domingo, 26 de outubro de 2008

A música num conceito comercial diferente



A música nas lojas comerciais é quase sempre utilizada de forma absolutamente aleatória e sem critério (ou seja: a metro). Entra-se numa loja de roupa de marca e o que se ouve, invariavelmente, é música tecno em alto volume. Entra-se numa loja de decoração e a experiência é a mesma. Isto quando não existe um LCD pregado à parede a debitar incessantemente videoclips da MTV. Já me aconteceu sair de uma loja por não aguentar a música (o volume ou o estilo), como na Worten e na Electric Co. do Feira Nova (nesta última costuma passar em altos berros música pimba, fenómeno que afugenta muita clientela).
Apesar da música ser passada nas lojas comerciais sem quaisquer critérios (sejam eles quais forem), há ainda algumas excepções. É o caso da loja Natura, especializada em artesanato do mundo. Em qualquer centro comercial há, habitualmente, uma loja Natura (conhecida também por ter um urso em tamanho real à porta). O cliente sabe que esta loja é especial e diferente de qualquer outra. A decoração do espaço, os agradáveis aromas do ar (devido às fragrâncias e velas que a loja vende), a cor e a iluminação e, sobretudo, a música, ajudam a criar um conceito de identidade comercial muito próprio. Os técnicos de comunicação e marketing souberam trabalhar a imagem desta loja, porque todos os pormenores são importantes. Mas eu queria realçar a importância que a música desempenha para o espírito da Natura: sempre que entro numa destas lojas a música que se ouve é sempre excelente e adaptada ao conceito da loja. Como a Natura vende essencialmente produtos e objectos (decoração, roupa...) de raiz tradicional e étnica (a filosofia oriental é subjacente ao espírito da Natura), a música faz jus a esse espírito. O cliente frui todos os estímulos, visuais, olfactivos e auditivos (vivemos o apogeu do chamado "neuromarketing"), pelo que os responsáveis da Natura sabem que todos os elementos são importantes para cativar o cliente. Daí que a música que se ouve na Natura - e num registo de volume sempre adequado ao espaço físico - é a música referente a múltiplos estilos de música do mundo, designadamente, do Médio Oriente, da Ásia e de África. Outras vezes ouve-se a fusão dessas músicas étnicas com electrónica e pop.
Outra ideia interessante: a loja coloca sempre em cima do balcão o CD que está no momento a tocar, disponibilizando-o ao cliente caso o queira consultar. Foi o que fiz. Muito agradado com a música que estava a ouvir e que desconhecia, dirigi-me ao balcão e solicitei o CD. E assim fiquei a conhecer um músico que de outra forma, provavelmente, não conheceria noutras circunstâncias (uma vertente que se diria didáctica): Issa Bagayogo, músico e tocador de Kora (herdeiro do grande Toumani Diabate). Aliás, no site da Natura (acima linkado), encontra-se disponível a criteriosa selecção musical que passa nas lojas de todo o mundo.
A loja natura é um oasis nas lojas comerciais que proliferam, de forma indistinta, nas catedrais do consumo. Uma loja que defende uma identidade, um conceito e uma filosofia de vida (com preocupações ambientais e ecológicas) como o interessantíssimo movimento slow.
PS - Não tenho comissão na promoção desta loja comercial.

6 comentários:

Flávio disse...

cara,valeu a dica do disco do trevor dunn,nem sabia que ele tinha esse trio nao..linkei teu blog la no meu..blz?força aí

Beep Beep disse...

Por cá a martelada tem sido substituída nas lojas de roupa por r&b e até coisas como Andrew Bird ou Rufus Wainwright.

Anónimo disse...

Infelizmente, na minha opinião, o panorama na rádio é idêntico.
Estou sempre a mudar de estação à procura de música que não me flagele os ouvidos.

::Andre:: disse...

Concordo, tópico merecido.

Destaco também a Pull & Bear que raras são as vezes em que não se ouvem uns temas de Radiohead, Anthony & the Johnssons, Grandaddy, por exemplo...

João Lisboa disse...

Sobre o "neuromarketing":

http://lishbuna.blogspot.com/search/label/neuromarketing

Unknown disse...

Obrigado João Lisboa.