quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Momentos e Imagens - 53


Frank Capra e Alfred Hitchcock

Alfred Hitchcock e Ingrid Bergman

Alfred Hitchcock na rodagem de "Janela Indiscreta"

Alfred Hitchcock e François Truffaut

All work and no play

Cada vez me convenço mais que Jack Torrance tinha razão quando escrevia, obsessivamente, na sua máquina de escrever: "All Work and no Play Makes Jack a Dull Boy".

Perspectivas sobre o ferro de engomar


"Cadeau" de Man Ray é uma das obras mais emblemáticas do dadaísmo. Este ferro de engomar com pregos, um "ready made" na linha dos trabalhos de Marcel Duchamp, desafia a lógica racionalista da utilização de objectos do quotidiano. Isto é, o artista usa um objecto do dia-a-dia e recontextualiza-o esteticamente.
Vem isto a propósito de uma curiosa passagem do livro "A Volta ao Dia em 80 Mundos", de Júlio Cortázar. Conta o escritor argentino que, numa exposição em Genebra na qual se expunha esta obra de Man Ray, duas mulheres conversavam sobre a estranha obra de arte:

- No fundo não é assim tão diferente do meu ferro de engomar.
- Como assim?
- Sim, com este picas-te e com o meu queimas-te.
______________
Moral: o pragmatismo pode ser um bom critério de avaliação artística.

O sangue em Tarantino


Quentin Tarantino, ainda a gozar das boas críticas ao seu recente "Inglourious Basterds", disse em Londres (na Academia de Cinema e Televisão), que a violência é o elemento mais atractivo do cinema. "A violência é genial, vês um filme porque há violência e esta afecta o público de forma tremenda", referiu o cineasta. Para que um filme seja impactante, Tarantino defende que se deve mostrar muito sangue no grande ecrã porque "quando alguém recebe um tiro no estômago, deve sangrar como um porco e isso é o que quero ver, não uma pequena e insignificante mancha vermelha no meio da barriga", defendeu.
Nada que já não se soubesse das intenções do cinema de Tarantino. O seu gosto pela violência explícita, fortemente influenciado pelo cinema violento de Sam Peckinpah, cedo se revelou no filme de culto "Cães Danados" (1992), com Mr. Orange (Tim Roth na imagem) a esvair-se em sangue durante tormentosos minutos. No entanto, apesar das palavras de Tarantino não soarem a novidade, encaro-as como algo redutoras e até simplistas do seu cinema. Os filmes de Tarantino são muito mais do que mera apologia da violência gráfica, até porque não concordo que a violência seja a coisa mais atractiva no cinema, como refere o realizador de "Kill Bill". Felizmente que continua a a haver muito e bom cinema sem que haja recurso a violência - pelo menos violência visual.
Basta lembrar o cinema do recém desaparecido Eric Rohmer, autor de um cinema altamente depurado, narrativo até à medula, com recurso à palavra e ao mais puro do realismo. E, sem quaisquer resquícios de violência ou de sangue, não é por isso que o seu legado cinematográfico deixa de ser rico e grandioso.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um mundo melhor com Nic Cage

Não sei qual é a fixação do autor do blogue Nic Cage as Everyone com o actor Nicolas Cage, mas que é uma fixação valente, lá isso é. O lema é simples e directo (e muito irónico, claro): "Tudo no mundo seria melhor com mais Nic Cage - O actor mais versátil e original da sua geração." Sim, claro.
À base de muito trabalho de Photoshop e de consideráveis doses de humor (negro, por vezes), o rosto de Cage surge em múltiplas cenas famosas de filmes, encarnando outros actores ou figuras históricas e políticas. O blogue é um sucesso, claro está, porque pensando bem, o mundo poderia ser mesmo um sítio melhor se houvesse mais Nic Cage.
(clicar para melhor visualização)




Hendrix do fundo do baú

Um "novo" disco de Jimi Hendrix vai para as lojas no dia 8 de Março, 40 anos depois da morte do guitarrista famoso. A mim cheira-me mais a uma manobra de marketing do que outra coisa, porque decerto que esse novo legado musical de Hendrix resgatado ao esquecimento poderá competir com temas musicais geniais como este:

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A História contada por Oliver Stone


