quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Top 2008

Balanço

Último dia do ano. Tal como fiz o balanço no final de 2007, estas são as minhas escolhas para o ano de 2008. Não sei se são as melhores. São aquelas que gostei de desfrutar ao longo do ano. Uma selecção pessoal. Nada mais. Mas há uma confissão a fazer: no fim de um ano de imensa produção cultural, a sensação com que fico é de uma certa frustração incómoda. Isto porque, depois das escolhas feitas, fico sempre com a nítida impressão de que ficaram muitas mais referências de fora que não tive oportunidade de conhecer. Muitos filmes que não vi, muitos discos que não ouvi, muitos livros que não li. A produção cultural é cada vez maior e torrencial a cada ano que passa. Milhares e milhares de objectos culturais são despejados para o mercado, quase indistintamente. Descortinar a qualidade no meio da quantidade é cada vez mais difícil e ingrato.

A própria comunicação social sente-se incapaz de dar vazão a tanta informação. E por isso, certos discos e filmes importantes são por vezes relegados para o fundo da prateleira por falta de espaço editorial ou por conflitos de interesses jornalísticos. Conseguir fazer uma selecção criteriosa dos produtos de qualidade dos que não têm interesse nenhum, exige esforço redobrado do cidadão comum para recolher cada vez mais informação (através de revistas, internet, jornais, rádio…) de molde a definir a sua própria opinião. O tempo é escasso para fruir (e usufruir) as propostas mais interessantes (no fundo, resume-se tudo ao que disse neste post). Ainda há filmes, discos e livros que ainda não conheço mas que provavelmente entrariam para a lista de preferências que se seguem... Agora é esperar que 2009 entre em força com boas e novas propostas.

Filmes:

Ainda não vi “Corações” de Alain Resnais, “A Turma” de Laurent Cantet, “Quatro Noites com Anna” de Jerzy Skolimowski, “O Homem de Londres” de Béla Tarr, “Destruir Depois de Ler” de Ethan e Joel Coen, “A Ronda da Noite” de Peter Greenaway, “Antes que o Diabo Saiba que Morreste” de Sidney Lumet, “Fome” de Steve McQueen, “Gomorra” de Matteo Garrone, “Em Bruges” de Martin McDonagh, “Austrália” de Baz Luhrmann…

1 – “Este País Não é Para Velhos” – Ethan e Joel Coen
2 – “Alexandra” – Alexander Sokurov
3 – “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” – Cristian Mungiu
4 – “No Vale de Elah” – Paul Haggis
5 – “Haverá Sangue” – Paul Thomas Anderson
6 – “O Segredo de um Cuzcuz” - Abdellatif Kechiche
7 – “O Lado Selvagem” – Sean Penn
8 – “Sweeney Todd” – Tim Burton
9 – “The Darjeeling Limited” – Wes Anderson
10 – “Os Falsificadores” - Stefan Ruzowitzky
11 – “Wall-E” – Andrew Stanton
12 – “Nós Controlamos a Noite” – James Gray
13 – “O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford” – Andrew Dominik
14 – “O Orfanato” - Juan Antonio Bayona
15 – “Michael Clayton” – Tony Gilroy
16 – “Joy Division” – Grant Gee
17 – “The Mist” – Frank Darabont
18 – “O Acontecimento” - M. Night Shyamalan

Discos:

Apesar do hype da imprensa, ainda não ouvi discos como Fleet Foxes, Beach House, Dirty Projectors, Bon Iver, Evan Parker, Hercules & Love Affair, Silver Jews, The Dodos, Fennesz, Cut Copy, Hot Chip, She and Him…

1 - Secret Chiefs 3 – “Xaphan Book of Angels Volume 9”
2 - Leila – “Blood, Looms and Blooms””
3 - Clutchy Hopkins – “Walking Backwards”
4 - TV On The Radio – “Dear Science”
5 - Man Man – “Rabbit Habits”
6 - Portishead – “Third”
7 - Bombay Dub Orchestra – “3 Cities”
8 - Metaform – “Standing on the Shouders og Giants”
9 - Tricky – “Knowle West Boy”
10 - Stag Hare – “Black Medicine Music”
11 - Amon Tobin – “Foley Room Recorded Live In Brussels”
12 - Camille – “Music Hole”
13 - Nico Muhly – “Mothertongue”
14 - Gang Gang Dance – “Saint Dymphna”
15 - Devotchka – “A Mad And Faithful Telling”
16 - Girl Talk – “Feed the Animals”
17 – DJ Rupture – “Uproot”
18 - Fuck Buttons – “Street Horrrsing”
19 - Original Silence – “The Second Original Silence”
20 - Santogold – “Santogold”
21 - Firewater – “The Golden Hour”
22 - Matmos – “Supreme Baloon”
23 - Boredoms – “Super Roots #9”
25 - Paavoharju – “Laulu Laakson Kukista”
25 - Vampire Weekend – “Vampire Weekend”
26 - Ladytron – “Velocifero”
27 - The Bug – “London Zoo”
28 - Brazillian Girls – “New York City”
29 - Melvins – “Nude With Boots”
30 - Spiritualized – “Songs in A & E”

Discos portugueses:

Confesso que não fui um ouvinte regular de música portuguesa em 2008. Mas do que fui ouvindo ao longo do ano, gostei de: Deolinda, A Naifa, Mandrágora, Rocky Marsiano, peixe : avião, Linda Martini, Mesa, Melech Mechaya, Mikado Lab, Gala Drop, The Vicious Five, Mão Morta, Dead Combo…

Livros

Queria ter lido (espero ainda ler durante 2009): “Os Nus e os Mortos” de Norman Mailer, “Histórias de Amor” de Robert Wasler, “A Derrocada de Baliverna” de Dino Buzzati, “Contos Completos” de Truman Capote, “Correcção” de Thomas Bernhard, “Castelos Perigosos” de Céline, “Musicofilia” de Oliver Sacks, “O Jovem Estaline” de Simon Montefiore…

1 - “Sonderkommando” – Shlomo Venezia
2 – “Lacrimae Rerum” – Slavoj Zizek
3 – “A Monstruosidade de Cristo” – Slavoj Zizek
4 – “A Filosofia Segundo Woody Allen” - Vários autores
5 – “A Filosofia Segundo Alfred Hitchcock” – Vários autores
6 – “Em Busca do Grande Peixe” – David Lynch
7 – “A Febre” – Jean-Marie Le Clézio
8 – “O Jogo do Mundo” – Júlio Cortázar
9 – “O Homem Sem Qualidades Vol.1” – Robert Musil
10 – “Património” - Philip Roth
11 – “Toda a Música que eu Conheço” – António Victorino D’Almeida
12 – “Homem na Escuridão” - Paul Auster

Edições em DVD

Caixa “John Cassavetes”
Caixa “Hal Hartley”
Caixa “Wim Wenders”
Caixa "Mel Brooks"
“O Estranho Mundo de Jack”
– Edição Especial
“Casablanca” – Edição Coleccionador
“The General – Pamplinas Maquinista” – Ed. Especial
“Vertigo – A Mulher que Viveu Duas Vezes” – Ed. Especial
“Hstória(s) do Cinema” – Jean-Luc Godard
“Holocausto”
“Um Coração Selvagem” – Ed. Limitada
“Eraserhead” – Ed. Especial
"Vem e Vê" - Elem Klimov
“Control” – Ed. Especial
Coleccção Manoel de Oliveira
Coleccção “The Godfather – O Padrinho” – Ed. De Luxo
(...)

