quarta-feira, 30 de abril de 2008

A utopia do Maio de 68


Começaram as comemorações do Maio de 1968. Muita tinta vai ser derramada para dissecar um dos mais míticos fenómenos sociais da segunda metade do século XX. Os meus pais viveram muito de perto o movimento de Maio 68. Viviam bem no centro de Paris, pelo que sentiram na pele a ebulição do fenómeno. Assistiram em directo aos muitos dias de manifestações e de confrontos com a policia. Como emigrantes, sentiam-se desfasados da realidade que motivara aquele movimento contestatário formado, essencialmente, por jovens universitários e operários. Os ideais sociais e políticos não estavam na ordem do dia dos emigrantes, mais preocupados que estavam no ganha-pão diário. Num dos dias conturbados de manifestações violentas (como se retrata na imagem), nos quais os estudantes e trabalhadores cilindravam tudo o que apanhavam pela frente nas ruas, o meu pai viu-se obrigado a subir ao capô do seu carro, implorando para que não fosse incendiado ou destruído. Um acto de desespero compreensível para quem precisava tanto do carro para a subsistência do dia-a-dia. Milagrosamente ou talvez não, os manifestantes que abalroavam violentamente montras de comércio, carros, sinais de trânsito e caixotes do lixo, pouparam o carro do meu pai. As suas súplicas tinham sido atendidas pela turba que tudo varria à sua passagem. Milhares de residentes de Paris (franceses e emigrantes) não tiveram a mesma sorte. O rasto de violência e destruição alvoroçou politicamente as cúpulas do poder, ao ponto da Universidade de Sorbonne ter sido encerrada compulsivamente e do Ministro da Educação ter pedido a demissão.
Os factores que motivaram a agitação social, politica e cultural do Maio de 68 continuam, 40 anos depois, a ecoar no subconsciente de muita gente e a inspirar argumentações sociológicas e posicionamentos de propaganda política. Mas a verdade é que a irreverência de outros tempos que se julgava capaz de concretizar a utopia defendida, acabou por institucionalizar-se: o principal líder e figura de proa do movimento, Daniel Cohn-Bendit está agora comodamente instalado no Parlamento de Bruxelas como deputado europeu pelo Partido dos Verdes
E tal como em Portugal se continuam a ouvir apelos em surdina para um novo 25 de Abril, por terras do sr. Sarkozy reproduzem-se ecos para nova agitação social (como aconteceu há dois anos devido a conflitos raciais). Na realidade, face aos crescentes problemas económicos, sociais e políticos deste continente sem liderança firme e forte, parece-me que a Europa vive cada vez mais sob a superfície de um vulcão ameaçador e prestes a expelir a sua violenta lava. E não serão precisos grandes abanões estruturais para que o vulcão origine o pânico e o desnorte total.

O exemplo da RUC


Sempre que passo em Coimbra é inevitável sintonizar os 107.9 FM da Rádio Universidade de Coimbra. Uma rádio com mais de 20 anos de história e de investimento numa programação ousada, não convencional e alheia a formatações castradoras. Ao invés da grande maioria das rádios nacionais, a RUC adquiriu um modelo radiofónico próprio, devedor do espírito das rádios piratas dos anos 80 (mas sem o cunho amador). Por ser uma rádio universitária e independente (como a Rádio Universidade do Minho), não teve que se sujeitar às pressões das regras do mercado e do capital. Terá passado por altos e baixo, é certo, mas a sua identidade nunca foi posta em causa. Daí que não seja de admirar que mantenha no ar programas com mais de dez anos de existência (como o programa dedicado à musica portuguesa “Santos da Casa”), inseridos numa filosofia de programação alheia às frivolidades comerciais da esmagadora maioria de estações portuguesas. O trabalho da RUC configura aquilo a que se chama serviço público de rádio, apresentando uma programação de grande rigor, diversidade e exigência (na forma e no conteúdo). E estas características não são nada, mas mesmo nada, displicentes.

A infelicidade da ambição


"Um homem não é infeliz porque tem ambições, mas porque elas o devoram".
Montesquieu

terça-feira, 29 de abril de 2008

150 t-shirts depois


O mundo da animação é um mundo fascinante. Todas as possibilidades artísticas e criativas estão abertas recorrendo apenas a uma caneta e a (muitas) folhas de papel. Havia os flip books, aqueles livrinhos pequenos que provocam a ilusão do movimento apenas folheando rapidamente as respectivas folhas. Bom, agora há um grupo de animadores – Erbert & Gerbert - que juntou esse princípio ao elemento humano, designando o trabalho de “human flip book”. Vale a pena abrir este site e visualizar primeiro o clip da esquerda no ecrã: são apenas 30 segundos de animação surpreendente e original. Depois, abrir o clip da direita onde se visualiza o making of de todo o processo criativo. Aí ficamos assombrados por perceber quão grande esforço, tempo e trabalho foi despendido para conseguir os tais 30 segundos de animação (como a utilização de 150 t-shirts e muitas horas de filmagem!). Maravilhoso.

28 anos sem o mestre


Como a designação deste blogue se refere a um filme (e ao espírito artístico) de Alfred Hitchcock, não podia passar em branco este dia: faz hoje 28 anos que o mestre Hitch deixou a terra dos vivos para partir, quem sabe, para a "Twilight Zone". Imagino que as grandes celebrações para este dia estarão reservados daqui a dois anos, quando se comemorarem 30 anos de desaparecimento do cineasta. A comunicação social tende a celebrar apenas os números redondos. Mas se o fizer, terá porventura de dar atenção primeiro ao próximo ano, já que se vão comemorar 100 anos do nascimento (13 de Agosto de 1899). E sempre é mais mediático celebrar 100 anos do nascimento do que 30 anos de falecimento.
Comemorações à parte (que até não são o mais importante), o que gostaria de referir é que a obra de Hitchcock continua a influenciar muitos realizadores e artistas (ver post sobre Douglas Gordon). A sua marca estilística, o seu refinamento estético, a sua relação com os actores e, acima de tudo, as histórias de suspense que contava nas suas múltiplas obras-primas continuam a servir de referência obrigatória para novas e velhas gerações de cineastas. Ainda há um ano estreou um filme intitulado "Disturbia" que continha toda a linguagem narrativa e visual que Hitchcock estabeleceu (para não referir filmes de 2º e 3º categoria). O realizador Brian de Palma foi um seguidor (para não dizer imitador) acérrimo de Hitchcock no início da sua carreira. Algumas das sequências e imagens mais emblemáticas da história do cinema são da autoria de Hitchcock. Por mais remakes, citações, venerações, cópias, imitações que existam, o seu cinema permanecerá imutável e único. Como uma tela de Pollock ou um prelúdio de Debussy.
Diz-se que Hitchcock era um homem severo, tirânico, crispado, teimoso. Mas talvez tenham sido essas as características que lhe permitiram concretizar, com total liberdade artística, a sua obra (enfrentando a pressão de produtores gananciosos, por exemplo) e que lhe deram reconhecimento internacional. Com os filmes de Hitch, o espectador é um voyeur que gosta de sofrer com o sofrimento dos personagens. É um cinema de profunda sugestão, de jogos de relações, de encantamento, medos e perplexidades. O seu cinema, imenso e de superior qualidade, continuará a servir de modelo para provar que a 7ª arte é mesmo uma arte (cimeira).
Os meus Hitchcock preferidos:
1 - "Os Pássaros"
2 - "Psycho"
3 - "Vertigo"
4 - "A Corda"
5 - "Janela Indiscreta"
6 - "Intriga Internacional"
7 - "Rebecca"
8 - "O Homem Que Sabia Demasiado"
9 - "Sabotagem"
10 - "Os 39 degraus"
...
(nota: todos estes títulos estão disponíveis em edição DVD nacional)

8 1/2 ou 9 1/2?

