Começaram as comemorações do Maio de 1968. Muita tinta vai ser derramada para dissecar um dos mais míticos fenómenos sociais da segunda metade do século XX. Os meus pais viveram muito de perto o movimento de Maio 68. Viviam bem no centro de Paris, pelo que sentiram na pele a ebulição do fenómeno. Assistiram em directo aos muitos dias de manifestações e de confrontos com a policia. Como emigrantes, sentiam-se desfasados da realidade que motivara aquele movimento contestatário formado, essencialmente, por jovens universitários e operários. Os ideais sociais e políticos não estavam na ordem do dia dos emigrantes, mais preocupados que estavam no ganha-pão diário. Num dos dias conturbados de manifestações violentas (como se retrata na imagem), nos quais os estudantes e trabalhadores cilindravam tudo o que apanhavam pela frente nas ruas, o meu pai viu-se obrigado a subir ao capô do seu carro, implorando para que não fosse incendiado ou destruído. Um acto de desespero compreensível para quem precisava tanto do carro para a subsistência do dia-a-dia. Milagrosamente ou talvez não, os manifestantes que abalroavam violentamente montras de comércio, carros, sinais de trânsito e caixotes do lixo, pouparam o carro do meu pai. As suas súplicas tinham sido atendidas pela turba que tudo varria à sua passagem. Milhares de residentes de Paris (franceses e emigrantes) não tiveram a mesma sorte. O rasto de violência e destruição alvoroçou politicamente as cúpulas do poder, ao ponto da Universidade de Sorbonne ter sido encerrada compulsivamente e do Ministro da Educação ter pedido a demissão.
Os factores que motivaram a agitação social, politica e cultural do Maio de 68 continuam, 40 anos depois, a ecoar no subconsciente de muita gente e a inspirar argumentações sociológicas e posicionamentos de propaganda política. Mas a verdade é que a irreverência de outros tempos que se julgava capaz de concretizar a utopia defendida, acabou por institucionalizar-se: o principal líder e figura de proa do movimento, Daniel Cohn-Bendit está agora comodamente instalado no Parlamento de Bruxelas como deputado europeu pelo Partido dos Verdes
E tal como em Portugal se continuam a ouvir apelos em surdina para um novo 25 de Abril, por terras do sr. Sarkozy reproduzem-se ecos para nova agitação social (como aconteceu há dois anos devido a conflitos raciais). Na realidade, face aos crescentes problemas económicos, sociais e políticos deste continente sem liderança firme e forte, parece-me que a Europa vive cada vez mais sob a superfície de um vulcão ameaçador e prestes a expelir a sua violenta lava. E não serão precisos grandes abanões estruturais para que o vulcão origine o pânico e o desnorte total.
Os factores que motivaram a agitação social, politica e cultural do Maio de 68 continuam, 40 anos depois, a ecoar no subconsciente de muita gente e a inspirar argumentações sociológicas e posicionamentos de propaganda política. Mas a verdade é que a irreverência de outros tempos que se julgava capaz de concretizar a utopia defendida, acabou por institucionalizar-se: o principal líder e figura de proa do movimento, Daniel Cohn-Bendit está agora comodamente instalado no Parlamento de Bruxelas como deputado europeu pelo Partido dos Verdes
E tal como em Portugal se continuam a ouvir apelos em surdina para um novo 25 de Abril, por terras do sr. Sarkozy reproduzem-se ecos para nova agitação social (como aconteceu há dois anos devido a conflitos raciais). Na realidade, face aos crescentes problemas económicos, sociais e políticos deste continente sem liderança firme e forte, parece-me que a Europa vive cada vez mais sob a superfície de um vulcão ameaçador e prestes a expelir a sua violenta lava. E não serão precisos grandes abanões estruturais para que o vulcão origine o pânico e o desnorte total.