Segundo o jornal i, o realizador Oliver Stone continua a desbravar caminhos políticos inauditos. Depois de ter feito documentários sobre Fidel Castro e Hugo Chávez (absolvendo-os politicamente), depois de ter procurado conspirações internas na morte de John Fitzgerald Kennedy, de ter criticado duramente George W. Bush, de ter criado um presidente Nixon amorfo, Oliver Stone investiga agora as raízes mais obscuras da história norte-americana com uma mini-série de dez horas intitulada - "The Secret History of America".
O título deste trabalho é, já por si, todo um programa de intenções. Nele, o realizador de "Platoon" quer mostrar como corporações americanas ajudaram financeiramente o partido nazi alemão. Parece-me bem denunciar certos fenómenos históricos que se encontram ainda algo encobertos pela poeira dos tempos. O que já me parece abusivo e deturpador da verdade histórica é a tentativa, já revelada nas próprias palavras de Stone, em branquear a figura política, militar e histórica de Adolfo Hitler: "O líder nazi Adolf Hitler foi um bode expiatório fácil ao longo da história. Não podemos julgar as pessoas apenas como 'más' ou 'boas'. Hitler é o produto de uma série de acções. É uma relação de causa e efeito."

Sobre Estaline, o cineasta diz que nada tem a ver com Hitler: "Não quero pintá-lo como um herói, mas tento fazer-lhe uma representação mais factual. Lutou contra a máquina alemã mais do que qualquer pessoa." Eu acho estas declarações absolutamente infelizes, demagógicas e manipuladoras, e farão as delícias dos movimentos fascistas e neo-nazis. Depreende-se das palavras de Stone que devemos desculpar Estaline porque foi um bravo combatente de Hitler (sobretudo na decisiva batalha de Estalinegrado). E o reinado de terror que durou 30 anos às mãos deste maníaco assassino em massa, responsável pela aniquilação de mais de 25 milhões dos seus próprios concidadãos inocentes, encerrando 18 milhões nos infames campos de trabalhos forçados (Gulags)? E quererá Oliver Stone fazer-nos crer que Hitler não passou de um "produto de uma série de acções", sem responsabilidades na consumação dos maiores acontecimentos trágicos de toda a História da Humanidade (2ª Guerra Mundial, Holocausto, campos de extermínio)?
Repugna-me pensar que, em pleno Século XXI, após o crescimento dos movimentos pró-criacionistas norte-americanos que negam a Teoria da Evolução darwiniana e seguem literalmente as profecias bíblicas, se difunda à custa da nova mini-série de Oliver Stone, a ideia que Hitler, afinal, é apenas um triste e irresponsável "bode expiatório fácil ao longo da história".

Morreu um contador de histórias


"Não devo o meu sucesso aos subsídios do estado, mas a um público com fé que me sustenta", disse uma vez Eric Rohmer. O realizador francês, figura charneira da Nouvelle Vague, morreu hoje aos 89 anos. Apesar de gostar da série de contos das quatro estações do cineasta francês - "Contos de Primavera", "Contos de Verão", "Contos de Outono" e "Contos de Inverno", na década de 90, a verdade é que, como cinéfilo, nunca me considerei um "rohmeriano". Apenas por uma questão de gosto estético. No cinema de Rohmer aprecio a frescura narrativa, a procura do realismo, o intimismo visual, a realização contida. Um notável contador de histórias, simples e directas, com gosto pela abordagem moral da condição humana.
2010 começa, pois, mal para a história do cinema.

Discos que mudam uma vida - 90


Squarepusher - "Hard Normal Daddy" (1997)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Perguntas indiscretas - 16


Afinal, qual deve ser a classificação etária mais correcta para ver o filme "Avatar"?
Nos EUA é permitido apenas para maiores de 13 anos, por cá, a Comissão de Classificação de Espectáculos, colocou a fasquia mínima a partir dos 6 anos. Qual a razão de tamanha discrepância na avaliação de um mesmo objecto? Quem está certo? Os portugueses ou os americanos?
Quanto a mim, a classificação para maiores de 6 anos é um total disparate. Mais: é irresponsável. "Avatar" contém muitas e intensas cenas de batalha, morte, violência e destruição, para poderem ser vistas por uma criança de 6 ou 7 anos (já as crianças de 12 ou 13 anos têm maior maturação psicológica e estrutura de personalidade para compreenderem o conteúdo das imagens). Por outro lado, a Comissão de Classificação de Espectáculos deveria ter tido em conta mais dois critérios decisivos para a atribuição da classificação etária: a duração de quase 3 horas do filme de James Cameron e a utilização dos óculos 3D durante esse período de tempo. Apesar de não haver estudos científicos sobre os eventuais danos na utilização prolongada dos óculos especiais, a verdade é que muita gente sente dores de cabeça (eu próprio), náuseas e desconforto visual. Como é que crianças de 6 anos suportam tamanha informação visual, aliada ao cansaço do processo de visionamento e às sequências de violência de "Avatar"?