A cena passa-se no estimável filme "Ghost World" (2001) de Terry Zwigoff.
Cenário: um videoclube. Um senhor de meia idade pergunta ao empregado:
- Tem o filme "8 1/2"?
- Humm... vou procurar no computador.
- Ah, aqui está! "9 Semanas e 1/2" com Mickey Rourke. Está na secção de drama erótico.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

John Carpenter em Moscavide


O facto ocorrido numa esquadra da PSP de Moscavide é digno de um bom filme policial: um jovem que estava a ser alvo de agressões conseguiu fugir e refugiar-se nessa esquadra. Só que a esquadra tinha apenas um polícia e o bando que perseguia o jovem entrou pela esquadra adentro para dar seguimento às agressões. Sem qualquer tipo de oposição, entenda-se. Depois de executada a tarefa de espancamento, o grupo meliante saiu porta fora, com o mesmo à-vontade como tinha entrado.
Este episódio, apesar de real e assaz caricato, serviu de mote a um filme de culto. Trata-se de “Assalto à 13ª Esquadra” (1976), uma obra de culto de John Carpenter. Neste filme há apenas uma pequena variação em relação ao ocorrido em Moscavide: a esquadra onde se passa a acção estava a ser desactivada e um homem refugiou-se nela porque um bando de delinquentes o queriam apanhar. Um polícia e um presidiário que se encontravam, momentaneamente, nessa esquadra passam a defender de forma acérrima a investida assassina dos criminosos. “Assalto à 13º Esquadra” é, no fundo, um western urbano (com reminiscências óbvias do imenso “Rio Bravo” de Howard Hawks) que originou um sofrível remake em 2005.

A liberdade em DVD



Rui Simões é um cineasta que se tem especializado ao longo dos anos a realizar documentários históricos. É um realizador com voz política activa, um militante da velha guarda. Para além do registo que tem feito em filme sobre a nossa memória histórica, Rui Simões tem também dedicado o seu trabalho na realização de documentários sobre teatro (como o documentário "Teatro de Sonhos" sobre o Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos) e bailado, duas áreas artísticas nas quais não é fácil trabalhar.
Sobre o 25 de Abril, Simões realizou dois excelentes documentários editados há relativamente pouco tempo em DVD: "Bom Povo Português" (1980) e fundamental "Deus Pátria Autoridade" (1975). O primeiro versa sobre o período conturbado do PREC; o segundo, de carácter mais didáctico, parte do célebre discurso de Salazar feito em 1936, para revelar os alicerces do regime fascista durante os 48 anos da sua existência até ao 25 de Abril de 1974: o funcionamento da sociedade portuguesa e a sua história desde 1910, a ideologia salazarista, o apoio à Igreja, a repressão e a guerra colonial até à libertação de Abril. Dois olhares essenciais para compreender a evolução de Portugal no Século XX, duas visões históricas que se complementam de forma rigorosa, objectiva e, diria, denunciadora.

Douglas Gordon

Recebeu o famoso prémio Turner e é considerado um dos mais proeminentes artistas actuais. Douglas Gordon é escocês, trabalha sobretudo em vídeo e artes multimédia e os seus trabalhos já foram vistos em Serralves há uns anos. O seu último trabalho é o celebrado filme "Zidane - Um Retrato do Século XXI", que realizou a meias com Philippe Parreno. Influenciado sobretudo por Andy Warhol, Gordon desenvolve a ideia de repetição e de séries, com resultados surpreendentes ao nível da percepção e da memória. Neste capítulo, vale a pena destacar o trabalho sobre vídeo intitulado "24 Hours Psycho" (na imagem), no qual Douglas Gordon reduz o filme de Hitchcock a apenas 2 frames por segundo de forma a ficar estendido durante as tais 24 horas. Numa galeira de arte perto de si...

Dois filmes, uma mesma visão


O que têm em comum os filmes "Grizzly Man" (2005) de Werner Herzog e "Into The Wild" (2007) de Sean Penn? Pouco, na verdade. Mas nesse pouco, parece-me a mim, é capaz de caber uma vida inteira. Quase arriscaria dizer que os títulos destes dois filmes poderiam ser trocados que não se notaria grande diferença. O "Grizzly Man" vive "Into The Wild" e o personagem deste filme sente, basicamente, as mesmas pulsões do defensor de ursos. No fundo, estes dois filmes questionam o lugar do homem no seio da civilização e da natureza, tentando compreendê-la, frui-la, senti-la. De dois modos muito distintos, é certo, mas com desfechos dramáticos muito semelhantes. A vida humana à procura de um sentido no contacto com a natureza primordial e selvagem.

domingo, 27 de abril de 2008

Aqui ao lado


De quando em vez, sabe bem sair do rectângulo geográfico a que chamamos Portugal. E basta colocar o pé em Espanha para sentir quão somos diferentes em muitas áreas, nós e os "nuestros hermanos". A constatação é fácil de fazer: pequenas e médias vilas e cidades espanholas têm mais pujança económica, cultural e turística do que muitas cidades capitais de distrito cá do nosso burgo. Passei por terras galegas nestes últimos dias (Santiago de Compostela, Sanxenxo, Pontevedra, Vigo, La Corunha, O Grove, Baiona) e o que presenciei foi apenas isto: excelente ordenamento urbano, extrema limpeza das ruas, aproveitamento inteligente das potencialidades turísticas de cada região e dos seus recursos naturais, preservação imaculada dos centros históricos, investimento claro no património, na cultura e na tradição (que convive cordialmente com a modernidade), oferta de qualidade e de diversidade no âmbito do comércio, da hotelaria e da restauração, espaços verdes em abundância, arquitectura paisagística de grande impacto e beleza, preservação da história e da arqueologia, ambiente de animação permanente, povo expansivo, simpático e comunicativo por natureza.
O grupo de rock Siniestro Total, de Vigo, lançaram nos anos 80 um álbum com o título "Menos Mal Que Nos Queda Portugal". Nunca percebi a coerência da coisa...
Na imagem, pormenor da baía de Sanxenxo.
PS - Entretanto, soube pelo blogue do Américo Rodrigues que em Vigo vai haver (Junho e Julho) um grande festival de jazz.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Até já


É um stand by breve. Até Domingo estarei fora e longe de internets.
See ya.

