segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um coração (bem) selvagem


Este é um dos casais mais fleumáticos e sensíveis do cinema das últimas duas décadas: Sailor e Lula, interpretados por Nicholas Cage e Laura Dern, respectivamente. São personagens envoltas num fogo incandescente de paixão, amor e loucura no filme "Wild at Heart/Um Coração Selvagem" (1990) de David Lynch. Um casal à beira do abismo numa alucinogénica aventura em forma de "road movie". Quando estreou no cinema, vi-o duas vezes seguidas para sentir toda a intensidade de cada imagem, de cada som (o fósforo a arder com a intensidade de um tufão!), de cada diálogo - e raramente Lynch filmou diálogos tão brilhantes como neste filme. Nicholas Cage e o seu casaco de pele de cobra ("este casaco representa a minha crença na individualidade e na liberdade!"), Willem Dafoe como o anjo negro Bobby Peru e a música vibrante durante todo o filme - salta do heavy-metal para o jazz, do rock 'n'roll para a clássica. Sem esquecer Elvis Presley e a memorável canção final "Love me Tender" dedicada a Lula.
E a violência. A violência que brota do momento mais inesperado e insuspeito. Uma violência insana, como nos habituou Lynch em tantos outros filmes. Basta ver os dois primeiros minutos de "Um Coração Selvagem". Em pouco mais de 138 segundos, logo após o final do genérico, o realizador expõe todo um programa de violência visual que incomodou tanta gente à altura da estreia. E veja-se (ouça-se) como Lynch transforma o ambiente inicial que se julga pacífico e inconsequente (com um clássico do jazz de fundo), para uma cena de terrível brutalidade ao som de uma banda de heavy metal. É Lynch em estado puro e duro:

2 comentários:

Anónimo disse...

Um filme delirante e avassalador. É o meu Lynch preferido (talvez com Blue Velvet) e cada vez que o vejo parece-me uma autêntica montanha russa. Belo texto e belo resumo do filme que o Victor escreveu.

Ivo disse...

devo dizer que só vi o filme à bem pouco tempo qd o comprei em dvd com o 'lost highway'; e fiquei pasmado com a maneira como o david lynch manipulou a música/som com as imagens (o já referido som do fósforo a acender, o cigarro a queimar, etc...) e mais umas quantas sequencias musicais memoráveis. não me lembro mesmo de outro filme em que a música tivesse tanto impacto no que se vê. está genial!

surpreendeu-me pela positiva o 'wild at heart'; já em relação ao 'lost highway' não posso dizer o mesmo.