Poesia num saco de plástico a voar

sábado, 9 de janeiro de 2010

A música de "A Estrada"


Estou mortinho para ver o filme "A Estrada". Mais ainda porque só agora vi o fabuloso trailer acompanhado com uma música que achei magnífica. Fui investigar e descobri que a banda sonora original do filme de John Hillcoat é da autoria de Nick Cave e Warren Ellis (músico que acompanha Cave há longos anos - ambos pertencem aos Grinderman).
Podem ouvir-se excertos da criação musical de ambos aqui.

A colheita musical de 2010


Tudo indica que 2010 vai ser um ano de boas colheitas musicais (no género pop-rock). Novos discos estão já anunciados das seguintes bandas/músicos (a selecção é minha, não fiz "copy paste" de uma lista já existente):
Goldfrapp, Interpol, Radiohead, Arcade Fire, Beastie Boys, Strokes, Grinderman, Hot Chip, LCD Soundsystem, Battles, Tindersticks, Gorillaz, Mão Morta, Massive Attack, Patrick Wolf, Liars, Four Tet, Black Rebel Motorcycle Club, Eels, Spoon, Groove Armada, Gang of Four, Xiu Xiu, The Magnetic Fields, Rufus Wainright, White Stripes, Cat Power, Fleet Foxes, Vampire Weekend, R.E.M., Kubik, entre outros.
A ver vamos se as altas expectativas se confirmam.

Elegia - Em Memória de Tarkovski


Como se filma um cemitério para honrar a memória de um artista? Que planos? Que montagem? Que música? As opções não devem ser fáceis de executar, de forma a não resvalar para o sentimentalismo fácil ou para uma estética demasiado formatada.
O realizador Marc Benería tentou e conseguiu levar a bom porto esta empreitada: esteve no dia 29 de Dezembro de 2008 no cemitério St. Genieve des Bois (Paris) a filmar uma curta-metragem em memória de Andrei Tarkovski. O realizador russo morreu nesse preciso dia, em 1986, e o simbolismo do momento terá pesado na hora de filmar.
Marc Benería teve a sensibilidade suficiente para fazer um pequeno e singelo filme em honra do grande artista russo. Nos 15 minutos da curta-metragem, intitulada "Elegia - Em Memória de Andrei Tarkovski", Pressente-se o olhar cuidado na selecção dos planos, no ritmo da montagem, na forma como as imagens vão compondo uma espécie de espaço plástico cujas imagens (a cores e a preto e branco) se tornam o cerne da estética. As folhas caídas, uma pedra tumular, gotas de água, ramos de árvores, os pormenores de um espaço aparentemente trágico e frio (como o cemitério), que nos recorda que somos todos mortais. Dá a sensação que o realizador andava à procura do espírito de Tarkovski nas pequenas coisas materiais e mundanas, à procura de sentido, de ordem no Caos. Não há morbidez nestas imagens, no sentido em que não se exibe a morte e o seu lugar.
Por vezes há uma voz off que recita umas palavras, por vezes há sons de uma flauta. Na segunda parte, surge uma mulher desconhecida que coloca velas na campa de Tarkovski, numa sequência que traz à memória do espectador a cena das velas do filme "Nostalgia" (1983).
Simplicidade, despojamento, imagens em poesia, num curto filme dividido em duas partes.
Aqui.
Nota - Para os interessados, há um Guia minucioso para visitar o túmulo de Andrei Tarkovski.

O Rei

O Rei começou com a sua primeira guitarra:
E acabou 42 anos depois:
E no meio, foi mais ou menos isto:
E isto (drogas consumidas pelo Rei):):
"Sex and Drugs and Rock 'n' Roll"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O projecto

Vai ser um dos meus grandes "projectos culturais" para este ano: completar a leitura das 840 páginas de "A Montanha Mágica" de Thomas Mann.