No mundo dos Simpsons


No mundo da criação de mundos virtuais, a referência absoluta é o Second Life. Depois, mais prosaico e divertido, existe o Simpsonizeme. No primeiro podemos criar um alter-ego com um mundo imaginado pelo utilizador; no segundo, apenas serve para criar uma figura aproximada à nossa com base no universo gráfico dos The Simpsons.
Este sou eu – The Simpson Who Knew Too Much. Nice to meet you.

Nova modalidade de ler livros

E que tal falar de livros sem… os ler? Hoje já é tudo possível. E já é possível fazer figura de intelectual falando à mesa do café sobre livros e autores que estão na berra mas que nunca lemos ou, no limite, lemos duas ou três passagens. Este livro, “Como Falar de Livros Que Não Lemos?”, pretende isso mesmo: partindo de uma análise a diversas obras literárias, o leitor ficará com uma noção básica sobre o conteúdo e a forma dessas obras e assim pode fazer um brilharete junto dos amigos. Fogo-fátuo, portanto.
O autor do livro, Pierre Bayard, afirma que este manual serve como incentivo à leitura. Apesar de não o ter lido (folheei-o numa livraria), parece-me antes um desincentivo ao exercício da leitura e do culto pelos livros ao potenciar o facilitismo. É um livro presunçoso e pueril, como que a dizer: “não leia ‘Os Maias’, leia este resumo no manual de 20 páginas e é como se o tivesse lido”. É o sintoma da cultura massificada e que privilegia a displicência cultural. Num mercado editorial mimético como o nosso, é mais do que expectável que vejamos brevemente adaptações deste livro conforme as áreas artísticas: “Como Falar dos Filmes Que Não Vimos?”, “Como Falar dos Discos Que Não Ouvimos?” ou, por absurdo, "Como Falar de Perfumes Sem os Ter Cheirado?".

60 revoluções por minuto

Na véspera de mais uma comemoração do 25 de Abril, só me vem à cabeça esta música com esta letra:

60 revolutions per minute
this is my regular speed
So how do you want me to live with it?
How do you want me to live with it?
Without ringing all alarms!
Without overthrowing czars!
Without emptying the bars!
Without screwing with your charts!

60 revelations per minutethis is my regular speed
So how do you want me to live with it?
How do you want me to live with it?
Without ringing all alarms!...

I'm gathering new generation
That's gonna stand up to it
To this karaoke dictatorship
Where posers and models with guitars
Boogie to the shit for beats
I make a better rock revolution
Alone with my dick!

60 por minuto es mi reputaciony
no te estoy hablando de revolucion
hace mucho teimpo q ya no te decian
basta de injusticia, muerte y policia.
Digas lo que digas ya esta todo arregiado
hagas lo que hagas te mandan deportado
el que tiene impone y sobre la ley dispone
mientras que el pobre es pobre,
muere de hambre y otro se la come

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Livro: o mel e o veneno


"Os leitores extraem dos livros, consoante o seu carácter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o veneno."
Friedrich Nietzsche
(A propósito do Dia Mundial do Livro)

terça-feira, 22 de abril de 2008

A força da reposição


Esqueçam as estreias de cinema desta semana, da passada semana ou da que vem. às vezes os melhores filmes que estreiam em sala têm mais de 40 ou 50 anos (como "Playtime" de Jacques Tati e "Imitação da Vida" de Douglas Sirk). Os filmes mais importantes e que realmente interessam são estes dois acima representados. Reposições de duas obras-primas do cinema: "Blade Runner" de Ridley Scott, na versão final do realizador; e "O Estranho Mundo de Jack" de Tim Burton numa versão... 3D.
Por certo, duas sublimes experiências em sala escura a não perder.

O fim da veneração


"O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado."
Albert Einstein

A canção matinal de Bowie

O que têm em comum nomes da música tão diferentes como The Young Gods, David Bowie, Teresa Stratas, Dalida, Ute Lemper, The Doors, Allison Moorer, Marilyn Manson e The Wandering Bards? O ponto em comum é o facto destes grupos/músicos terem feito versões da célebre canção "Alabama Song (Whiskey Bar)" de Kurt Weill (colaborador de Bertolt Brecht em várias óperas e musicais). Neste excerto de um concerto ao vivo de David Bowie, o autor de "Low" começa por dizer que, quando estava a viver em Berlim, cantava todos os dias ao pequeno almoço esta canção. Convenhamos que se trata de uma inspirada versão do clássico de Kurt Weill.
E por falar em versões, vale a pena espreitar este site que reúne as dez melhores e piores covers de sempre, para além de uma extensa lista com muitas versões de canções pop-rock.

Terra das oportunidades


22 de Abril, Dia Mundial da Terra.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

É só escolher


Grandes nomes da música vão actuar no nosso país até final deste mês. Se tivessem uma única oportunidade para ver um, e apenas um concerto, qual seria o escolhido?

a) Nick Cave
b) Mão Morta
c) Diamanda Galás
d) Einstürzende Neubautem
e) Jean Michel Jarre
f) Meredith Monk (na imagem)

Eu nem arrisco responder...

Qual a música do Refogado de Tomate Guloso?

Quer saber qual a música que acompanha um famoso anúncio publicitário veiculado pela televisão? Aquela música do spot do Mercedes SLK 220? Do Santander Totta? Do perfume Gucci? Da bebida da marca x ou y? Se quer conhecer as músicas (e respectivos álbuns, artistas, agências de publicidade associadas, etc) que acompanham estes anúncios de televisão, entre muitos outros exemplos, o melhor é abrir este blogue e colocá-lo desde já nos favoritos: Aquela Música do Anúncio...
PS - Já agora, a resposta ao título do post sobre a música do anúncio do Refogado de Tomate Guloso está aqui.

Erwin Olaf - o belo grotesco


Erwin Olaf é um fotógrafo, designer, artista e realizador holandês. Tem sido granjeado com inúmeros prémios internacionais e os seus trabalhos objecto de aclamadas exposições nas melhores galerias de arte do mundo. Fez também diversos trabalhos para diversas marcas de publicidade, como a Levi's, Diesel ou a Nokia, e design de moda. O seu universo criativo parece, a espaços, ter conexões estéticas com Mathew Barney (autor da série "Cremaster" e famoso por ser marido de Björk). Erwin Olaf tem um espantoso portefólio fotográfico, com imagens altamente encenadas, a meio caminho entre o grotesco felliliano e a ironia surrealista, entre a beleza clássica e a violência gráfica. Aconselho vivamente a exploraração do seu site (um primor de design gráfico e funcionalidade), no qual se podem apreciar em alta resolução e ao detalhe, as diversas séries de fotografias (pode-se fazer zoom in sobre elas!), pequenos excertos de filmes, entre muita informação sobre o seu incrível trabalho. Ver aqui.

A morte na arte ou a morte da arte?