Embirrações do ano: Amy Winehouse, Tony Carreira, Tokio Hotel e "Rock in Rio"
Conflito do ano: concertos simultâneos de Leonard Cohen e Lou Reed
Acontecimento do ano: centenário de Manoel de Oliveira e Elliott Carter
Adeus: Luiz Pacheco, Bettie Page, Paul Newman, Sydney Pollack, Heath Ledger, Eartha Kitt, Albert Cossery, Harold Pinter, Humberto Solas, Pedro Bandeira Freire, Arthur C. Clarke
Boa notícia: regresso às bancas da revista de cinema Premiere e experiência 3D no cinema ("Bolt", "Viagem ao Centro da Terra"...). Abertura da Cinemateca do Porto.
Má notícia: encerramento da livraria Byblos. Preço dos livros, DVDs e CDs.

Os escritores na net e as melhores músicas do ano


Ranking dos escritores mais famosos e citados na internet durante 2008. Sem surpresas. Mais interessante é a lista das 100 melhores canções de 2008 ("The Best Tracks of 2008") elaborada pelo site de referência Pitchfork. 100 músicas com descrições pormenorizadas de cada uma delas, respectiva capa do disco e possibilidade de ouvir um excerto dos temas. Um trabalho muito interessante e bem conseguido por parte da sempre eficiente equipa redactorial da Pitchfork. Para quem quiser ouvir, ininterruptamente, as 100 músicas, o site também disponibiliza o download completo. O download pode ser algo lento, porque as 100 músicas "pesam" mais de 700 MB, mas vale a pena porque esta é uma excelente mostra das melhores canções pop-rock do ano que agora finda. Aqui.
E já agora, a lista dos 50 melhores álbuns da Pitchfork.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Discos que mudam uma vida - 41

















Talking Heads - "Little Creatures" (1985)

A poesia visual de Béla Tarr

Se me perguntarem qual o melhor realizador vivo em actividade, muito provavelmente responderia: Béla Tarr. No panorama do cinema de autor contemporâneo, Béla Tarr é o realizador mais talentoso. Mais do que Sokurov, do que Kaurismaki, do que Nuri Ceylan, o cineasta húngaro é o esteta por excelência, o visionário que desenvolveu uma linguagem visual própria (só filma a preto e branco), que abordou a deriva existencial do homem moderno. Os seus filmes são como poemas visuais em permanente estado de graça. Personagens cruas e paisagens desoladoras, histórias minimalistas e místicas (na senda da inevitável referência Tarkovski), fotografia absorvente e intrigante. Depuração plástica a toda a prova. Tarr é um estilista da imagem que joga com a luz e as trevas.
Béla Tarr é um dos mais prodigiosos realizadores que conheço. Filma como se não existisse câmara, como se o olhar do espectador fosse a própria câmara. A forma como compõe a extraordinária "mise-en-scène" dos seus filmes e o modo como opera os longos movimentos de câmara (tem planos-sequência de 10 minutos) são estímulos para os sentidos. Gus Van Sant é um admirador do cineasta realizou o magnífico filme "Gerry" a pensar em Béla Tarr (não só este filme, como também "Elephant"). Conheci o seu trabalho com uma edição em DVD de dosi dos seus mais célebres filmes: "Damnation" (1988) e "Werckmeister Harmonies" (2000), à venda na Amazon.
Béla Tarr é um dos realizadores mais radicais na opção pelo recurso do plano-sequência. Impressiona pela maneira como os seus filmes progridem como se se tratasse de um transe colectivo, que contamina os actores, a encenação e, por consequência, o espectador, desde que este se deixe envolver pelas histórias que se transformam em adágios visuais a preto e branco.
A obra de Tarr mais ambiciosa, bela, negra e épica é o filme "Sátántangó" ("Satan's Tango"), com sete horas de duração. Um espantoso fresco moderno sobre a vida conturbada de uma família rural húngara. Não é um cinema fácil e de aceitação imediata, sobretudo para os espectadores habituados à linguagem "videoclip" do cinema de Hollywood (ou de grande parte do cinema de Hollywood). O cinema de Béla Tarr é um cinema de estilo e austero, de muitas subtilezas visuais, de um ritmo pausado e de grande exigência formal, que solicita do espectador uma atenção e assimilação especiais.
A novidade é que Béla Tarr estreou um novo filme no último festival de Cannes, baseado num conto do escritor policial George Simenon, "The Man From London" (candidato à Palma de Ouro), o qual obteve críticas dividadas. Estranhamente, o filme de Tarr não teve estreia em salas portuguesas (como não tiveram todos os anteriores filmes). Foi lançado directamente no mercado DVD.
Béla Tarr é um assumido "outsider", não tem site oficial, recusa entrevistas de jornalistas, não faz campanhas de promoção dos seus filmes. É um genial artista solitário e misantropo, como tantas das suas personagens dos seus filmes. De seguida, uma sequência do filme "The Man From London", a única sequência disponível no YouTube. É um único plano-sequência de 9 minutos. Repare-se na mestria como a câmara se move e filma todo o espaço em redor, cenários e personagens. Quem mais filma desta maneira em todo o mundo?

Uma espiga para Woody Allen

Woody Allen recebeu mais uma condecoração pela sua carreira e contributo para a arte cinematográfica. Desta vez, vinda da Câmara Municipal da cidade de Valladolid. Trata-se da "Espiga de Honor de la Semana Internacional de Cine de Valladolid - Seminci. Como forma de agradecimento, o cineasta granjeou os quase mil espectadores do Teatro Calderón da cidade, com um concerto de jazz da sua big-band. Depois da passagem de ano, Woody Allen vai deitar mãos à obra ao seu próximo e ambicioso projecto: filmar a biografia do músico Louis Armstrong.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Lynch sobre Badalamenti