Haneke, Tarkovski, Dreyer, Bergman


O jornalista Rui Pedro Tendinha entrevistou para a revista Premiere o realizador Michael Haneke, autor de "O Laço Branco". Questionado sobre se este filme era uma espécie de "carta de amor" ao realizador russo Andrei Tarkovski, o cineasta austríaco respondeu desta forma: "Fico muito linsonjeado quando vejo os crítico dizer isto de "O Laço Branco". Tarkovski é um dos meus cineastas preferidos. Há também quem tenha comparado com Bergman, outro cineasta que amo, mas a verdade é que quando estou a filmar não me oriento neste sentido. Houve quem tivesse falado em Dreyer, mas aqui discordo. O meu preto e branco é inteiramente novo, é um preto e branco real em oposição ao preto e branco artifical e teatral de Dreyer".

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cinzas

8 estreias

Mais uma avalanche de estreias de filmes esta semana nas salas de cinema. Não são dois ou três, como era há uns anos. A desproporção entre a oferta e a procura é cada vez mais acentuada, mas parece que as distribuidoras não se dão conta disso. Agora uma semana sem meia dúzia de filme estreados, não é semana digna. Amanhã o espectador pode escolher entre - nada mais, nada menos - do que 8 filmes (ver aqui quais.)!
O que vale é que, à partida, só duas fitas interessam realmente: “O Sítio das Coisas Selvagens” de Spike Jonze e “A Estrada” (que ainda não vi mas tem excelentes críticas internacionais) de Jill Hillcoat, baseado no muito elogiado livro homónimo de Cormac McCarthy.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Momentos e Imagens - 52


Um jovem Leonard Bernstein em Nova Iorque

Leonard Bernstein e Maria Callas

Leonard Bernstein e Glenn Gould

Leonard Bernstein e Patti Smith

3 novidades sobre "Avatar"

1.
"Avatar" está a arrasar na bilheteira com mais de mil milhões de euros de receita até à data. Quando sair em formato DVD, daqui a uns meses, vai arrasar ainda mais. É que, segundo conta o jornal inglês Telegraph, na edição em DVD vão surgir cenas de sexo alienígena entre Jake Sully e Neytiri, os protagonistas principais. Segundo a actriz que interpreta a nativa do planeta Pandora, Zoe Saldana, a versão para cinema não inclui as referidas cenas de sexo porque se dirigia a um público familiar. A intenção parece digna, mas implica uma pergunta: e esse "público familiar" não terá acesso, com desarmante facilidade, ao conteúdo do DVD?
Quanto a mim, esta opção da inclusão das cenas de sexo no DVD cheira-me a manobra de marketing bem orquestrada, para incrementar as vendas do produto.
2.
Entretanto, para quem quiser aprender a língua inventada Na'vi poderá aceder ao site learnnavi.org, que ensina o vocabulário e a gramática criada especialmente pelo linguista Paul Frommer, da Universidade da Carolina do Sul.
3.
Surge uma corrente de opinião (fomentada por certa imprensa e produtores de cinema) que "Avatar" e "The Hurt Locker", de Kathryn Bigelow, poderão ser nomeados à categoria de Melhor Filme para a próxima cerimónia dos Óscares. Independentemente dos juízos de valor sobre as eventuais diferenças de qualidade entre ambos as fitas, a curiosidade seria o duelo entre dois realizadores - Cameron e Bigelow - que já foram... casados.

Discos que mudam uma vida - 89


Lamb - "Fear of Fours" (1999)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Camus


Albert Camus, 50 anos depois.

Mero revivalismo?

Há mais de um ano chamei o a atenção, num post intitulado "Os leitores são todos velhos?", para um fenómeno interessante na imprensa especializada em música: o cada vez maior revivalismo - para o bem e para o mal - de grupos e referências de outrora. A revista Blitz não é virgem neste capítulo, com chamadas de capa de grupos com 30 ou mais anos de existência (e alguns grupos até já inexistentes).
O último número editado desta publicação (actualmente nas bancas), volta a reincidir na mesma estratégia: os Queen, que foram capa há apenas um ano, voltam a sê-lo agora. Qual a razão? Voltarão a fazer capa da Blitz daqui a 6 meses ou um ano (os Led Zeppelin e os Rolling Stones também são referenciados na capa). A que leitores, afinal, quer chegar a revista? Pretende conquistar as novas gerações com nomes sonantes de décadas passadas ou recuperar leitores de gerações mais antigas que deixaram de comprar revistas e jornais?...