Em Outubro de 2007, um artista desconhecido chamado Guillermo Vargas, mais conhecido por Habacuc, resolveu colocar numa exposição de arte um cão para morrer à fome. Os protestos foram à escala planetária e motivaram, inclusive, várias petições internacionais contra a pretensa crueldade do artista. Para quem se sentiu chocado com esta ousadia artística contra um animal, deverá ler com atenção esta notícia do Público, que dá conta de um artista alemão que quer usar um cadáver humano ou, mais apropriadamente, uma pessoa a morrer por doença terminal como objecto artístico numa galeria de arte. Ao que parece, o artista pretende mostrar que a “morte pode ser bela”. Pois.
Quando a arte põe em causa princípios éticos sobre a utilização da vida (e da morte) humana, as coisas ficam sérias e importa questionar: quais os limites da arte? Que dignidade existe na utilização de alguém morto ou prestes a morrer numa exposição? Qual a margem de oportunismo barato e de marketing comercial por detrás desta opção do artista alemão? A morte sempre foi retratada nas mais diversas formas de expressão artística – da pintura à literatura, da poesia à música, da fotografia ao cinema. Mas uma coisa é retratar a morte de forma ficcionada, outra bem diferente, é utilizar um ser humano que vai morrer a qualquer momento para ser exposto numa galeria de arte! E seguindo o princípio do artista, o que há de belo em morrer de doença terminal, com sofrimento e angústia? Que sentimentos poderiam provocar nos familiares e amigos a pessoa que se sujeitasse a tal exposição pública do seu próprio sofrimento? Sou daqueles que pensa que, paradoxalmente, a morte continua a ser dos últimos tabus da sociedade moderna (já não é o sexo, o aborto, a eutanásia ou outros temas sociais que dividem a opinião pública). Nunca me chocou ver a morte representada na arte, nem sequer me repugnam as propostas artísticas mais radicais e provocatórias (pelo contrário: atraem-me), mas desta maneira?
Apesar de haver quem pense que esta questão implica a ruptura conceptual da arte - como se de uma “Fonte” de Duchamp se tratasse – a questão é bem mais séria e profunda. A matéria artística que Gregor Schneider pretende utilizar é a própria decomposição carnal de alguém, não só captando o momento da morte em si, como também o processo de decomposição cadavérica. É arte? É aberração sem sentido? É transgressão de fronteiras estéticas? É espectáculo fútil e barato? Provocação pueril? Isto é o quê, afinal?
Nota: na imagem, uma das mais célebres representações da morte da história da pintura: "The Death of Marat", pintura de Jacques-Louis David, 1793.

Edição DVD do mês


A edição especial (LNK) de 2 discos inclui, para além do filme:

- Comentários áudio do realizador
- Entrevistas
- Making of
- Em Rodagem
- Ao Vivo
- Galeria de Fotos
- Ovo da Páscoa (extra escondido na edição)

domingo, 20 de abril de 2008

Revoluções musicais

O programa de hoje "Câmara Clara" de Paula Moura Pinheiro, na RTP2, tinha como convidados o pianista e director artístico da Casa da Música Pedro Burmester e o compositor e professor catedrático José Barata-Moura (autor das canções para crianças "Fungagá da Bicharada"). Dada a proximidade do 25 de Abril, o tema do programa foi a revolução na música, ou seja, saber que revoluções houve e há na história da música. Barata-Moura abordou sobretudo a canção política como estética e como instrumento de denúncia política, mas falou também - e muito bem - sobre política cultural. Já Burmester, na sua qualidade de director artístico da Casa da Música, divulgou o interessante programa "Música e Revolução". Um programa deveras abrangente que pretende revelar as estéticas e os músicos/grupos que transgrediram convenções e alargaram os horizontes da música ao longo dos séculos até aos nossos dias, começando em Monteverdi, passando pelos inevitáveis Wagner, Debussy, Schoenberg, Stockhausen, Berio, mas também pelo rock e pelo jazz (Parker e Monk). Apesar de ser um programa abrangente e interessante, como referi anteriormente, não deixa de ser limitado. Isto porque estão ausentes, desse mesmo programa, algumas estéticas e músicos que fizeram verdadeiras revoluções musicais (refiro-me sobretudo ao século XX).

Filmes de terror - o prazer de sentir medo


A propósito de uma reportagem sobre o mestre dos filmes de terror - facção Zombie - George Romero - o semanário Expresso dedica várias páginas do seu suplemento de cultura "Actual" à história dos filmes de terror. Para além de uma brilhante abordagem aos sons e músicas do imaginário do terror escrita pelo João Lisboa, podemos ler uma recensão dos filmes mais marcantes escrita pelo Manuel Cintra Ferreira e uma listagem dos "melhores filmes de terror". Foram seleccionados 16 títulos de terror que, ao longo da história do cinema, foram de uma maneira ou de outra, marcantes na evolução estética do género.
Nessa lista temos tanto Polanski como Murnau; Carpenter como Spielberg; Cronenberg como Fisher. São filmes, todos eles, referêncais absolutas dentro do género de terror e consequentes subgéneros: thriller psicológico, gore, zombies, suspense, monstros... Da lista enunciada há apenas um filme que não conheço: "Kuroneko" (1968) do japonês Kaneto Shindo. Como é natural, uma lista de 16 títulos limita sempre o leque de escolhas, pelo que será por casua desta justificação que faltem filmes como "Poltergeist", "Massacre no Texas", "Hellraiser", "Psico", "Cabo do Medo" ou "A Descida" (talvez o melhor filme de terror dos últimos 10 anos).

Da lista, eis os meus dez filmes preferidos por ordem crescente:

1 - "The Shining" - Stanley Kubrick (1980)
2 - "Os Pássaros" - Alfred Hitchcock (1963)
3 - "A Semente do Diabo" - Roman Polanski (1968)
4 - "Nosferatu" - F.W. Murnau (1922)
5 - "O Exorcista" - William Friedkin (1973)
6 - "Alien, o 8º Passageiro" - Ridley Scott (1979)
7 - "A Mosca" - David Cronenberg (1986)
8 - "Halloween" - John Carpenter (1978)
9 - "A Noite do Demónio" - Jacques Tourneur (1957)
10 - "A Aldeia dos Malditos" - Wolf Rilla (1960)
Nota: na imagem: Jeff Goldblum no filme "A Mosca"