"Conheci o Angelo Badalamenti no filme 'Veludo Azul' e, desde então, ele tem composto música para todos os meus filmes. É como meu irmão. A forma como trabalhamos é assim: eu gosto de me sentar ao lado dele no banco do piano. Eu falo e o Angelo toca. Ele toca as minhas palavras. Mas, às vezes, não percebe as minhas palavras, por isso toca muito mal. Então eu digo: 'Não, não, não, Angelo'. E mudo um pouco as minhas palavras e ele toca de maneira diferente. E então eu digo: 'Não, não, não, Angelo' e mudo as minhas palavras. E, de alguma maneira, ao longo desde processo, ele há-de apanhar alguma coisa e eu hei-de dizer: 'É isso mesmo!'. E então ele começa com a sua magia, seguindo por esse caminho certo. É tão divertido. Se o Angelo morasse na casa do lado, eu gostaria de fazer isto todos os dias. Mas ele mora em New Jersey e eu moro em Los Angeles."
David Lynch, in "Em Busca do Grande Peixe - Meditação, Consciência e Criatividade"

domingo, 28 de dezembro de 2008

Black Medicine Music - um vício hipnótico


É um dos discos mais belos e bizarros deste ano. Um disco de puro encanto e sedução. E que eu saiba, passou completamente ao lado da crítica musical portuguesa. Há escasse informação sobre o projecto, mas a que existe é suficiente para tirar o retrato definitivo desta obra tão enigmática quanto estimulante. O nome do projecto dá pelo nome de Stag Hare, cujo mentor é o músico Adam Forkner. Há um ano lançou um disco em edição de autor com uma única e longa faixa, construída com base em ritmos tribais e sonoridades indianas. Depressa se tornou um nome a fixar no panorama da música de cariz étnico e ambiental (mas não world-music). Há poucos meses Stag Hare editou o segundo disco, desta vez pela editora A.Star.
O título do disco é todo um programa de intenções: "Black Medicine Music", constituído por cinco temas (uns com 8 minutos de duração, outros com 10 e 12). E que temas! A música de Stag Hare insere-se numa estética que funde os ambientes sonoros exóticos, rituais e psicadélicos (Médio Oriente, Ásia, resquícios de rock progressivo) e electrónica. Mas a electrónica mal se percebe, por entre os sons de sitars, "drones", tablas, guitarras, flautas, címbalos, vocalizações dolentes e quase imperceptíveis e demais instrumentação, a fazer lembrar uma simbiose improvável de Spiritualized e Ravi Shankar. O resultado da audição ininterrupta de "Black Medicine Music" ("música negra para curar"?) é um estado mental quase hipnótico, meditativo e místico. Sessão rítmico-ambiental minimal-repetitiva (seja lá o que isso for) e ideal para ouvir e saborear, lentamente, ao fim da noite.
Não é por acaso que o crítico Dave Miller atribuiu uma classificação de 9/10 a este precioso e viciante disco. Agora para os que ficaram curiosos em conhecer, eis o bombom: o disco pode ser descarregado aqui. Ou então ouvir três músicas no myspace. Garanto que é um disco que foge a quaisquer estereótipos e catalogações. Não se confina a um estilo, não se parece com quase nada do que se ouviu durante 2008, ou 2007, ou...
Boas audições (sessões de hipnose!).

Um tiro no espectador


Um cidadão americano estava a ver um filme no cinema (não sei qual). Perturbado por uma família que não parava de falar durante a exibição do dito filme, o cidadão avisou que gostaria de ter silêncio para desfrutar do visionamento. Em vão. O desrespeito continuava. Então, o cidadão levantou-se, sacou de uma pistola e disparou contra o pai de família, acertando-lhe no braço. Quantos de nós já pensou em fazer algo do género quando estamos, de forma sossegada e prazenteira, a ver um filme numa sala escura e somos perturbados com conversas de telemóvel, conversas fúteis ou ruídos de pipocas saltitantes? Mas daí até chegar a vias de facto, só mesmo na América.

É caso para dizer: "mamma mia!"

Eu não vi o filme "Mamma Mia" no cinema, mas sei que foi o filme mais visto do ano em Portugal e em muitos outros países. Sei que os Abba voltaram à ribalta com o filme, cilindrando qualquer concorrência musical. Fiquei também a saber que em Inglaterra, a edição em DVD de "Mamma Mia", foi a mais vendida no primeiro dia de vendas. Um estrondo de sucesso, já se sabe. O que eu não sabia era que existia um verdadeiro fenómeno de histeria colectiva à volta da coisa. É preciso ver para acreditar. Isto passou-se nos cinemas em Inglaterra. Por favor não me digam que por cá foi mais ou menos idêntico!... 

sábado, 27 de dezembro de 2008

A morte entra em campo

Assim começa "Noite e Nevoeiro" de Alain Resnais, um brutal documentário sobre os horrores perpretados no campo de extermínio de Auschwitz:

Mesmo uma paisagem tranquila…
Mesmo um campo de colheitas com os
corvos a circular em volta da relva…
Mesmo uma estrada onde passam camponeses…


Mesmo uma vila para veraneio pode
tornar-se num campo de concentração.
Strüthof, Oraniemburg, Auschwitz,
Neuengamme, Belsen,
Ravensbruck, Dachau


Estes eram nomes como quaisquer outros
Em mapas e roteiros turísticos.
O sangue secou.
As línguas tornaram-se silenciosas.
A única visita dos blocos
é feita por esta câmara.


Uma estranha erva cobre agora
as veredas antes utilizadas pelos reclusos.
Já ninguém ousa atravessar
a vedação de arame eléctrica.
Não se ouvem passos, a não
ser os nossos próprios.

Um campo de concentração é construído
como um se fosse um hotel ou um estádio:
Com homens de negócio. Com estimativas.
Com concursos de obras.
E sem dúvida com um ou dois subornos.
Nenhum estilo específico –
Isso é deixado à imaginação:

Os comboios selados e trancados.
Milhares de pessoas compactadas em cada vagão.
Não há dia, não há noite.
Fome, sede, sufocação, loucura.
Uma mensagem cai para o chão.
Será encontrada?
A morte entra em campo.
Neste segundo dá-se a chegada
no meio da noite e do nevoeiro.


Mais desenvolvimento aqui.

Díptico - 44


"Património" e "A Mancha Humana" - Philip Roth

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Eartha Kitt - de cantora jazz a "Catwoman"


A propósito do meu post "25 de Dezembro", há a registar uma actualização no que concerne ao "calendário artístico": para além da morte de Miró e Chaplin, o dia de Natal passará também a ser recordado pela morte, aos 81 anos, de uma das últimas divas do jazz vocal, Eartha Kitt. Orson Welles dizia que era a mulher mais excitante que conhecera. Foi a cantora responsável por uma das canções mais conhecidas do século XX - "Santa Baby", alvo de muitas versões posteriores (como Madonna ou Kylie Minogue). Foi também actriz de televisão e cinema, destacando-se o primeiro papel de Catwoman, que em nada perde em sensualidade e carisma em relação à interpretação de Michelle Pfeiffer em "Batman Returns".
PS - Harold Pinter falhou, por um dia, a "entrada" neste calendário artístico do 25 de Dezembro.

Ainda há mestres no cinema europeu?


