas ficaram esquecidas no tempo. Graças ao Youtube e ao site Taste of Cinema foi publicada uma preciosa lista com as "25 melhores curta-metragens de realizadores famosos". Realizadores de todas as épocas, nacionalidades e géneros estão aqui representados. Alguns destes pequenos filmes até já foram comentados neste blogue.

Para além de sinopse descritiva do filme, o site disponibiliza a visualização de cada uma das obras no Youtube. Uma boa forma de conhecer o trabalho menos conhecido de grandes mestre do cinema. Link.


quarta-feira, 18 de março de 2015

A educação do meu gosto - 3

A educação do  meu gosto - Literatura

Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.




Comecei a ler relativamente tarde. Ao contrário do meu gosto pela música que começou bastante cedo (12 anos), a leitura foi um prazer tardio. Lembro-me de ler durante horas banda desenhada – Hugo Pratt, Michel Vaillant, Quino (Mafalda), Lucky Luke, Asterix e super-heróis da Marvel. A leitura de livros sem imagens foi iniciada volta dos meus 17 anos com policiais: Agatha Cristie, George Simenon e Raymond Chandler. O mesmo amigo que me despertou para Tarkovski era um fã de Franz Kafka e passou-me esse entusiasmo: “A Metamorphose” e “O Processo” foram um choque. 

De Kafka passei para os contos de Edgar Allan Poe e Lovecraft, os surrealistas (André Breton, Apollinaire…) e essas obras negras e fascinantes chamadas “Os Cantos de Maldoror” de Lautréamont e "Filosofia na Alcova" do Marquês de Sade. A leitura de "Siddharta" de Herman Hesse aos 19 anos foi toda uma epifania. O mesmo amigo que me gravava as cassetes “Heterodoxos” introduziu-me nas teorias sociais e culturais revolucionárias do Situacionismo com o livro “A Sociedade do Espectáculo” de Guy Debord e nos movimentos de ruptura artística do Dadaísmo, Futurismo, Beat e Fluxus. Desenvolvi um gosto pelos autores "malditos" e fora do mainstream literário. O meu gosto pela leitura foi-se acentuando até ler autores tão díspares quanto Holderlin, Artaud, Proust, Hemingway, Bukowski, Camus, Genet, Michaux, Burroughs, Schopenhauer, Kierkegaard, Stig Dagerman, James Joyce, Albert Cossery, Italo Calvino, Unamuno, Oscar Wilde, Henry Miller, Philip Roth, Conrad, Mishima, Bataille entre dezenas de outros. Não sei bem porquê mas nunca consegui adentrar-me nos russos (Dostoievski, Tolstoi, Tchekov, Gogol...).

Desenvolvi um fervor especial pela leitura de livros de ensaios de música, arte, cinema e livros históricos sobre a 2ª Guerra Mundial, tendo um fascínio especial pela história do Holocausto. Interessei-me pelas (auto)biografias de artistas e por vastos temas relacionados com a cultura digital/cibernética dos nossos dias.

Não sei exactamente em que medida, mas sei que a leitura (e aquilo que li ao longo da minha vida) foi essencial para definir o que (sei) sou hoje.

Imagem: pormenor da minha biblioteca.

segunda-feira, 16 de março de 2015

A educação do meu gosto - 2

A educação do meu gosto – Música

Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.





É lugar-comum dizer-se que ma adolescência se forma a nossa personalidade e os nossos gostos. Um estudo recente indica que a idade média de influência da música para o resto da vida se situa no período entre os 14 e 18 anos. Não tenho vergonha de dizer que cheguei a comprar singles (singles!) de Madonna ou de Wham! Estávamos em meados dos anos 80 e basicamente ouvia apenas o que a rádio passava. Aos 12 anos comecei a aprender guitarra clássica e esta experiência deu-me bases para gostar de música erudita. Aos 18 entrei para um curso superior de música que me possibilitou contacto com as várias facetas da música contemporânea. Comecei a ouvir música na rádio espanhola que passava muito jazz, world-music e rock alternativo. 

Da mesma forma que me aconteceu com o cinema, amigos mais velhos serviram de farol. Lembro-me uma vez um amigo que me sugeriu ouvir Echo & The Bunnymen, Jesus & Mary Chain, Joy Division, The Fall e Bauhaus (na imagem). Gravou-me cassetes e passei meses a ouvi-las. Tinha a felicidade de ter uma mesada bastante razoável que me possibilitou comprar discos em vinil. Comprava o semanário Blitz religiosamente todas as terças-feiras e ouvia atentamente o programa “Som da Frente” do António Sérgio (Rádio Comercial) à procura de novidades musicais. Cada disco que recebia em casa era uma relíquia guardada a sete chaves. Passei a corresponder-me com largas dezenas de amigos por todo o país que tinham gostos comuns e trocávamos gravações e listas. 