Adolfo Luxúria Canibal - A visão de Maldoror



Há dias, no programa "Quem Quer Ser Milionário" da RTP, apareceu esta pergunta: "quem é o vocalista e líder do grupo Mão Morta?". O concorrente não sabia e estava indeciso entre duas possibilidades apresentadas: Adolfo Luxúria Canibal e Adérito Murmúrio Visceral (grande nome, sem dúvida). Concursos televisivos à parte, este intróito serve para dizer que o vocalista dos Mão Morta é uma das personalidades musicais portuguesas mais interessantes e marcantes dos últimos 20 anos. Já lidei com ele quer em contexto profissional, quer em contexto pessoal, e atrevo-me a dizer que o Adolfo é a maior referência musical para os cultores da cultura alternativa e independente. Tem uma visão artística, política, cultural e social bem vincada em valores que foi adquirindo com as leituras dos autores malditos (Sade, Lautréamont, Bataille, Heiner Müller, Debord, Ginsberg...) e a assimilação das referências estéticas do rock mais experimental.
Os Mão Morta, identidade musical negra e danada, delinearam um imaginário estético próprio, único na forma e no conteúdo a nível nacional (ainda que com óbvias referências a grupos estrangeiros). Os seus discos tiveram, quase todos, uma base temática explorada até ao tutano, expondo as feridas de uma sociedade podre de valores, absorta de referências. O culto à volta do grupo foi-se gerando a partir do segundo álbum, "Corações Felpudos", 1990), fruto de concertos míticos, teatralizados e nos quais Adolfo se expunha como se sentisse na pele o estigma da expiação dos pecados mundanos. As letras soturnas sobre sangue, morte, decadência, raiva, transgressão, insurreição, deram consistência à aura do grupo de Braga.
Agora, numa transmutação artística mais abrangente e ousada, os Mão Morta vão apresentar quarta-feira, na Culturgest, o espectáculo "Maldoror" com base no célebre livro maldito "Os Cantos de Maldoror" do francês Isidore Ducasse, mais conhecido como Conde de Lautréamont. No Expresso deste Sábado, em formato de entrevista, Adolfo Luxúria Canibal expõe, de forma concisa e pragmática (como é seu hábito), a trajectória de 25 anos de vida artística, desde as vivências na Braga conservadora pós-25 de Abril, até à actualidade. Para além de outros aspectos interessantes do seu discurso, o vocalista dos Mão Morta refere que na sua vivência de estudante se vivia a política de outra forma: "A política nessa altura tinha um carácter muito cultural. As pessoas não se limitavam a discutir política ou a ler Marx e Lenine. Lia-se de tudo, discutiam-se muitas ideias, viajava-se muito, falava-se de pintura. A partilha de impressões sobre as mais variadas artes era enorme. Comecei a interessar-me pela literatura antes de me interessar pela música, e o livro "Os Cantos de Maldoror" entusiasmou-me porque só conhecia os clássicos da literatura portuguesa. A leitura de "Maldoror" entusiasmou-me com a violência da linguagem, com as imagens e descrições muito fortes. Todo aquele ímpeto contra Deus, contra a religião e contra o homem, eram ideias e imagens fascinantes para mim, sobretudo por estar inserido numa sociedade altamente politizada logo após o 25 de Abril e numa cidade como Braga."
Parece-me que este discurso de Adolfo seria impossível ouvi-lo da boca de um jovem da sociedade de hoje. Precisamente porque os tempos sociais e políticos são outros, e porque as novas gerações já não sentem o mesmo ímpeto de procurar linguagens artísticas alternativas à cultura dominante. Já não existe essa vontade de libertação e de afirmação por certos ideais utópicos que mobilizavam gerações há 30 anos atrás. O comodismo assentou arraiais, a política é um conceito completamente alheio aos jovens, não incentiva à mobilização, ao combate, à procura de formas alternativas de cultura. Adolfo Luxúria Canibal continua a ser uma voz inconformada, libertária e revoltosa, uma voz que denuncia e remexe nas feridas abertas (ideológicas, sociais ou artísticas).

Nota: na imagem, Adolfo a ler o livro "A Cozinha Canibal" de Roland Topor.

sábado, 19 de abril de 2008

Glass em 12 partes

Sabia-se que Philip Glass seria objecto de um documentário, mais cedo ou mais tarde. Sabe-se agora que vai estrear nos EUA o filme "Glass: a Portrait of Philip in Twelve Parts" do realizador Scott Hicks (o mesmo que fez "Shine" sobre o pianista esquizofrénico David Helffgot). Philip Glass, actualmente com 70 anos, merecia já um filme pelo conjunto da sua impressionante carreira e Scott Hicks passou um ano com o compositor para captar a essência da sua vida e do seu trabalho. Bem-haja Scott! O trailer augura uma bela homenagem.
E por falar em Glass, apetece-me agora ouvir a sua colaboração com o genial Ravi Shankar neste magnífico disco:

Bíblia do ateu


Antes da recente mini-avalanche registada com os vários livros sobre a "ausência de Deus" e o perigo da fé religiosa dos autores Christopher Hitchens, Sam Harris, Richard Dawkins e Daniel Dennett, já o historiador e ensaísta George Minois tinha lançado (em 2004) a bíblia (passe a contradição semântica) do ateísmo: "História do Ateísmo", da Editorial Teorema. Um denso livro de 700 páginas que condensa a evolução das várias formas de ateísmo ao longo dos últimos 3 mil anos até à actualidade, recorrendo à argumentação de centenas de figuras e personalidades da filosofia, história, política, ciência, literatura, etc. Leitura essencial para crentes e não crentes.
Nota: falei dos livros de Hitchens e Harris neste post.

Festival de luxo


Parece difícil para um festival de cinema que tem crescido de ano para ano poder, à 5ª edição, crescer ainda mais. Quem dedique 10 minutos a ler o programa do 5º Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa, ficará abismado com tamanha qualidade e diversidade de propostas. Entre a Competição Nacional e Internacional, os inúmeros workshops e conferências e o suculento programa de documentários musicais - "IndieMusic", há centenas de pontos de interesse para qualquer amante de imagens e música. Uma verdadeira montra do melhor cinema independente do mundo que vai passar entre os dias 24 de Abril e 4 de Maio. É impossível passar ao lado do melhor festival de cinema português da actualidade, e impossível é também poder ver e fruir todas as imensas propostas apresentadas. A não se que alguém peça férias ao patrão para, nesse período de tempo, acampar à porta do Cinema São Jorge, Londres, Fórum Lisboa e Teatro Maria Matos. É uma ideia.

Os caminhos da tradução literária


O suplemento do Público da última semana, o Ípsilon, trazia uma longa reportagem sobre a edição nacional da monumental obra literária "O Homem Sem Qualidades" de Robert Musil. Sobre esta edição já escrevi aqui qualquer coisa. Para além da habitual análise à obra literária em si e respectivo escritor, o jornal dedica ainda três páginas ao tradutor, o crítico literário e professor João Barrento. Esta abordagem jornalística ao trabalho do tradutor não é muito habitual, dado que o tradutor fica quase sempre na penumbra quando se trata de analisar um livro estrangeiro. E João Barrento merece, e muito, que os holofotes se dirijam a ele. Barrento tem uma longa experiência de tradução - sobretudo autores consagrados de língua alemã - e aventurar-se na tradução exigente de uma das grandes obras romanescas do século passado, "O Homem Sem Qualidades" (três volumes, perto de 2000 páginas), é meritório e digno de registo. Barrento tem uma cultura literária muitíssimo apurada e abrangente, e nesta entrevista explica os aspectos principais da tradução de Musil. Demorou 3 anos a concluir a tradução e organização dos dois primeiros tomos do livro. Admirável.
Sempre admirei o trabalho de tradutor. Trabalha quase sempre na sombra do nome do escritor, mas é um elemento essencial para o sucesso e reconhecimento crítico de uma determinada obra. Mas não é, certamente, um trabalho fácil. Existe aquela célebre máxima de raiz latina - que muito atormenta os intelectuais - que diz "tradutore, traidore". Ou seja, a tradução é uma traição (à língua original da obra). Pode ser e pode não ser. Se já é difícil traduzir ficção tão complexa como a de James Joyce, Kafka ou Musil, como será com a poesia? Portugal tem grandes tradutores de várias línguas: Vasco Graça Moura, Miguel Serras Pereira e Frederico Lourenço (que traduziu "Homero") são apenas alguns nomes cujos trabalhos já mereceram prémios. A tradução é um trabalho que exige um extraordinário conhecimento cultural das línguas com que se trabalha. É um trabalho tecnicamente árduo, de grande rigor intelectual e desgastante fisicamente. Conheci uma vez um tradutor português que traduzia autores alemães para português, e dizia que era um trabalho gratificante, mas apenas até certo ponto. Exige muita disciplina e empenho intelectual e nem sempre é reconhecido pelos leitores e pelas editoras, que geralmente pagam mal. E são poucos os tradutores portugueses que conseguem viver apenas deste trabalho.
Traduções à parte, tenho um amigo formado em filosofia que foi aprender alemão para ler no original as obras de Heidegger. Tinha outro amigo que dizia que só lendo Proust em francês é que se conseguia captar as nuances da língua e o conteúdo literário da obra. Por outro lado, houve muitos estudiosos estrangeiros que aprenderam português para ler Fernando Pessoa ou Camões (o escritor italiano Antonio Tabucchi foi um deles). Persiste a sensação de que nas traduções se perde sempre qualquer coisa do original, mas aí a criatividade do tradutor e o seu domínio das línguas é fundamental para fazer esquecer, no espírito do leitor, essa possibilidade.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ikea - ousadia banida