Há sinais que mostram claramente que a imprensa escrita deixou de ter jornalistas ávidos de bons debates intelectuais. Desde a morte do escritor e jornalista Eduardo Prado Coelho - provocador e amante de boas tertúlias à volta de filmes e livros - que não me lembro de haver na imprensa debates estimulantes (tirando a polémica titânica entre Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares a propósito do seu livro "Equador").
Quero com isto dizer que achei estranhíssimo que não houvesse reacções (pelo menos que eu me tenha apercebido) a uma crónica do realizador António-Pedro Vasconcelos (APV) sobre o estado do cinema europeu actual. É que a crónica deste colunista e cineasta tem matéria suficiente para estimular opiniões contraditórias. A crónica veio publicada no semanário SOL de há duas semanas e versava sobre a questão "O que é um mestre no cinema?". APV dizia no seu texto que houve dois grandes realizadores que personificavam o epíteto de mestres: Hitchcock e Rossellini (um dos grandes cineastas no Neo-Realismo italiano do pós-guerra, com Vittorio de Sica e Visconti). Apesar de serem realizadores muito diferentes, ambos têm uma marca autoral na história do cinema, ambos teorizaram sobre a função artística do cinema, ambos desenvolveram os adjectivos "hitchcockiano" e "rollelliniano". Na verdade, foram dois cineastas que souberam interpretar os seus tempos e tinham visões muito próprias sobre a realidade e a arte (para além de terem deixado discípulos no cinema). Em suma, duas referências absolutas do cinema europeu (claro que há outras...).
APV refere ainda que o cinema europeu entrou em decadência a partir a da morte do Rossellini (1977). Mais: sem pruridos, diz mesmo que "hoje, no cinema europeu, não há mestres, tal como não há grandes políticos - porque não os pode haver. A verdade é que a última geração de grandes cineastas formou-se num período trágico da Europa, entre duas guerras devastadoras, onde se forjaram os grandes espíritos. Alguns desses mestres morreram precocemente, como Pasolini, Fassbinder e Truffaut, e deixaram um deserto sem remissão: o cinema deixou de influenciar a sociedade, e os cineastas deixaram de ser esses 'faróis', de que falava Baudelaire a propósito dos génios. Numa palavra, onde está o Rossellini dos tempos modernos?"
Eis uma opinião que, como disse no início do post, mereceria uma debate alargado e aprofundado. Isto porque António-Pedro Vasconcelos lança uma série de opiniões pertinentes e audazes. No fim de contas, refere que o cinema europeu, apesar dos mil filmes produzidos por ano, se encontra moribundo ou mesmo morto, sem réstia de mestres com a personalidade e identidade de um Rossellini. Será mesmo assim? Se quisermos ser rigorosos, creio que, de facto, a Europa já não tem cineastas com a envergadura de um Rossellini, de um Godard, de um Bergman, de um Buñuel, de um Kieslowski, de um Antonioni, de um Hitchcock (assim como o cinema americano já tem mestres como John Ford, Orson Welles ou Nicholas Ray). Mas será que este facto representa a morte do cinema europeu?
Não serão exageradas as palavras de APV? Ou será que correspondem à realidade? Uma coisa estou de acordo com o realizador português: o cinema europeu já não suscita novos olhares sobre a realidade à nossa volta, poucos são os filmes que questionam, que arriscam uma linguagem própria, que rompem preconceitos e inventam novas formas estéticas. Continua a haver filmes europeus de qualidade, vindos da Alemanha, da França, ou de Espanha, mas essa linhagem de cineastas imbuídos desse tal espírito forjado entre as duas guerras mundiais, esses já não existem ou são já uma raça em vias de extinção.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Dia 25 Dezembro

Dia 25 de Dezembro. Natal... 
- O calendário católico celebra o nascimento de Jesus Cristo (há quem defenda que nasceu no mês de Junho de um ano ainda incerto). 
-  O calendário científico comemora o nascimento do físico e matemático Isaac Newton (1642).
- O calendário artístico assinala o nascimento da actriz americana Sissy Spacek (1949) e a morte de dois eminentes artistas do século XX: Charlies Chaplin (1977) e Joan Miró (1983). Dia 25 de Dezembro. Natal...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mensagem de Natal com óculos especiais


Vi no cinema "Bolt", o filme de animação da Disney. Sem ter a espessura visual e o arrojo narrativo do magnífico "Wall.E", "Bolt" não deixa por isso de ser um digníssimo filme de animação que diverte miúdos e graúdos. Espanta o grau de sofisticação e perfeição actual da animação digital, mais a mais, tendo em conta que o filme da Disney é projectado num sumptuoso sistema a três dimensões.
Para usufruir das maravilhas do 3D, foi preciso pagar mais 1,5€ pelos óculos especiais. Uns óculos de massa pretos e com lentes leigeiramente escurecidas. Estes óculos especiais fizeram-me lembrar um filme de culto muito interessante de John Carpenter - "They Live" ("Eles Vivem", 1988). O filme de John Carpenter conta a história de um pacato cidadão desempregado que anda à procura de emprego. Um dia, encontra uns óculos escuros que o fazem ver o mundo como ele realmente é e não como as aparências mostram. Um mundo subjugado por uma raça alienígena, que está entre nós, disfarçada de humanos normais. Um mundo que lembra a "Alegoria da Caverna" de Platão (o próprio filme "Bolt" versa sobre o tema, uma vez que o cão julga viver numa realidade que não é "real"). Um mundo povoado por sombras projectadas pela realidade escondida. Um mundo adormecido e submisso por poderes superiores e bem escondidos - é clara a crítica política e social de Carpenter - que impede que se coloquem em causa os problemas da sociedade e as políticas governativas. Com os óculos especiais, muito parecidos com esses do 3D do cinema, o personagem via um mundo de alienígenas de aspecto cavernoso e ameaçador, assim como mensagens subliminares transmitidas pelos diversos media:

Obedeçam!
Comprem!
Vejam TV!
Submetam-se!
Mantenham-se calmos!

John Carpenter, com a metáfora filosófica de "They Live", mostrou como os poderes instituídos (no filme os aliens funcionam como meras parábolas) podem engendrar sistemas de controlo do indivíduo, numa extensão da visão da manipulação social pensada por George Orwell em "1984". Às vezes penso que a ficção se adianta à realidade. Vivemos numa sociedade hiper-consumista como o filósofo Gilles Lipovetsky não se tem fartado de criticar. Esta sociedade na qual julgamos obter a felicidade através de bens de consumo material, através da obediência cega às autoridades que supostamente "sabem" mais do que o comum dos mortais anónimos.
Uma sociedade que precisava de uns óculos especiais para descobrir o verdadeiro mundo oculto, podre e corrupto, que se esconde por detrás de grandes nomes, grandes instituições, grandes políticos e grandes empresas supostamente impolutas. Se pudéssemos usufruir desses decisivos óculos especiais para descortinar a verdadeira realidade que se encobre por detrás das campanhas de solidariedade beneméritas, dos interesses financeiros à escala global, dos jogos políticos de bastidores, das manipulações informativas perpretadas pela comunicação social, das manobras de propaganda económica e política, conseguiríamos ver, não sem perplexidade envergonhada, a perversidade, a vileza, a infâmia, a sordidez, a ganância, a ânsia de poder, e a escória que brota dos seres humanos que se julgam acima de outros seres humanos, limitando o exercício de liberdade individual. Mesmo - e sobretudo - nesta época natalícia. Mas ainda que não tenhamos os óculos especiais para conhecer a verdadeira realidade, teremos sempre uma ferramenta para combater o conformismo e a submissão: espírito crítico.
E é esta a minha "mensagem" de Natal para todos.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A música que Kubrick rejeitou