Cohen na voz de Lhasa

No dia em que se soube da morte da cantora Lhasa de Sela, presto a minha homenagem publicando um vídeo roubado, descaradamente, daqui. É que fiquei deveras impressionado com a versão de um dos meus temas preferidos do mestre Leonard Cohen - "Who By Fire". Conheço razoavelmente bem o trabalho da cantora e tenho o seu último disco, "Lhasa", que ouvi repetidamente ao longo do ano de 2009. A voz depurada e as fusões exóticas que fazia entre jazz, world-music, rock e electrónica valeram-lhe elogios de todo o mundo. Arrepiante:

Coppola e o 3D

O filme "Avatar" tem gerado muita discussão, num contexto que quase sempre enaltece os efeitos especais em 3D mas critica o argumento. É precisamente neste ponto que Francis Ford Coppola, com a sua experiência e lucidez (mas também algum exagero, diga-se), diz o que diz sobre o formato de três dimensões no cinema (numa entrevista conduzida por João Lopes aquando da passagem do realizador pelo Estoril Film Festival):

João Lopes: Sente-se atraído pelo formato de três dimensões?

F.F. Coppola: "Acho que é uma brincadeira. No essencial, o 3-D não mudou desde os anos 50, continua a ser com óculos. Não passa de uma tentativa patética dos estúdios para combater a pirataria, os downloads e outras formas de entertainment como o desporto. Alguém acredita que o 3-D pode melhorar uma má história?"
Entrevista completa aqui.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mais um filme para a lista


Como só agora vi e gostei, "Tetro" de Coppola entra directamente para a minha lista pessoal de melhores filmes de 2009. Uma bela experiência a preto e branco (a fazer lembrar o magnífico "Rumble Fish") sobre a desagregação familiar (tão cara ao realizador) que conta com notáveis interpretações de Vincent Gallo, Alden Ehrenreich e Maribel Verdú.

Um olhar sobre o mercado do livro


O jornal Expresso publicou o habitual balanço do ano nas várias áreas culturais: música, dança, cinema, literatura, artes plásticas, etc. Em cada área temática os jornalistas especializados discriminaram as suas escolhas, acompanhadas de uma breve sinopse. Na categoria dos livros, achei particularmente interessante a análise do crítico Vítor Quelhas, que resume, quanto a mim na perfeição, o actual estado do mercado do livro, afirmando o seguinte:

"A avalancha de novas edições, invadindo o mercado nacional, continua a um ritmo alucinante. Todavia, este é pequeno e a crise está aí para durar, sendo tolos aqueles que acreditam que a recuperação pode ser tirada da cartola. Calcula-se que a nível global, a cada 30 segundos, um novo livro é colocado à venda. Mas, se fizermos as contas, 20 por cento da população adulta mundial não sabe ler nem escrever e mais de 60 por cento não tem dinheiro para comprar um livro nem vida para o ler. Por cá, 18 por cento dos portugueses vivem abaixo do limar da pobreza e ainda existe um milhão de analfabetos. Os bons títulos escasseiam, os maus abundam, e a máquina continua a bombar. Tudo no nosso mercado do livro está cada vez mais parecido a uma Dona Branca, ou pior, a um Madoff. O tempo o dirá..."

sábado, 2 de janeiro de 2010

Música pelas barbas

Que ligação tem a música independente (sobretudo indie rock e folk) com o uso de barbas grandes dos músicos? Aparentemente, muita, tendo em conta este artigo do Times Online. O artigo assegura que alguma da melhor música que se faz agora é criada por músicos com barbas generosas. E que as barbas são, novamente, cool.
Claro que antes da nova geração, muitos músicos famosos usaram barba - Beatles, Doors, Robert Wyatt, ZZ Top (o português António Variações), etc. Mas nos últimos anos a moda da barba voltou em força, como imagem de marca, como sinal de maturidade e de diferença. E não falo da barba rala de 8 dias que qualquer músico de 20 anos gosta de ostentar. Falo da barba longa e farta de meses, orgulhosamente à eremita. Eis alguns músicos da nova geração que cultivam esta imagem:
Neil Fallon (Clutch)
Doug Martsch (Built to Spill)

Will Oldham
Warren Ellis (Grinderman)
Andy Williams (Everytime I Die)