Nas televisões temos assistido à publicidade do Ikea. Geralmente são sempre spots muito bem feitos tecnicamente, sendo que ultimamente têm sido no formato de cinema de animação. Mas em Portugal são apenas difundidos os anúncios politicamente correctos e conservadores. Nalguns países, é outra história: minimalismo formal, sem palavras, curta duração, e humor escatológico e arrojado para uma empresa multinacional como esta. Vejam-se estes três exemplos: aqui, aqui e aqui. Os dois primeiros foram... banidos. Não sei porquê... :)

Um Lynch prematuro


David Lynch é, por excelência, o mestre do cinema bizarro e o autor de uma das mais ousadas cinematografias contemporâneas. Autor de obras tão marcantes como “Eraserhead”, “O Homem Elefante”, “Um Coração Selvagem”, “Lost Highway”, “Mulholland Drive”, ou "Inland Empire", Lynch tem marcado a história do cinema com propostas visuais tão perturbantes quanto enigmáticas. A sua visão estética baseia-se num aturado sentido surrealista e perverso da realidade, em que o lado negro, o sonho, a violência e o amor grotesco se encadeiam de forma sublime. Mas isto já todos sabem (ou quase). O que talvez nem todos saibam é que David Lynch começou a fazer filmes logo após ter concluído o curso de cinema, com a realização de diversas curtas-metragens que já continham todos os ingredientes futuros da sua arte visual. “The Grandmother”, de 1970, é uma curta-metragem que mais parece saída de uma tela de Francis Bacon. Uma experiência audiovisual inquietante (misto de imagem real e animação e no qual o som tem um papel criativo preponderante) e que se refere ao início de carreira de um autor maior do cinema contemporâneo. Pode-se comprar o DVD (com outras curtas-metragens do mesmo realizador) na Amazon.
Já agora, um excerto:

A arte maior que a vida


Repare-se na candura trágica desta imagem: Wolfgang Amadeus Mozart, um dos maiores génios musicais de sempre, no leito de morte, sofredor a compor as últimas notas do "Requiem", é amparado e ajudado pela sua fiel esposa, Konstanze. Nesses últimos e penosos dias, o compositor austríaco vivia debilitado pela doença e pela urgência em cumprir o prazo para terminar a sua última obra. Fora encomendada por um homem encapuzado (recusou identificar-se) que lhe batera à porta dois meses antes. Este homem desconhecido (soube-se mais tarde tratar-se do Conde Walsseg) encomendara a Mozart uma composição muito especial, um Requiem em Ré Menor, alegadamente para a sua esposa que falecera. Mozart, apesar de fragilizado e de estar ocupado com outra encomenda, resolveu aceitar por questões económicas.
Mozart vivia obcecado pela ideia da morte desde o falecimento do seu pai, Leopold. Era também sensível ao sobrenatural e, impressionado pela figura medonha do homem que lhe mandara compor a missa fúnebre, o compositor acabou por acreditar que o Requiem que iria escrever seria para o seu próprio funeral.
O destino pregara uma terrível partida a Mozart: compor uma missa fúnebre para si próprio, com a jovial idade de 35 anos. Requiem é um termo retirado da expressão requiem aeternam dona eis, que significa “dai-lhes o repouso eterno”, e Mozart inspirou-se na obra homónima de Joseph Haydn para levar a cabo a sua imensa obra criativa. E que obra! Apesar do compositor de Viena ter morrido antes de ter terminado o Requiem (foi enterrado anonimamente numa vala comum em Viena!), a viúva Konstanze, por razões económicas, entregou a tarefa da conclusão da obra ao melhor aluno de Mozart, Süssmayer, que declarou posteriormente ser responsável pelo “Santus”, “Benedictus” e o “Agnus Dei”. Há imprecisões históricas sobre qual a verdadeira dimensão da responsabilidade de Süssmayer na conclusão do Requiem, mas é um facto que foi este aluno de Mozart (e não Salieri) a terminar a composição do Requiem segundo as indicações deixadas pelo próprio punho do mestre austríaco.
O magnífico filme “Amadeus” de Milos Forman (1984), vencedor de 8 Óscares, é um excelente retrato da vida e obra de Mozart, ainda que com incorrecções históricas (como a alegada competição entre o compositor Salieri e Mozart). Tom Hulce, notável actor que interpreta Amadeus Mozart, é impetuoso, convincente e estarrecedor, sobretudo nos momentos finais do filme nos quais, precisamente, doente e febril, compõe no limite das suas forças físicas, algumas passagens mais emocionantes do Requiem, como o “Lacrimosa” ou o “Confutatis”.
Seja como for, o Requiem de Mozart é uma das obras mais impressionantes e imortais de toda a História da Música e, certamente, a mais poderosa, genial e emocionante de toda a arte mozartiana: nela se conflui a imensa profundidade melódica das vozes que parecem vindas do além, com a soberba orquestração e jogos dinâmicos. A versatilidade do coro chega, por vezes, a raiar a suavidade dos anjos ou a ira de Deus. Sendo uma obra eminentemente religiosa e cristã, é impossível até para um não crente não ficar indiferente perante a indelével espiritualidade que emana desta obra monumental.