Alex North (1910- 1991) foi um dos mais brilhantes compositores para cinema da história de Hollywood. Foi nomeado para 15 Óscares mas não ganhou nenhum (só mais tarde receberia um Óscar pela carreira atribuído pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas). Alguns dos grandes filmes da era dourada de Hollywood tiveram a sua invulgar marca musical modernista (fusão de jazz com música erudita): "Um Eléctrico Chamado Desejo" (1951); "Spartacus" (1961); "Cleópatra" (1964); ou "Quem Tem Medo de Virginia Wolf" (1967). O seu legado musical marcou grande parte da criação musical para cinema da segunda metade do século XX, com compositores como John Williams, Jerry Goldsmith ou Hanz Zimmer reclamarem a influência directa de Alex North.
Em 1967, North foi convidado por Stanley Kubrick - com quem tinha trabalhado no filme "Spartacus" - no sentido do compositor compor a música original para o filme "2001: Odisseia no Espaço" (1969), clássico absoluto na filmografia do cineasta. Alex North conta, numa entrevista, que ficou muito entusiasmado com o facto de voltar a trabalhar com Kubrick e com o desafio de musicar um filme tão especial. Ambos tiveram várias reuniões para acertar os pormenores da música. Alex North compôs cerca de 40 minutos de música, quase sem ver imagens do filme. Kubrick demorou muito tempo a aceitar a composição de North e um dia o compositor recebe um telefonema a dizer para não continuar a compor a música. Kubrick mudara de ideias e, como se sabe, optou pelas composições já existentes de Richard e Johann Straus e Ligeti. Música que ficou para sempre associada às imagens da obra-prima de Stanley Kubrick.
Alex North sempre disse que tinha sido uma grande frustração profissional e uma desilusão pessoal o facto de ter composto a música e o cineasta a ter recusado, ainda que concordasse que as sequências com a música dos Strauss resultava muito bem. Como é referido no último número da revista de cinema "Premiere", a música original que Alex North compôs para o filme de Kubrick é, "talvez ainda hoje, a mais famosa partitura rejeitada da história do cinema e, simultaneamente, uma das mais fascinantes." E assim é, de facto. A composição de North, apesar de nunca ter sido utilizada para as imagens do filme, foi editada em CD e merece uma atenção muito especial. É uma música de grande vigor orquestral e energia rítmica, com uma tendência para dissonâncias particularmente marcantes. Claro que agora soa estranho ouvir determinadas sequências do filme de Kubrick com a música composta por Alex North, uma vez que a relação imagens-música que Kubrick engendrou se tornou um paradigma estético difícil de destronar no imaginário do espectactor.
No entanto, acaba por ser um exercício bem interessante ver e ouvir os primeiros 5 minutos do filme "2001: Odisseia no Espaço" com a música inicialmente pensada e composta para o efeito por Alex North. Se conseguirmos a capacidade de abstracção suficiente para esquecermos as imortais composições "Also Sprach Zarathustra” e “The Blue Danube" e escutarmos com atenção a música de Alex North, constataremos que o trabalho deste compositor para o filme de Kubrick foi uma trabalho de grande exigência formal e, acima de tudo, perfeitamente adequado ao poder das imagens (comparar com a sequência original do filme de Kubrick):

O Natal dos Pogues


Shane McGowan - "Fairytale of New York"
A canção definitiva de Natal - de Nova Iorque e de todas as cidades do mundo.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O medo é a pólvora


"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas acções e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, deixam de estar ao nosso nível e transformam-se em inimigos. Deixamos de ser agressores para nos convertermos em defensores. A inveja, a cobiça ou o ressentimento que nos movem ficam santificados, porque pensamos que agimos em defesa própria. O mal, a ameaça, está sempre no outro. O primeiro passo para acreditar apaixonadamente é o medo. O medo de perdermos a nossa identidade, a nossa vida, a nossa condição ou as nossas crenças. O medo é a pólvora e o ódio o rastilho. O dogma, em última instância, é apenas um fósforo aceso. "
Carlos Ruiz Zafón
in "O Jogo do Anjo"

O homem há 80 mil anos


É um daqueles filmes que se pode considerar único na história do cinema: "A Guerra do Fogo" (1981) do realizador francês Jean-Jacques Annaud. Filmado nas paisagens da Escócia, Islândia, Canadá e Quénia, o filme recria o mundo exactamente como era há 80 mil anos, no tempo do nascimento da linguagem. “Guerra do Fogo” conta a história dos homens do período paleolítico nos seus primeiros intentos tecno-evolutivos, a luta pela sobrevivência entre tribos rivais.
Raramente (nunca?) um filme retratou de forma tão fiel e dramática o homem na pré-história. Vemos aqui o homem com a sua linguagem primitiva em pleno desenvolvimento, linguagem essa criada, especialmente para o filme, por Anthony Burgess (linguista e escritor de "A Laranja Mecânica"). Um poderoso e comovente retrato do homem no seu estado primitivo perante o mundo e seus fenómenos ainda mal conhecidos. Óptima fotografia, excelentes interpretações e notável banda sonora (que tem preponderante papel, uma vez que não há diálogos). "A Guerra do Fogo" é um filme essencial não só para ser utilizado como recurso educativo numa aula de história como, também, enquanto objecto para os estudiosos da linguística e comunicação que se interessam pela origem da linguagem, pelas raízes da espécie humana e pelo florescer da razão e das tecnologias a elas associadas.

Estreias anacrónicas


Uma das principais e mais esperadas listas de melhores filmes do ano costuma vir do American Film Institute. Este ano a lista dos 10 melhores filmes do ano é deveras surpreendente:

1 - "O Estranho Caso de Benjamin Button", de David Fincher
2 - "O Cavaleiro das Trevas", de Christopher Nolan
3 - "Frost/Nixon", de Ron Howard
4 - "Frozen River", de Courtney Hunt
5 - "Gran Torino", de Clint Eastwood
6 - "Homem de Ferro", de Jon Favreau
7 - "Milk", de Gus Van Sant
8 - "Wall.E", de Andrew Stanto
9 - "Wendy and Lucy", de Kelly Reichardt
10 - "The Wrestler", de Darren Aronofsky

Há a destacar o facto de, entre os dez primeiros, constarem dois filmes de super-heróis ("O Cavaleiro das Trevas" e "Homem de Ferro") e um filme de animação ("Wall.E"), facto que atesta a aceitação deste género de filmes de acção no seio da crítica. Contudo, pessoalmente, não me parecem dois filmes merecedores de constarem nos 10 melhores do ano. Depois, dizer que dos 10 filmes referidos, apenas dois estrearam já em Portugal ("Wall.E" e "Cavaleiro dos Trevas"). Os outros oito filmes vão estrear nas próximas semanas e meses. É um sintoma da incoerência das estreias de cinema em Portugal, quando sabemos que em cada mês estreiam dezenas de filmes totalmente dispensáveis, constatamos que as obras referenciadas há muito como grandes obras (os novos de Eastwood, Van Sant, Aronofsky ou Fincher) acabam por estrear muito tardiamente por cá. São estreias anacrónicas...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Natal sem Frank Capra?