Assim consegui juntar quase mil cassetes áudio com música de todos os géneros. Um amigo (mais uma vez) gravou-me compilações de músicos e bandas muito diferentes a que chamava “Heterodoxos”, onde podia caber Jimi Hendrix e Krafwerk, John Cage e Meredith Monk, John Coltrane e Einstürzende Neubauten. O meu gosto musical expandiu-se exponencialmente para todas as correntes que ousavam desafiar as convenções e procuravam a criatividade e a originalidade. Felizmente que hoje ainda mantenho esta curiosidade militante e este amor pela música.

domingo, 15 de março de 2015

A educação do meu gosto - 1

A educação do meu gosto - Cinema



Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.  

Durante a minha adolescência gostava de filmes do Rambo e filmes de acção em geral. Mas também nessa altura comecei a ver filmes clássicos na televisão (RTP2), épicos históricos, de gangsters e westerns. A televisão espanhola passava aos sábados à tarde grandes filmes clássicos de Hollywood que via com sofreguidão. Um dia, numa noite num bar da minha cidade encontrei-me com um amigo mais velho. Um amigo com uma cultura vasta e de qualidade. Começámos a falar de cinema e fixei para sempre uma frase que me disse: “Tens de conhecer o cinema de Andrei Tarkovski, é um cinema metafísico de grande exigência estética”. Nunca tinha ouvido falar do cineasta russo mas fiquei altamente motivado para tal. Numa época sem internet e poucas enciclopédias disponíveis, lá procurei por esse Tarkovski. Até que um outro amigo, estudante de Comunicação Social, me gravou uma cassete VHS com o filme “Stalker” (na imagem). Vi-o nessa mesma noite e quase não consegui dormir atormentado por tantas interrogações que o filme me suscitou.

A descoberta de Tarkovski foi, certamente, o início da minha formação de gosto pelo bom cinema. A partir daí comecei a ler religiosamente as críticas de cinema nos jornais e revistas, os catálogos da Cinemateca, a procurar todos os livros sobre cinema da biblioteca pública e a conhecer cada vez mais a história do cinema desde as suas origens. Ou seja, o gatilho que me despertou para o cinema de qualidade foi o encontro com esse amigo num bar em finais dos anos 80. 
Obrigado, António.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A dança mecânica

Chama-se Bryan "Chibi" Gaynor e é um jovem com uma qualidade rara: consegue mover o seu corpo como se fosse um robôt. É um dançarino que movimenta o seu corpo de forma hipnótica ao som da música electrónica do dubstep. Chega a não parecer humano, como um autómato que mexe os membros em câmara lenta (ou não) e que por vezes dá a impressão que está em gravidade zero.
É uma arte corporal mais difícil do que parece à primeira vista porque exige um total controlo dos mais ínfimos músculos do corpo, de forma a criar a ilusão de movimentos mecanizados e minuciosamente coreografados (num misto de expressão corporal de um mimo com o breakdance). E claro que a sincronia entre movimentos corporais e a música dubstep ajuda a criar esse mesmo efeito.

Mais vídeos no seu canal do Youtube. 

terça-feira, 10 de março de 2015

Snowden merecia mais



Vi o documentário "Citizenfour" de Laura Poitras (estreia para a semana em Portugal) sobre o ex-analista informático da NSA Edward Snowden. Este documentário ganhou o Óscar na sua categoria e eu ainda estou para saber como. Só tenho uma explicação: pela controvérsia política e actual que o filme suscita (a famigerada vigilância electrónica à escala global).
Achei o filme de uma vulgaridade tremenda, aborrecido na sua estrutura (entrevista atrás de entrevista), verborreico até à sonolência (são citados dezenas de termos técnicos de espionagem que desnorteiam o espectador). Nem o facto de Steven Soderbergh ser o produtor salva o documentário da pobreza estética. A singular figura de Edward Snowden merecia outro tratamento e outro realizador mais ousado.

Enfim, há um outro documentário nomeado aos Óscares bem mais interessante: "Finding Vivian Maier" sobre a fotógrafa com o mesmo nome (falei dele mais abaixo). Está bom de ver que na Academia de Hollywood preferem os temas políticos quentes do que fotografia enquanto arte...

segunda-feira, 9 de março de 2015

Kurosawa: pintor cineasta

Akira Kurosawa, quando jovem, ambicionou ser pintor. O cinema viria mais tarde e ocupou-lhe a vida e a carreira. Mas a verdade é que o cineasta japonês nunca deixou de pintar enquanto hobby e mesmo enquanto trabalho. De tal forma que pintou inúmeras cenas de filmes seus, desde cenas de batalhas épicas, personagens diversas, paisagens ou elementos surreais. Ou seja, Kurosawa primeiro pintava e depois filmava. A sua pintura, serviu, pois, como "storyboard" para os seus filmes - como se comprova nas imagens seguintes:





domingo, 8 de março de 2015

O que diz Tarkovski #19

"Em todos os meus filmes o tema das raízes sempre teve uma importância muito grande: laços com a casa paterna, com a infância, com o país, com a Terra. Sempre achei que fosse importante deixar claro que também pertenço a uma tradição particular, a uma cultura, a um círculo de pessoas ou ideias."