A bandeira de Jasper Johns


Costuma ser o pintor menos conhecido e reconhecido do movimento da Pop Art norte-americana mas a sua obra permanece como baluarte de uma intervenção artística única. Para além de Andy Warhol, de Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg, Jasper Johns foi outro notável ponta-de-lança da pintura da segunda metade do século XX. Aos 5 anos tomou a decisão de ser pintor. E foi toda a vida. Parte da sua obra é também identificada como neo-dadaísta, mas visto ter utilizado inúmeros ícones da cultura de massa, é também incluído na corrente pop. Jasper Johns tem 78 anos e continua a trabalhar. A sua pintura mais famosa é "Flag", de 1955 (na imagem), a representação da bandeira americana que se revelou um ícone cultural da segunda metade do século XX. Johns desconstrói reconstruindo a identidade dos objectos e da sua representação, revelando ironia e apurado sentido plástico e estético.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Chuva, chuva, chuva


I'm singing in the rain
Just singing in the rain
What a glorious feelin'
I'm happy again
I'm laughing at clouds
So dark up above
The sun's in my heart
And I'm ready for love
Let the stormy clouds chase
Everyone from the place
Come on with the rain
I've a smile on my face
I walk down the lane
With a happy refrain
Just singin',Singin' in the rain
Dancin' in the rain
Dee-ah dee-ah dee-ah
Dee-ah dee-ah dee-ah
I'm happy again!
I'm singin' and dancin' in the rain!
Gene Kelly ("Singin' in the Rain", 1952)

A arte de RAP


Leonel Moura, artista plástico e investigador de inteligência artificial (na área da robótica), continua o seu pioneiro trabalho no campo da relação entre a arte e a robótica. Já aqui escrevi sobre o tema. Entretanto, o artista tem patente no seu espaço de exposição - "Leonel Moura ARTe", em Lisboa, os primeiros 12 desenhos realizados pelo robô pintor RAP (Robotic Action Painting). Leonel Moura advoga uma nova forma de expressão criativa com estes trabalhos efectuados por máquinas artificiais, programados para pintarem segundo padrões pré-definidos. Com a tecnologia a determinar o acto "artístico", o conceito de criação artística precisa de uma redefinição (precisa desde Duchamp...), de um novo entedimento conceptual. A tecnologia aliada à arte ou a arte subjugada à tecnologia?

O que se aprende no Imdb

O portal de cinema Imdb.com é um manancial de informação sobre cinema. Já o sabemos. Por vezes dou-me ao trabalho de averiguar o que referem os tops e as listagens que estão anexados ao portal - "os melhores filmes por décadas", "o top dos western, comédias", etc. Quando vi o top de melhores filmes sob o género de "music" (atenção que não é o mesmo que "musical") deparei-me com duas surpresas e uma perplexidade: a primeira surpresa é que no primeiro lugar desta listagem encontramos um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, "O Pianista" de Roman Polanski. É certo que o filme de Polanski tem música tocada por um pianista, mas daí a compará-lo com "Amadeus" ou "Walk the Line", parece-me abusivo. A segunda surpresa é ver o filme "Control" de Corbijn na 7ª posição.
A perplexidade tem a ver com o segundo lugar: o famosíssimo e conhecidíssimo filme do realizador russo Leonid Gadai - "Kavkazskaya Plennitsa, Ili Novye Priklyucheniya Shurika", de 1966, do mesmo cineasta que em 1990 realizou o blockbuster mundial "Chastnyy Detektiv, Ili Operatsiya Kooperatsiya". Deveras desconcertante.

O space rock dos Spacemen 3




“Playing With Fire” é um dos melhores discos rock dos anos 90 (ainda que tenha sido lançado comercialmente em vinil em 1989, marcou o panorama musical da década seguinte). Os Spacemen 3, liderados pelo alucinado (em sentido criativo e não só) Jason Pierce – actualmente nos Spiritualized - foram um incendiário trio de activistas sónicos. Guitarras em ebulição distorcida e riffs em loop minimal repetitivo ecoam neste disco, onde a voz de Pierce parece querer chegar aos céus anfetaminados. É um disco que brinca não só com o fogo, mas com todos os outros elementos: terra, água e ar. Basta ouvir uma das canções mais viscerais alguma vez escritas: "Revolution".

Um certo culto que se extingue


Com o encerramento do cinema Quarteto e a morte de Pedro Bandeira Freire (exibidor, programador) desaparece - ou vai-se extinguindo dramaticamente - uma certa memória do cinema, uma militância passional pela 7ª arte que se torna cada vez mais rara. Bandeira Freire personificava esse amor pelo cinema enquanto expressão artística e cultural de uma geração. No consumo desenfreado e massificado do cinema nos centros comerciais, é impossível fruir o cinema como algo imanente, dada a impessoalidade e a indiferença identitária que essas salas comerciais representam. Não pode haver sentimento de cinefilia numa sala abarrotada de miúdos com pipocas e latas de Coca-Cola. Não há cinefilia quando 90% dos filmes em exibição, semanalmente, são de produção dos grandes estúdios de Hollywood, filmes que se esquecem, as mais das vezes, logo após o seu visionamento e que mais não representam do que fogo fátuo audiovisual. Consequentemente, o espaço público para a programação e exibição do chamado cinema de autor, independente, alternativo, europeu e asiático, tende a afunilar-se perigosamente. Valha-nos os festivais de cinema temáticos (DocLisboa, IndieLisboa, Fantasporto) e a cultura do DVD, cujo mercado é cada vez mais diversificado e virado para a história do cinema, que proporciona continuar a alimentar o gosto pela arte que consagrou Eisenstein.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A diferença de morrer na Índia

É o sintoma doentio da parcialidade da informação televisiva: o noticiário da SIC, naquele momento de flash noticioso com música de fundo e tudo, passam a correr uma série de notícias que são mais fait-divers do que outra coisa. Às tantas, o espectador é confrontado com a notícia: "40 crianças morreram na Índia na sequência da queda de um autocarro". A notícia não durou mais de 15 segundos. Repare-se: 40 crianças morreram de uma só vez num acidente horrível e tem direito a 15 segundos de notícia.
Em contrapartida, os telejornais passam reportagens de 5 minutos sobre o telhado que caiu na freguesia de Nossa Senhora das Neves ou sobre os idosos que não são bem atendidos no Centro de Saúde da Póvoa de Santo Adrião. A morte de 40 crianças foi na Índia, logo, não tem o mesmo impacto informativo e merece 15 míseros segundos de notícia a correr porque tem de se passar para as notícias da bola. Tivesse este acontecimento sido num país ocidental desenvolvido e era notícia de abertura de telejornais, havendo já jornalistas portugueses no local em trabalho de reportagem de uma semana. É a isto que se chama efeitos da globalização informativa, mas o tratamento jornalístico dado a certa informação é mais global nuns casos do que noutros.