As televisões portuguesas já têm a programação definida para a quadra natalícia. Para não variar, lá voltaremos a ver, nos vários canais, os inevitáveis filmes do costume: "O Feiticeiro de Oz", "Música no Coração", "Shrek", "Polar Express"...
Ora, um dos filmes que fazia parte do cardápio televisivo por alturas do Naral era o sublime "Do Céu Caiu Uma Estrela" ("It's a Wonderful Life", 1946) de Frank Capra. Há já uns bons anos que não vejo este filme passar nas televisões (será que os programadores televisivos são alérgicos a filmes a preto e branco?), apesar de ser o filme perfeito para a família e que incarna o espírito natalício. "Do Céu Caiu Uma Estrela" continua a ser o melhor exemplo de um filme que, de forma simples e eficaz, transmite a mensagem universal de amor e esperança em época natalícia (e não só). E é uma verdadeira lição de vida, uma vez que o anjo que evita o suicídio do protagonista George Bailey (um magnífico James Stewart) prova que, apesar de todas as vicissitudes e contrariedades existenciais, continua sempre a fazer sentido lutar pelos valores essenciais da vida.
E até pelo facto deste filme de Frank Capra ter sido estreado um ano depois do fim da 2ª Guerra Mundial - numa altura em que o mundo precisava de fé e esperança -, "It's a Wonderful Life" foi considerado, em 2006, "The Most Powerful and Inspirational Movie of All Time" pelo The American Film Institute. Faz todo o sentido.

Um projecto de vanguarda



Tal como o nome indica, "Avant Garde Project" é um projecto de divulgação da música vanguardista do século XX. Por música de vanguarda entende-se todas as formas e expressões estéticas que romperam convenções e inovaram nas linguagens artísticas: electro-acústica, experimental, concreta, minimalismo, electrónica, free-style, etc. A maior parte das gravações disponíveis não têm edições em CD, pelo que as obras musicais foram directamente convertidas de vinil para mp3. Os downloads são gratuitos e ilimitados. O grande contributo de "Avang Garde Project" é que permite conhecer e ter acesso a dezenas de raras composições de vanguarda da música erudita contemporânea, de compositores conhecidos como Bruno Maderna, John Cage, Luciano Berio, Mauricio Kagel, Toru Takemitsu, Harry Partch e muitos outros desconhecidos.
Um verdadeiro tesouro musical a descobrir. Link.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Eno & Jackson


O novo filme do realizador Peter Jackson (autor da saga "O Senhor dos Anéis" e de "King Kong"), intitula-se "The Lovely Bones", encontra-se ainda em filmagens e produção e terá estreia no final de 2009. Trata-se da adaptação de um livro da escritora americana Alice Sebold (com argumento adaptado do próprio realizador) que conta a história de uma jovem que é violada e assassinada e que, a partir do céu, assiste ao sofrimento da sua família e amigos que tentam a vingança. Os actores são Mark Walhberg, Rachel Weisz e Susan Sarandon. "The Lovely Bones" é uma viragem na filmografia de Peter Jackson, desta vez mais virada para o intimismo dramático e fantasista de um história do que à espectacularidade das suas últimas obras (um regresso ao estilo do brilhante filme "Heavenly Creatures" de 1994). A grande novidade deste novo filme de Peter Jackson é o facto da banda sonora original ser composta pelo mítico Brian Eno. Tanto quanto sei, é a primeira vez que o ex-Roxymusic compõe música original para um filme de Hollywood. A colaboração artística entre Jackson e Eno promete resultados muito expectantes, portanto.

Discos que mudam uma vida - 40


U2 - "War" (1983)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O disco de homenagem de Genesis


Genesis P. Orridge (à esquerda na imagem) é uma das figuras mais carismáticas e provocadoras da cena musical experimental. Pelo menos desde que criou os Throbbing Gristle, subversiva locomotiva sonora dos anos 70 que inaugurou uma nova fase da música industrial e noise. A polémica instaurada pelos Throbbing Gristle foi deveras radical, uma vez que, para além da agressividade sonora, exploravam temas como prostituição, ocultismo, serial killers, imagens de campos de concentração Nazi e pornografia. Mais tarde, no início dos anos 80, Genesis P. Orridge criou os não menos importantes e controversos Psychic TV, projecto musical mais acessível mas não menos experimental, laborando numa área algures entre o rock, a electrónica, o punk e o psicadelismo (a vídeo-arte também tem sido disciplina abordada pelo grupo). Os Psychic TV colaboraram com a nata dos músicos e grupos de vanguarda dos anos 80, como os Coil, Hafler Trio, Current 93, Boyd Rice, Stephen Kent, o realizador Derek Jarman, entre muitos outros.
Genesis P. Orridge, com a sua assumida transexualidade (implantou uns seios e veste-se de mulher) é um músico acusado de sofrer de paranóia e de diversas perversões do foro psiquiátrico. Mas não é por isso que deixa de ser uma figura enormemente criativo nos projectos onde se mete (que têm também a ver com a performance, a escrita e a instalação artística). Em 1993 casou com Lady Jaye P-Orridge (20 anos mais nova, à direita na imagem), teclista e cantora que acabou por colaborar com Genesis nos Psychic TV. Ambos formaram durante mais de uma década uma dupla inseparável, quase como se estivessem fundidos um no outro - o visual adoptado por ambos era praticamente o mesmo.
Em Outubro de 2007, Lady Jaye morreu repentinamente de ataque cardíaco (tinha 38 anos). Um ano depois, o viúvo Genesis P. Orridge dedica-lhe um disco intitulado “Mr. Alien Brain vs. the Skinwalkers - in Memoriam”. E o resultado é um dos mais belos e enigmáticos discos dos Psychic TV e pode ser descarregado aqui.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A cultura é desenvolvimento?

Quando pensávamos que os políticos já não conseguiam inventar nada ou ser especialmente criativos nas ideias e nas intenções, afinal ainda vamos sendo surpreendidos de vez em quando - e não me refiro à possibilidade de Manuel Alegre criar um novo partido de esquerda. Falo da secretária de Estado da Cultura, Paula Fernandes dos Santos. A senhora disse ontem em Aveiro que "o parque de infra-estruturas culturais mudou substancialmente" (grande novidade). E por causa disto, vai sendo necessário "pensar na Cultura como factor de desenvolvimento" (inovação total). Referiu ainda que o Programa Operacional da Cultura investiu 400 milhões de Euros para "dotar o país de infra-estruturas susceptíveis de dinamizar as comunidades locais". Por conseguinte, Paula Fernandes dos Santos, salientou a ideia que "pensar na cultura não é só no lado contemplativo, mas também como factor de desenvolvimento" (tirada filosófica do ano?)
É verdade que o Governo lançou o Programa Operacional da Cultura para dotar o país de melhores estruturas culturais (cine-teatros, teatros municipais e recuperação de outros equipamentos culturais degradados). Mas vir dizer agora, e só agora, que por causa disso é preciso pensar na cultura como factor de desenvolvimento, quase dá vontade de rir. Parece uma afirmação proferida como se fosse a descoberta da pólvora. De facto, quem alguma vez pensou, antes desta senhora Secretária de Estado, na cultura como instrumento de desenvolvimento? Pelo menos desde a antiga Grécia até agora, mais ninguém.
Para além do mais, com esta última frase, Paula Fernanda dos Santos acaba por atestar que o Ministério da Cultura nunca teve (ou não tem) uma política cultural com objectivos próprios focalizados nesse tal desenvolvimento. O que tinha apenas era uma política de apoios financeiros para construir equipamentos e, claro, conceitos teóricos e noções contemplativas sobre cultura. Visão estratégica de desenvolvimento cultural para o país a partir de uma política concertada de apoio a nível nacional, isso parece que os políticos nunca tinham pensado. Bem, até agora, pelos vistos. Esperemos que daqui a um ano, na véspera das eleições, não venha a senhora Secretária de Estado da Cultura dizer que a cultura também precisa de dinheiro para os teatros e centros culturais deste país poderem fazer coisas como programação cultural de qualidade. Isso era o cúmulo da ousadia e do risco. Os teatros nacionais que se governem sozinhos, ora.
A cultura como factor de desenvolvimento? Humm...