Jarvis Cocker

Eels

Fleet Foxes

Devendra Banhart

Iron and Wine

"O Padrinho" em três noites


Qual é a melhor trilogia de sempre da história do cinema? Se tiver de responder, direi sem hesitar - "O Padrinho" de Francis Ford Coppola. Um amigo próximo disse-me que uma das maiores experiências que já teve a ver filmes foi visionar, em três noites seguidas, os três filmes da saga da família Corleone. Garantiu-me que foi uma experiência fulgurante presenciar, em apenas três dias, a trilogia de Coppola. Vendo-a de seguida, não se perderam os pormenores da história, não se esqueceram os diálogos e episódios que condicionam a evolução dramática dos três filmes e a experiência de visionamento tornou-se altamente enriquecedora.
Curiosamente, lembro-me bem quando estreou em sala de cinema o "Padrinho III", em 1990. Um outro meu amigo não tinha visto os dois filmes anteriores. Então, foi ao videoclube alugá-los em cassete (no velho formato VHS) e visionou-os em duas noites em casa. Na terceira noite foi ao cinema ver o terceiro filme de Coppola e a experiência, garantiu, foi altamente gratificante.
Por isso, se um dia me apetecer rever a trilogia épica de Coppola, há-de ser desta forma: visionar os três filmes de rajada, em três noites consecutivas. E na quarta noite, ver os extras da edição especial em DVD.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Bodyspace - o amor à música


É um caso raro de puro amor à música em Portugal: um site que existe há sete anos e que tem evoluído de ano para ano. Claro que há mais sites dedicados à música, mas não há nenhum com as características do Bodyspace, um espaço virtual de absoluta referência na divulgação de novas músicas pop, rock, electrónicas e experimentais. Coordenado por André Gomes e contando com um leque de colaboradores de cerca de 20 jovens que se dedicam com alma à causa, o Bodyspace tornou-se num caso sério de promoção da música. Ninguém ganha dinheiro com o projecto, mas como refere o editor André Gomes numa entrevista ao Jornal de Notícias, "há alguma teimosia que advém do facto de estarmos verdadeiramente nisto por devoção à música e à divulgação dela".
Nada no Bodyspace parece amador. Pelo contrário, o design gráfico do site, a organização e diversidade dos conteúdos, as entrevistas, as críticas aos discos, as notícias e artigos, e o trabalho desenvolvido revelam um profissionalismo e uma dedicação ímpares no panorama da comunicação em Portugal. A qualidade é um critério manifesto que salta à vista em todas as facetas do projecto Bodyspace, para além do facto de haver uma especial atenção às novas tendências da música portuguesa.
Músicos, editoras, jornalistas e amantes de música ajudaram a credibilizar o Bodyspace como um dos grandes projectos referência na área da divulgação de música em Portugal. Tanto é assim que um dos momentos mais aguardados em cada novo final de ano é a selecção dos melhores discos nacionais e internacionais (que se encontra na primeira página do site).

Os filmes russos

O site List Universe publicou uma lista com os melhores filmes russos de sempre. Tarefa ousada e difícil, dada a qualidade do cinema daquele país. Fiquei surpreendido por ver "Solaris" de Andrei Tarkovski em primeiro lugar. Não só porque não é habitual, no círculo de críticos de cinema, que "Solaris" seja considerado o melhor filme de Tarkovski; e porque este título ficou à frente de "O Couraçado Potemkine", considerado historicamente como o melhor filme russo (soviético) de sempre. A lista pode ser consultada aqui.

Se eu tivesse que seleccionar os meus filmes russos preferidos, escolheria estes (com um critério - escolher apenas um filme por realizador):

1 - "O Couraçado Potemkine" (1925) - Sergei Eisenstein
2 - "Stalker" (1979) - Andrei Tarkovski
3 - "Vem e Vê" (1985) - Elem Klimov
4 - "O Homem da Câmara de Fimar" (1929) - Dziga Vertov
5 - "Mãe e Filho" (1998) - Alexander Sokurov
6 - "Mãe" (1926) - Vsevolod Pudovkin
7 - "Felicidade" (1932) - Alexander Medvedkin
8 - "A Balada do Soldado" (1959) - Grigori Chukhrai
9 - "Quando Passam as Cegonhas" (1958) - Mikhail Kalatozov
10 - "O Regresso" (2003) - Andrei Zviaguintsev

Perguntas indiscretas - 16


Porque é que só na época festiva do Natal e do Ano Novo é que é possível ver na televisão (RTP), em horário nobre, concertos de música clássica? E porque é que o repertório das orquestras é sempre baseado em peças clássicas de Johann e Richard Strauss?