A voz

Hoje é o Dia Mundial da Voz. Pouca gente saberá disso, e os que se lembram, pouca importância darão à efeméride. Mas a voz é deveras importante, nas mais variadas áreas, na comunicação oral e na expressão artística. Falar da voz na música é explorar um quase infinito universo de possibilidades expressivas ao longo da história da Humanidade. Desde os primórdios dos tempos que a voz serviu como instrumento musical e as formas de canto do mundo (desde o canto alentejano ao canto de tradição asiática) têm imensas ramificações e configurações estilísticas, estéticas e culturais. Por outro lado, no panorama da tradição vocal ocidental, muito haveria a dizer. E foquemos apenas o século XX: de Frank Sinatra (com o célebre cognome de “The Voice”) até às grandes vozes femininas oriundas dos mais variados género musicais como Maria Callas, Amália Rodrigues, Edith Piaf e às múltiplas experiências vocais levadas a cabo depois da segunda metade do século XX (com Joan La Barbara, Meredith Monk, Diamanda Galás, Fátima Miranda, etc, etc), outorgaram à voz humana uma dimensão criativa e expressiva única.
E quando falo em vozes, é inevitável não pensar nesse extraordinário projecto chamado Le Mystere Des Voix Bulgares, materializado num disco soberbo editado em 1990 (o 1º volume). Os cânticos polifónicos proporcionados pelas vozes búlgaras femininas constituem um documento fascinante da cultura tradicional da Bulgária (ainda que os arranjos tenham claramente uma roupagem contemporânea). As belas melodias, a síncope rítmica perfeita, a expressão tímbrica aveludada e a felicidade com que estas mulheres demonstram quando cantam, são sintomas de uma arte intrinsecamente ligada a um povo, a uma cultura. Há mistério e fascínio sem fim nestas vozes.

Scarlett e Waits


Uma destas imagens será a capa do CD "Anywhere I Lay My Head", o álbum da actriz Scarlett Johansson com versões de temas de Tom Waits. O alinhamento dos temas será como se segue:
1. Fawn
2. Town With No Cheer
3. Falling Down
4. Anywhere I Lay My Head
5. Fannin' Street
6. Song for Jo
7. Green Grass
8. I Wish I Was in New Orleans
9. I Don't Want to Grow Up
10. No One Knows I'm Gone
11. Who Are You?
A edição está prevista para 28 de Maio. Fãs da actriz e de Tom Waits (ou de ambos) fervem em ansiedade para conhecer este trabalho. Entretanto, a revista Blitz na sua edição online informa que já se podem ouvir 3 temas. Ler aqui.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Maldita proibição



Este livro deveria ser de leitura obrigatória para quem tem menos de 25 anos de idade. A esta geração que julga viver num Estado de total libertinagem, que julga que tudo lhes é dado, oferecido e permitido. Que tudo está ao alcance de um clique só porque vivemos nisso a que chamam a aldeia global, tecnológica, digital e ultra-consumista. Há jovens que não acreditam (já testemunhei isso) que antes do 25 de Abril não era possível beber Coca-Cola ou as meninas usarem mini-saias. Que já houve um tempo, não muito distante, que era preciso uma licença do Estado para usar isqueiro ou para uma mulher poder viajar sozinha (sem o marido). Uma época em que um ajuntamento de mais de duas pessoas era suspeito ou que um beijo na rua era severamente punido (com multas e não só). Os miúdos não imaginam que não se podia ouvir a música que se quisesse, nem ler os livros que se gostaria de ler. E se sabem, assumem que se terá passado há muito tempo, num tempo demasiado obscuro para ser lembrado. Nada mais falso.
O jornalista e escritor António Costa Santos compila neste livro "Proibido!" (Guerra e Paz) a extensa listagem de proibições impostas pelo fascismo de Salazar. Algumas proibições eram consideradas sérias e ditadas pela censura, outras eram ridículas e puramente paranóicas. Tudo em nome de uma pretensa moral católica, em prol dos valores da família e da sociedade rural. É um livro de informação útil, simples e pragmática e, não menos importante, de grande rigor histórico. Não é literatura para ganhar prémios, é um livro, acima de tudo, didáctico e pedagógico. Para todos lerem e reflectirem. Começando pela escola.

DVD à la carte


E que tal alugar o filme em DVD sem sair de casa? Sem pagar portes de correio e sem prazos fixos de entrega? Com uma boa selecção de filmes divididos em categorias? Com um serviço rápido e eficiente? Basta pagar uma mensalidade à escolha e pronto. São os videoclubes online. Há duas propostas de qualidade (sou cliente de um deles: Cineteka e Mooxuu.
Uma nova forma de olhar o consumo de filmes e de DVDs.

Pois pois


Mas alguém acha que ela era santinha?

A cultura dos cromossomas


"Afinal, quantas pessoas se interessam pela cultura?, se põem o problema da vida?, do homem?, se põem a interrogação sobre o que nos rodeia? É um erro tocante o imaginar-se que as pessoas cultivadas se interessam pela cultura. A cultura não vem nos livros, nem nos cursos, nem nas salas de conferências, espectáculos, exposições com uísque ou a seco. A cultura é um problema que tem que ver com os nossos cromossomas e tem a dimensão secreta, oculta, privada, íntima, de uma vivência sagrada."
Vergílio Ferreira, in "Contra-Corrente, nº3"

A mania do DVD


Para quem é cinéfilo e colecciona filmes em DVD, é impossível passar ao lado do mais informado e actualizado site sobre o tema: dvdmania é um site recheado de novidades, fóruns de discussão, críticas, procura e venda de títulos, etc. Um manancial de informação que, não raro, se torna viciante. É mesmo uma mania. Aqui.

O atentado a Hitler


Quem é este homem? Ou serão antes dois? Na verdade, são dois homens mas que significam um só. O retrato da esquerda corresponde ao Coronel Claus von Stauffenberg, oficial Nazi e mentor de um complexo plano que conspirou contra a vida de Adolf Hitler. O rosto da direita é do actor Tom Cruise, sobejamente conhecido no mundo do estrelado de Hollywood. Cruise interpreta o papel principal (o de Stauffenberg, precisamente) no muito aguardado filme (estreia nos EUA apenas em Fevereiro de 2009) "Valkyrie", do realizador Brian Singer. "Valkyrie" era o nome de código da operação para matar Hilter no dia 20 de Julho de 1944, uma cuidada operação que pretendia colocar uma bomba por debaixo da mesa de trabalho de Hilter, num reunião de oficiais alemães. A bomba estava escondida numa mala que Stauffenberg colocou estrategicamente ao lado das pernas do ditador Nazi. O conspirador alegou ter de sair da sala e, poucos minutos depois, explode aparatosamente a bomba. Morreram quatro oficiais de Hitler mas este, miraculosamente, escapa ao atentado praticamente ileso (com escassos ferimentos ligeiros). Stauffenberg e os outros colaboradores (altas patentes da hierarquia militar Nazi) foram descobertos e executados sumariamente. Apesar de ter saído com vida do atentado, Hilter nunca mais foi o mesmo, acentuando ainda mais a sua paranóia pela segurança e pelo medo de novas conspirações. Para os historiadores não há dúvidas: se o atentado tivesse tido sucesso, o rumo da história da 2ª Grande Guerra teria sido bem diferente...
Este foi um dos episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial, ainda que nem sempre devidamente explicado e contextualizado. Durante muitos anos permaneceu obscuro. Apesar de já se saber o rumo da história, o realizador Brian Singer promete um filme repleto de acção e suspense, revelando pormenores históricos nunca antes revelados. Depois do êxito do filme "A Queda" (2005), que retratou os últimos dias de Hilter no bunker de Berlim, este "Valkyrie" continuará a explorar o filão histórico do declínio do 3º Reich. Como apaixonado por esse período da história, só tenho a agradecer e a esperar, ansiosamente, por poder visionar esse filme. Enquanto isso, pode-se sempre espreitar o trailer do filme e demais informação no site oficial.