Led Zeppelin, perdão, Dread Zeppelin

Bandas de "covers" há muitas por esse mundo todo. Portugal incluído. Mas creio que nenhuma se assemelha aos Dread Zeppelin, banda americana especializada, desde 1990, em versões do rock clássico americano. E muito especialmente, dos Led Zeppelin. O seu vocalista, chamado Tortelvis (!), é uma figura quase felliniana. O humor algo tresloucado da banda, o visual e a fusão de estilos tornaram-nos uma banda de culto. O conceito de "cover" assumiu novos contornos com os Dread Zeppelin: mais criatividade, mais arrojo, mais trabalho artístico geral. O tema "Heartbreaker", original da banda de Jimmy Page e Robert Plant, foi o tema que catapultou os Dread Zeppelin para a ribalta. Basta ver o vídeo para perceber porquê.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O exemplo de Kirk Douglas


É um dos últimos mitos vivos do período clássico de Hollywood. O lendário actor Kirk Douglas, 92 anos de idade, 60 de carreira, deixou o cinema há meia dúzia de anos. Foi um dos grandes intérpretes do cinema de época de Hollywood com filmes como "Spartacus" (1960) ou "20 Mil Léguas Submarinas". Depois de ter deixado o cinema, dedicou-se à escrita das suas memórias. Precisamente para promover esse livro de memórias que foi editado há um ano, intitulado "Let's Face It", Kirk Douglas criou uma página no Myspace como veículo de divulgação na Internet. O pai do actor Michael Douglas gostou da experiência. Achou de tal forma interessante a plataforma comunicacional digital e o tipo de interactividade com o público, que Douglas decidiu manter o diário na Internet que dura até hoje.
O blogue do Myspace é actualizado com regularidade e Kirk aborda os mais variados assuntos relacionados com política, sociedade e cinema. Diz que gosta de partilhar opiniões com cibernautas muito mais novos do que ele. Tem mais de 4500 "amigos" registados na sua página, com os quais troca ideias e argumentos sobre os temas que gosta de dissertar. Com 92 anos, Kirk Douglas mantém energia e interesse em aprofundar a ligação com o mundo exterior recorrendo à internet e suas ferramentas de comunicação. Tanto é assim, que em Hollywood é considerado o actor famoso mais velho a utilizar um blogue como forma de comunicação. Pegando neste exemplo, seria interessante que Manoel de Oliveira se convertesse às novas tecnologias e imitasse a atitude de Kirk Douglas.
Link da página de Kirk Douglas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Jodorowsky - cineasta maldito


É um dos grandes cineastas malditos e de culto da história do cinema da segunda metade do século XX - Alejandro Jodorowsky. E bastaria um único filme para atestar esta premissa: "The Holy Mountain" (1973). Jodorowsky mudou-se nos anos 50 para Paris onde viveu e conheceu os escritores Fernando Arrabal e Roland Topor, com quem fundou o mítico grupo teatral "Movimento Pânico" (fundia humor e terror). É também conhecido como escritor e autor de banda desenhada (ou novelas gráficas).
Há um dado curioso em relação ao filme "The Holy Mountain": o cineasta chileno foi financiado inteiramente por John Lennon e Yoko Ono para fazer realizar o filme, visto que estes ficaram impressionados com o seu filme anterior, "El Topo" (1970). "The Holy Mountain" é um filme iconoclasta, repleto de misticismo e simbolismo, e situações completamente inusitadas. Provocador face à religião e seus rituais, Jodorowsky subverte e corrompe quaisquer referências religiosas e sexuais com uma linguagem visual irreverente e um sentido de humor absurdo. Conta-se que, para fazer este filme, o realizador esteve vários dias sem dormir ao lado de um mestre Zen. Influenciado pelo imaginário estético mais bizarro de um Fellini e pelo surrealismo de um Luís Buñuel, Alejandro Jodorowsky - que chegou a estudar mímica com Marcel Marceau - tornou-se num cineasta de culto reverenciado por nomes como David Lynch, David Cronenberg ou George Romero.
Ver trailer de "The Holy Mountain".


Um pai de família a preceito

Ouvi a notícia na rubrica do Nuno Markl na Antena 3. Tem tanto de cómico como de ridículo (e de triste, acrescentaria). Um jovem casal holandês, Heath e Deborah Campbell, tem três filhos. Tudo de normal, até agora. O elemento que distorce esta aparente anormalidade é o facto de Heath Campbell ser um acérrimo... neo-nazi. Ora, como bom neo-nazi que é, Heath nega a existência do Holocausto, odeia de morte os Judeus e venera o fascismo alemão até às últimas consequências. Para provar o seu amor pela causa, resolveu baptizar os seus três filhos com nomes a preceito. Então é assim: uma filha chama-se JoyceLynn Aryan Nation Campbell; a outra, Honszlynn Himler Campbell. E, crème de la crème, o filho mais novo, que acaba de fazer três anos, dá pelo singelo nome de Adolf Hitler Campbell! E logo com uma carinha de anjo. Ao que parece, o diligente neo-nazi ficou indignado pelo facto de uma pastelaria se ter recusado a confeccionar um bolo de aniversário para o filho por causa do infame nome. Convenhamos que não é todos os dias que se pode ver escrito, com creme de chocolate num bolo de aniversário, a dedicatória "Happy Birthday Adolf Hilter!". O pudor, a dignidade intelectual e o respeito pela memória de 6 milhões de judeus mortos no Holocausto terão pesado na consciência do pasteleiro e, consequentemente, na nega ao pedido. Há estigmas e estigmas na vida. Mas o estigma que esta pobre criança, Adolf Hitler Campbell, vai carregar às costas até morrer, é daqueles estigmas que nem Jesus Cristo conseguiria suportar. Ele há coisas...
A notícia mais desenvolvida e com fotografias, aqui.