O que escrevo sobre Béla Tarr

Mais um artigo meu no Repórter Sombra.
Sobre Béla Tarr.
Link.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Bergman e os espelhos

Depois de ter feito uma montagem com as perspectivas e características visuais de vários realizadores (mostrei num post abaixo), o videasta japonês Kagonada apresenta agora um trabalho à volta da obsessão do realizador sueco Ingmar Bergman por espelhos.
Mas há mais: a acompanhar esta deliciosa montagem de vários dos filmes de Bergman, podemos escutar uma peça musical para dois mandolins de Vivaldi e a recitação de um poema da poetisa Sylvia Plath intitulado... "Mirrors". 
Perfeito.

terça-feira, 3 de março de 2015

À procura de Vivian Maier


Vivian Maier (1926 - 2009) era até há dois ou três anos uma autêntica anónima. Agora passou a ser conhecida por ter sido uma das melhores fotógrafas dos EUA durante décadas. Personalidade reservada e bizarra (tinha um lado sombrio e enigmático - não conseguia estar ao lado de homens), Vivian Maier era uma simples ama que nos tempos livres se dedicava a fotografar as ruas e as pessoas de Nova Iorque e de outras cidades. O incrível é que ela tirou mais de 100 mil fotografias e guardou todos os rolos em dezenas de caixotes. Ou seja, não revelou praticamente nenhuma fotografia! O seu comportamento era compulsivo, doentio, quase como uma obsessão vital em registar momentos quotidianos da sociedade norte-americana.

Sempre a preto e branco e num ângulo sempre idêntico (tinha uma máquina Leica), as suas fotografias denotam um olhar perspicaz sobre rostos anónimos, pessoas comuns (entre burguesia e mendigos) e paisagens urbanas. Também fazia auto-retratos (vulgo selfies hoje). Todo o seu gigantesco espólio - grande parte ainda por revelar - foi descoberto por acaso por um jovem chamado John Mallof, co-autor do documentário sobre a sua vida. Comprou-o num leilão e agora dedica a sua vida a divulgar o seu trabalho e a exibir as fotografias de Vivian em museus e galerias de arte. 

"Finding Vivian Maier" ("À Procura de Vivian Maier") é o título do documentário candidato aos Óscar deste ano na mesma categoria. Procura desvendar quem foi esta mulher estranha e contraditória através de depoimentos de pessoas que lidaram com ela em vida. Provavelmente Vivian Maier nunca autorizaria em vida a publicação das suas fotografias. O motivo desconhece-se. Uma coisa é certa: o seu legado só veio enriquecer a história da fotografia do século XX.





domingo, 1 de março de 2015

Mr. Turner: o mestre da luz


"Mr. Turner" de Mike Leigh é um filme magnífico. Se houvesse justiça nos Óscares seria nomeado para várias categorias (realização, fotografia, direcção artística, interpretação...). Para já só ganhou o prémio em Cannes para o esplêndido actor Timothy Spall no papel do pintor inglês.
William Turner, pintor da época do Romantismo inglês (século XIX), elevou a pintura paisagística quando tendeu ao quase abstraccionismo nas suas telas, sendo considerado hoje, além de génio universal da arte, precursor do Impressionismo.

O filme "Mr. Turner" retrata os últimos anos de vida e obra do pintor na Londres de meados do século XIX, um homem controverso e excessivo obcecado com o perfeccionismo da sua arte - ao ponto de ficar amarrado a um mastro de um navio em plena tempestade para reunir todos os dados empíricos dessa experiência que servissem para as suas pinturas.

Das várias sequências memoráveis do filme destaco desde logo a primeira que surge aos olhos do espectador: plano fixo de uma paisagem incrivelmente bela, um campo verdejante, um moinho e o pôr-do-sol resplandecente. Duas mulheres vão-se aproximando e a câmara começa a movimentar-se para a esquerda (a fazer lembrar um plano-sequência de Tarkovski) para acompanhar a deslocação das referidas mulheres. De repente, no exacto momento em que as mulheres deixam de estar em cena vislumbra-se ao fundo o vulto de um homem. A câmara fixa-se e revela o homem bem ao centro do plano, até que um close-up nos mostra que se trata de William Turner a tirar notas para as suas pinturas de paisagem. 

Esta sequência, que tem pouco mais de 2 minutos, é um espantoso trabalho ao nível da realização e da composição plástica e visual. É minha convicção que o realizador Mike Leigh quis mostrar, logo a partir do primeiro plano, a beleza da paisagem que tanto inspirou Turner. Mais: estas imagens são como telas da pintura paisagística do pintor inglês, mestre da luz e das cores. Trata-se, em suma, de um pequeno momento de cinema tão superlativo e tão belo esteticamente que nos deixa sem palavras.

Eis a sequência de que falo:









Nota: esta paisagem foi filmada em Herringfleet Mill, Suffolk, norte de Inglaterra.