Díptico - 43



"The Sacred Cinema of Andrei Tarkovsky" - Jeremy Mark Robinson
"Andrei Tarkovsky - Elements of Cinema" - Robert Bird

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Os primeiros grandes filmes



Muitos foram os realizadores que construíram uma carreira de grande reconhecimento artístico sem terem realizado um primeiro filme particularmente impressionante. Outros, pelo contrário, estrearam-se na sétima arte de forma tão fulgurante que depois nunca mais conseguiram igualar a qualidade desse primeiro filme. Mais raro e difícil ainda, são aqueles cineastas que, não só realizaram uma primeira obra deveras espantosa, como também conseguiram manter, ao longo da carreira, um percurso artístico de grande fulgor e personalidade.
Ou seja, cineastas que fizeram uma primeira longa-metragem de grande impacto (pela invocação estética, pelo argumento, pela temática, pela realização, ou tudo isto junto) que perdurou como uma marca de autor, de singularidade criativa. É sobre estes realizadores que me debruço, os que fizeram uma estreia no cinema quase apoteótica e conseguiram manter o nível. Num exercício de memória mais ou menos imediato, reuni os seguintes primeiros filmes que conjugam as características que mencionei: primeiríssima longa-metragem de inquestionável qualidade que significou uma assinatura artística e estilística para a posterior carreira do respectivo realizador. E não é difícil começar pela referência mais óbvia: "Citizen Kane". A lista não obedece a especiais critérios (nem de qualidade, nem cronológicos). Certo é que faltarão outros filmes e realizadores. Para isso fica este post aberto a contribuições e comentários dos leitores.
"Citizen Kane" (1941) - Orson Welles
"Reservoir Dogs" (1992) - Quentin Tarantino
"Sexo, Mentiras e Vídeo" (1989) - Steven Soderbergh
"A Infância de Ivan" (1962) - Andrei Tarkovski
"O Sangue" (1989) - Pedro Costa
"Pee-Wee's Big Adventure" (1985) - Tim Burton
"Mean Streets" (1973) - Martin Scorsese
"Há Festa na Aldeia" (1948) - Jacques Tati
"Blood Simple" (1984) - Joel and Ethan Coen
"Faca na Água" (1962) - Roman Polanski
"Un Chien Andalou" (1929) - Luís Buñuel
"A Bout de Soufle" (1959) - Jean-Luc Godard
"A Noite do Caçador" (1955) - Charles Laughton
"Pi" (1998)- Darren Aronofsky
"Os 400 Golpes" (1959) - François Truffaut
"Eraserhead" (1977) - David Lynch
"Amor Cão" (2001) - Alejandro Gonzalez Iñarritu
"Shadows" (1959) - John Cassavetes
"Europa" (1991) - Lars von Trier
"O Sétimo Continente" (1989) - Michael Haneke
"Les Dames du Bois de Boulogne" (1945) - Robert Bresson

Nota: na imagem, "Pi" de Darren Aronofsky

Arcade Fire em documentário



Os Arcade Fire lançam hoje, segunda-feira, o DVD "Mirror Noir", um documentário sobre as gravações do magnífico disco "Neon Bible" (considerado um dos melhroes de 2007) e, ainda, excertos de concertos ao vivo. Para os muitos fãs portugueses da banda, não deixa de ser uma excelente notícia. O DVD encontra-se apenas à venda pela Internet, através do sítio dos Arcade Fire.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Rua Sésamo: aula de bateria

Egas ensina Becas como tocar rápidos e tecnicistas "blast beats" na bateria. O resultado é de puro domínio rítmico (com acompanhamento visual):

Na realidade, quem toca bateria é Derek Roddy.

Mais uma onda de proibições

O Vaticano revelou, uma vez mais, não querer acompanhar a evolução da ciência, da medicina e do conhecimento humano. Depois da proibição da utilização de preservativos como método anticoncepcional e anti-Sida, depois de ter “inventado” novos pecados a evitar pelos cristãos, o Vaticano mantém-se, obstinadamente, agrilhoado aos dogmas religiosos que cegam a racionalidade mais primária. Desta vez lançou novas proibições e condenações aos fiéis que defendam ou recorram às seguintes práticas médicas: pílula do dia seguinte; criopreservação de ovócitos e embriões; fertilização “in vitro”; a investigação com células estaminais embrionárias; clonagem reprodutiva com fins terapêuticos; diagnóstico genético pré-implantatório para evitar defeitos genéticos dos embriões; em suma, o Papa Bento XVI condena ao fogo eterno praticamente todas as tecnologias modernas de reprodução e tudo o que cheire a inovação científica. Um dos argumentos invocados pelo Vaticano para este repúdio pela utilização das novas tecnologias reprodutivas tem a ver com as gastas “questões morais inaceitáveis.” Outro motivo assumido reza assim: “Na tentativa de criar um novo tipo de homem, entrevê-se uma dimensão ideológica em que o homem pretende substituir-se ao Criador.” Parece-me que o conflito entre religião e ciência vai continuar a alastrar por décadas ou séculos. É que os últimos anos tem revelado uma proporção directa entre a evolução da sociedade e do conhecimento e as manifestações de conservadorismo e dogmatismo da Igreja Católica. Custa-lhe ao Vaticano perceber que o progresso da ciência substituiu, há muito tempo, os dogmas religiosos seculares. Os cardeais e arcebispos e demais hierarquia do Vaticano continuam agarrados a ideologias que perderam sustentabilidade há muito tempo. E uma Igreja parada no tempo é mais prejudicial do que se possa pensar para uma sociedade evoluída em termos culturais, tecnológicos e científicos. Uma sociedade em constante transformação à qual a Igreja fecha os olhos.
Afinal de contas, será que o Vaticano não percebe que já não prega para um mundo ignorante e alienado como aquele que ajudou a cultivar na idade média? Há algum tempo atrás, D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa, disse ao Público: “O ateísmo e a indiferença em relação a Deus constituem o maior drama da Humanidade.” Eu contraponho, dizendo: “A ignorância e o dogmatismo em relação à religião constituem o grande drama da Humanidade.”
Mais aqui.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cápsula do tempo - guardar a memória

Um dia Andy Warhol lembrou-se de guardar, em caixas de cartão, objectos do dia-a-dia. Objectos que iam de desenhos a canetas, bilhetes de cinema ou discos de estimação. A ideia é que essas caixas (centenas delas) servissem de marcas de uma época, e que fossem abertas muitos anos depois da sua morte. Warhol chamou a estas caixas de “Cápsulas do Tempo”, conceito que remete para a salvaguarda da memória colectiva e que ainda hoje acolhe defensores e praticantes.  É um desafio interessante pensar que objectos guardaríamos, pessoalmente, como referências culturais e sociais do nosso tempo, para servirem de testemunhos para o futuro (daqui a dezenas ou centenas de anos). Esse desafio foi lançado pela revista Sábado, convidando várias personalidades para escolherem sete objectos para a “Cápsula do Tempo”.

As minhas escolhas seriam estas:

  1. Os discos “Closer” e “Unknown Pleasures” dos Joy Division
  2. Filmografia completa de Andrei TarkovskiJacques Tati e Michael Haneke
  3. A trilogia “Qatsi” (DVD) de Godfrey Reggio/Philip Glass
  4. O livro “As Benevolentes” de Jonathan Littell
  5. Um caderno Moleskine com apontamentos
  6. Um computador portátil MacBook
  7. Uma guitarra eléctrica Fender Telecaster
Nota: a minha cápsula do tempo deveria ser aberta em 2069.